quarta-feira, 30 de maio de 2012

Mudanças






Por aqui mudou muita coisa.Costuma-se dizer que quando não estamos bem, devemos procurar a mudança que nos fará ficar melhor.
E foi isso que aconteceu.

Não é novidade, que este ano a equipa que calhou em Lichinga , neste projecto,não é a melhor...de todo e de longe, é uma equipa.Cada um por si e pouco trabalho se vê.
Diversão muita, até demais.E melhor será não revelar a que ponto as coisas chegaram.Uma vergonha, para esta instituição.
Para além disso, os problemas de segurança nesta casa, clamam há muito uma solução.Uma coisa chama a outra e quem se dá com quem não deve, atrai tudo o que é menos bom.Fama então...já caiem pelo chão nesta cidade.
Por este conjunto de motivos,por momentos pensei ir embora, deixar tudo...voltar ao meu mundo de sempre, voltar aos lugares e ás pessoas que me amam no meu País.
Na casa onde estava, não existia segurança e ainda mais grave confiança, para ficar.
Arrumei as minhas coisas, despedi-me de todos os queridos amigos e alunos, que me queriam sem dúvida por aqui e parti rumo ao aeroporto.
Passei na escolinha e deixei para trás, alunos e titias a chorar.Percebi que afinal, uma pessoa pode valer por três, quatro ou cinco.E muito mais.Que tudo o que vivemos, juntos, como equipa e escola, falava mais alto.Parti no entanto.Foi um momento duro.
Chegando ao check in, parecia um filme.Tudo a indicar a partida, menos o meu coração.
Mas alguém que me quer muito aqui, alguém que criou este projecto,alguém que acredita tanto no meu trabalho e na minha pessoa...olhou-me nos olhos.Pela minha cabeça passou um filme de tudo o que já vivi aqui, os rostos, as músicas, as viagens, o lago, os konguitos,a Benedita...desliguei por instantes.
E estes minutos,mudaram o rumo de tudo.
Já com as malas prontas...bilhete na mão,em plena sala de embarque, desisti.Cancelei ali mesmo a viagem, para Novembro e...voltei para trás.A irmã Ferreira não cabia em si de contente.Até conduzia mais depressa.
Desistir??Não é para mim.Se eu queria ficar, não podia ir de forma alguma, contra mim mesma.
Baixar os braços??Por causa seja do que for nunca o hei-de fazer.Desistir é para os fracos, não para os fortes.
Dizer que não aguento mais?Aguento, sempre mais um pouco...afinal.Bem mais do que posso imaginar.A vida vai-nos mostrando o nosso nível de resiliência.E acabo de constatar que o meu está elevado.Depressa me adapto a novas situações.Não é a primeira vez que vivo longe de casa, e mudo de cultura.
Não me lembro de ter desistido de nada na minha vida.Sempre que me propus a um objectivo ele foi cumprido.A mim basta-me querer.E quis tanto continuar a amar estes Konguitos, por eles e por mim mesma,fiquei.

E aqui estou, agora numa casa, maior, com um jardim maravilhoso...imensos cães que durante a noite não deixam entrar nem um rato no jardim.Temos também 2 guardas que nos vigiam o sono.Da minha secretária,onde escrevo agora, vejo uma machamba repleta de cores e pessoas que ganham o seu pão, fazendo nascer alimentos que nós, todos os dias comemos.O cheiro do café inunda a casa,e os meus sentidos,café bem puro, plantado aqui mesmo.Há um clima de paz...e o melhor é que estou bem no centro da cidade, pertinho da minha antiga casa.Que por estes últimos tempos, era tudo menos uma casa.
Casa, é onde nos devemos sentir seguros, confiantes e em paz.Tudo isso foi quebrado.Mas como eu entendo que a vida nos restitui tudo o que nos levou, de uma forma ou de outra, estou agora a recuperar esse tempo.Com um sorriso, no rosto e na alma.Posso dizer, VENCI.Venci o medo, a incerteza, venci quem me tentou tirar daqui, por querer aquilo que não é e nunca será seu.Ninguém e nenhum acontecimento, comanda a vida de ninguém, tanto como a própria pessoa.
Faltam ainda 6 meses de pura felicidade e partilha, com os Konguitos, os amigos que fui fazendo nesta cidade, que em massa, vieram ao meu encontro celebrar a minha decisão de ficar.Já sou um pouco do Niassa.E é nestes momentos que fica provado os laços que fizemos, a força que têm e a força que nos dão.
Depois de tudo isto passar, ás vezes penso, como pude eu pensar em desistir?Eu vou, faço e sigo somente o meu coração.E a verdade é que ele me leva para o sítio certo.Sem margem para dúvidas.Por momentos fui racional.Mas a emoção falou mais alto.
Na escolinha, ainda hoje, passado uma semana desta tempestade, recebo abraços que me dizem sem palavras:"QUE BOM QUE NÃO DESISTISTE DE NÓS, AQUI É O TEU LUGAR!".

Ao ficar aqui, deixo para trás outras coisas, em Lisboa.Lá também já tinha a família e uma legião de amigos de braços abertos á minha espera.E agradeço por isso.Mas vocês que me conhecem sabem de que fibra é feita a Rita Ramalho.Eu vergo, mas não parto.Confirma-me a vida.E como as árvores hei-de morrer de pé...e que ainda depois de morrer, as árvores, são úteis e deixam marcas.Sabendo que cumpri a minha missão até ao fim.Da melhor maneira que pude e consegui.Dando o máximo.Sem reservas.Com bravura e coragem...que na altura certa nos inunda o corpo e a alma.
É assim que se escreve a história de uma vida.Porque nada é perfeito...e nada é certo.Mas só nós podemos, se quisermos, mudar o curso natural das coisas...para melhor.Eu quero, eu luto ,logo eu posso e faço acontecer.Das coisas mais simples ás mais difíceis.
O trabalho, não falta...e novos desafios se avizinham.E porque a força do recomeço nos impele como nenhuma outra, agarro cada dia, com aquela cor e energia que me caracterizam...e tudo por Amor.
Aquele que me move desde que me conheço...

=)


PS.Ao que parece, nas linhas aéreas de Moçambique ainda caíram telefonemas, a perguntar se o voo tinha sido cancelado?
Fui eu que o cancelei,mas ele partiu e eu... fiquei.


sábado, 19 de maio de 2012

As coisas simples.






As que mais gosto.As que me enchem.As que procuro constantemente.
Acordar com sol na janela.Ter dois meninos pendurados no parapeito, para dizer bom dia.Ver uma borboleta de cor única e pensar que veio só para eu a ver.Ter a Ritinha nos meus braços e vê-la crescer (e chorar também!)
Ter o quintal cheio de criançada a rebolar na relva, a cantar,dançar e a sorrir.Um bolo e o cheirinho que deixa pela casa.Café.Uma leitura antes de dormir.Mergulhar no mercado e encher os sentidos de cores, cheiros, sabores.Comprar uma mão cheia de amendoins e vir a comer para casa, deitando as cascas pelo caminho.Ver os meus alunos a ler as primeiras, letras, palavras, frases.Passo a passo.Do velho fazer novo.Fazer alguém feliz, dando-lhe o que nunca teve,uma casa.Vencer os obstáculos com muita classe e sem medo algum!Saber discernir o que me faz de facto falta...ou não.
O prazer simples de estar viva e trazer vida aos que me rodeiam.
Viver é uma peripécia. Um dever, um afazer, um prazer, um susto, uma cambalhota. Entre o ânimo e o desânimo, um entusiasmo ora doce, ora dinâmico e agressivo.
Viver não é cumprir nenhum destino, não é ser empurrado ou rasteirado pela sorte. Ou pelo azar. Ou por Deus, que também tem a sua vida. Viver é ter fome. Fome de tudo. De aventura e de amor, de sucesso e de comemoração de cada um dos dias que se podem partilhar com os outros. Viver é não estar quieto, nem conformado, nem ficar ansiosamente à espera.
Viver é romper, rasgar, repetir com criatividade. A vida não é fácil, nem justa, e não dá para a comparar a nossa com a de ninguém. De um dia para o outro ela muda, muda-nos, faz-nos ver e sentir o que não víamos nem sentíamos antes e, possivelmente, o que não veremos nem sentiremos mais tarde.
Viver é observar, fixar, transformar. Experimentar mudanças. E ensinar, acompanhar, aprendendo sempre. A vida é uma sala de aula onde todos somos professores, onde todos somos alunos. Viver é sempre uma ocasião especial. Uma dádiva de nós para nós mesmos. Os milagres que nos acontecem têm sempre uma impressão digital. A vida é um espaço e um tempo maravilhosos mas não se contenta com a contemplação. Ela exige reflexão. E exige soluções.
A vida é exigente porque é generosa. É dura porque é terna. É amarga porque é doce. É ela que nos coloca as perguntas, cabendo-nos a nós encontrar as respostas. Mas nada disso é um jogo.

A vida é a mais séria das coisas divertidas.

Então, eu vou-me divertir sempre com tudo o que existe de mais simples.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Se esta rua fosse minha...




"Se esta rua, fosse minha, eu mandava-a ladrilhar, só para o meu amor passar." diz a canção dos Orquestrada...



E o meu amor, passa mesmo por aqui.
E esta rua é mesmo minha...é aqui que eu vivo, já lá vão 8 meses e viverei mais 6.
Por aqui, estão gravados momentos que vou guardar para sempre.Nesta rua, aconteceu, acontece e vai ainda acontecer, tanta magia.Sempre que eu queira.Melhor ainda é quando acontece inesperadamente.
O simples facto de acordar todos os dias e olhar lá para fora, para ver como está o tempo...e logo me aperceber do movimento de capulanas que se cruzam coloridas, de crianças vestidas de azul (uniforme escolar...) que correm para a escola, só isto já a torna especial.Logo penso, o quanto desejei estar aqui e como é bom que esta rua seja, a minha.
Desde as tardes de conversa nas escadas,desde os almoços e jantares no alpendre,desde as entradas em casa carregada de compras ao simples sair cá fora,apenas para respirar ou sentir como flui o movimento e a luz do fim do dia.
Esta rua, é calma, mas nem sempre.Gosto desse contraste que por vezes acontece.Depende dos dias.As noites, essas são tranquilas.
É perfeita para mim.Com cada buraco, cada árvore...a minha rua.
E na minha janela...aparecem sempre surpresas.
As melhores, para além de alguns pássaros que cantam e borboletas que de cores estonteantes,são a visitas quem rompem pelo quintal aos gritos:"Tia Riiiiitaaa!!!!Titia..." e só se calam, quando abro a cortina e lhes dou atenção.
Vêm em busca de brincadeira, risos, cantigas e no tempo dos maracujás, de levar uns quantos, mesmo que ainda estejam amargos.
Só o subir á árvore é uma aventura, que não podem deixar de viver.
Estes meninos não me arrancam só risos,mas sobretudo sorrisos.São uns castiços ao ponto máximo.
É de cair para o chão, de tanto rir.Cantam na janela...rebolam no chão, pedem mais uma foto...e um beijinho, mais um abraço, uma gargalhada, querem aprender a dançar,perguntam o impensável.
São crianças.São livres.São felizes.É por isso que no meio deles...sou eternamente criança também.
E feliz.E livre.Será que algum dia vou conseguir deixar de o ser?Conheço a resposta, faz tempo.
Quando olho para eles, a sorrir, penso nisso.Penso que no seu mundo, tudo é tão simples.Nada se complica.Nada fica por dizer.
Hoje, quiseram acompanhar-me até ao mercado.Ia eu, pelas ruas, com uma fila de konguitos atrás de mim...como se eu fosse a mãe.A mais pequenina, pela mão.Lembro-me que em todas as lojas que conhecia alguém, parámos para cantar.
E o efeito foi mesmo esse, deixar por onde passávamos, sorrisos.Lá mergulhei no mercado com todos eles...precisava de côco, farinha e óleo.Os olhos deles por trás das bancas...a apreciar cada movimento meu.Parámos mil vezes, para ver as capulanas, as missangas para trancinhas, os doces...um mundo ali dentro.A ansiedade deles e a disputa,para poder ajudar a carregar os sacos.
E finalmente, no regresso a casa...chegámos á esquina onde nos separamos.Eles para o bairro e eu para casa.
Depois de 1000 beijinhos, abraços e brincadeiras...



Disseram-me:"Tia Rita, até amanhã...havemos de vir na tua casa, de novo."
Respondi:"Ok.Vou esperar.Vou ter saudades de vos ouvir gritar!"
Eles:"Vai ter saudades, nossas??Tchiii Mentira..."
Eu:"Saudades, sim.E vou ficar triste...só de ir este bocadinho sozinha, até casa."
Eles:"Havemos de vir...porque tu nos animas titia!"
Eu:"..."



Não fui capaz de dizer mais nada.
Ouvir isto, no fim de um dia...no fim de alguns meses conturbados, por diversas razões, é tão bom.
Continuei o meu caminho até casa, devagar e em silêncio.
Até agora, estou a pensar nisto.A vida inteira, hei-de pensar.
E se querem que vos diga, o sentimento ainda que por escassos metros,foi o de vazio, fiquei mais triste sem eles...ali ao meu lado a gingar de xinelos no pé.E as saudades, essas também são reais.
Mal posso esperar que chegue amanhã...para os ver de novo pendurados na janela, chamando-me, para ser criança.



quinta-feira, 10 de maio de 2012

Parabéns, Mana Anabela!









A minha mana Anabela.
Mais uma irmã que a vida me deu.
São tantos os momentos felizes, de plena cumplicidade, de plena intuição, partilha...pura alegria.
São tantas as pontes construídas e edificadas para sempre.
Custou-me singir-me a um só momento, a um só sorriso.
Por isso escolhi vários, felizes, únicos, inesqueciveis.Eternos.
Há palavras proferidas, que fizeram e ainda fazem toda a diferença.
Uma irmã, que é a última a ver-me partir, com os olhos rasos de água, a desejar do fundo do coração que tudo corra pelo melhor.Uma irmã que é a primeira a receber-me de braços abertos em Lisboa, ou noutra parte do mundo.Quer ser a primeira a abraçar-me, seja madrugada ou não, sei que, com aquele sorriso é certo que posso contar.
As distâncias encurtam-se.Envia-se de Lisboa, via qualquer parte do mundo, o que for preciso, com direito a mimos.Só se não puder.
Tem uma fé enorme, naquilo que eu sou capaz de fazer e mudar neste planeta.Tem uma força, sempre presente e um carinho que me alimenta.Sente quando não estou bem.Repara em todos os detalhes,os que escapam á maioria.
É um exemplo como mãe.Muito me inspira a ser mãe e a amar assim.É uma mulher atenta, criativa que mantém viva a criança interior.
Mas falando da alegria, essa é imcomparável, quando nos juntamos.(As gargalhadas em plena cidade de Istambul, chocavam até os mais extrovertidos.)É de fugir, quando começamos a gargalhar.
Uma viagem, uma aventura.Uma surpresa tão boa de descobrir.
A magia das coisas é-nos comum.Principalmente das pequenas coisas.
A cor que isso nos traz.A energia que fica.
Claro que falando da Anabela, não podia esquecer, o suporte que está por trás,uma família linda.Uma Carolina cheia de vida, um Francisco bem peculiar e interessado pelo mundo e um marido Jaime que é um braço direito em tudo.Toda a família me inspira e orgulha de a ela pertencer.
Celebro a sua vida, como boa parte da minha própria vida.
Parabéns Anabela e um abraço daqueles, carregadinho de saudades daquelas que apertam tanto,tanto.
Até breve.

Tua mana, Rita

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Um amor chamado Marcos.













Este Amor, é antigo.
Foi o primeiro amor na escolinha.O olhar que logo me captou.Estava atento, na entrada da escola.
Fixou-me com aqueles olhos grandes, expressivos, transparentes.Perguntava-se certamente quem eu era?Como faz com qualquer pessoa nova que ali chegue.
Logo lhe sorri e recebi um abraço apertado, pela altura da minha barriga.Já não dei um passo.Fiquei ali,presa ao chão e abracei também.Foi dos abraços mais verdadeiros e sentidos que recebi.(A fazer lembrar os abraços do Deodato...)
Desde então tem sido sempre assim...todos os dias, aquele sorriso me recebe no portão, me carrega a mala,me vem dizer um olá a meio da manhã, entra na minha sala e sai a qualquer hora, sem precisar pedir.Grita lá fora, para que saiba que anda perto.Vigia e segue os meus passos.Faz-me rir como ninguém...mais.
Quando estive em Portugal, pensava nele, como estaria, se tinha fugido mais alguma vez de casa?Sorria só de pensar na possibilidade de o reencontrar.
O Marcos é simples, muito simples.Vagueia descalço por ali,o ranho sempre lhe escorre pelo nariz,a roupa sempre se rasga e suja, tudo o que encontra coloca na boca, uma pedrinha na mão, faz a sua felicidade, imaginando que é algo precioso.Um bocado de barro, logo ganha vida, sendo um telemóvel, ou uma máquina fotográfica, por onde fala e capta o mundo.Ele sonha e voa na sua liberdade.Nem podia ser de outra maneira, fica-lhe bem.
 O Marcos é "diferente" dos outros meninos e todos sabem isso.Todos nutrem por ele um carinho especial.Ele próprio, sabe que tem outra liberdade e espaço, que lhe é concedido.Embora as regras lhe sejam passadas como a todos.É livre.O aluno mais livre da escolinha.Arriscava a dizer o mais sensível e intuitivo.Para mim o mais bonito, em todos os sentidos.A beleza vem de dentro, passa por todos os poros, sente-se no toque.
Quando me passa a mão, docemente pela cara sinto, que já me conhece,que me estima á sua maneira inocente e genuína.Sabe quando venho mais triste ou cansada.Pressente.Porém quando me vê explodir de alegria, junta-se á festa, olhando-me sem parar, para me dizer, estou contigo.
Lemo-nos.Ilumina-se o nosso rosto, quando nos avistamos ao longe.
E quando isso acontece, é Amor.
Há amores assim, de palmo e meio que vão durar o resto da vida.
Porque qualquer amor é eterno e se o foi...será sempre.


sábado, 5 de maio de 2012

Black and white





































Somos feitos da mesma matéria.
Amor.
A preto e branco, pode ver-se toda a cor que nos habita em momentos como este.Por dentro.Onde ela nasce.A cor.
Somos um.

1º Maio


















Dia do trabalhador.Feriado, também em Moçambique.
Soube tão bem a meio da semana, dormir mais um bocadinho, tomar banho com a devida calma, cuidar de mim.Tomar o pequeno almoço na rua...ir ao mercado pela manhã,apreciar frutas e legumes da época, olhar cada banca.Beber um café com toda a calma e conversar.Para terminar, uma sardinhada, entre amigos.Uma  Moçambicana e um Americano.
Tive tantas saudades dos sabores de Portugal...e das sardinhadas que o meu pai tanto gostava e tão bem fazia.Pois saíram perfeitas.Com direito a batata a murro e uma saladinha de tomate.Tudo regado com azeite Português, ficou divino.As sardinhas eram congeladas, mas o sabor era o mesmo.
Para a Conceição e para o Jonathon, foi a primeira vez que comeram sardinhas assadas á moda Portuguesa.Adoraram.
Relembrei os santos populares...e por estarmos a comer na rua, ainda soube melhor.A tarde passou calma, e ali estivemos até ás 17h.Quase até o dia se esconder.Muita conversa...divagações.
Foi "A" paragem, para quem trabalha uma semana inteira.

Sonho, com a sardinhada em Portugal...junto ao mar ou num bairro típico de Lisboa, iluminado por balões de Stº António...e depois lembro-me, que chego ao meu País apenas em Novembro...pleno Inverno pronta a abraçar os 31 anos.
Sniff.














Ritinha













A Ritinha, anda pela escolinha.Agora vejo-a todos os dias.
Agora que a mãe já vem trabalhar, passa o tempo nas suas costas, a dormir.
Também eu aprendi a fazer "neneca", ou seja, a trazer nas costas uma criança, de forma segura.Todas as mulheres em África, o fazem...e assim, estas crianças passam os primeiros tempos de vida, até saberem andar.
A Ritinha, passou boa parte de uma manhã nas minhas costas e esteve tão confortável.Dormiu, refilou,fez-me festinhas nas costas, puxou pelas minhas tranças...e o melhor de tudo é sentir o seu coração a bater junto ao meu.Cantei...e ela sentiu.
As suas expressões vão mudando...vejo-a expressiva e cada vez mais linda.Quando me for embora, a Ritinha terá 9 meses...até lá, vou vendo este milagre que é crescer.Estamos ligadas para o resto da vida, pelo nome e muito mais.
Quando tiver um filho, vou andar com ele assim,nas minhas costas e regaço, com capulanas lindas que hei-de trazer daqui...a fazer lembrar estes dias maravilhosos no meu, Moçambique.
Tanto, que ficará.




Mbuna bay, day 3












































Acordei, sabendo, que seria o último dia no meu paraíso.
Os mesmos rituais.O mesmo chá, o mesmo mergulho.A mesma caminhada na praia.
Agora de energias renovadas.Pronta para voltar á luta diária da cidade de Lichinga e da nossa escolinha.
Acabei as páginas do meu livro.Passei a manhã ao sol e a nadar.Aquela água tão pura e tão azul, que me vai deixar ansiosa num regresso.
Foram dias de uma paz tão única, tão necessária, para prosseguir o caminho.Foram dias de mim para mim e ainda assim partilhados com quem se cruzou comigo.Na medida certa.
Há locais eternos...há uma luz que fica, um aroma e uma energia tão boa, que me impele sempre a voltar.
Depois do almoço e das despedidas a todos os que fazem parte desta maravilhosa equipa, fiz-me á estrada de alcatrão...deixando ainda, a Finlândia, a Holanda e a Suiça, numa caminhada beira lago.Fiquei a vê-los partir...e parti eu também, pela minha estrada,rumo á minha missão.
E tinha, tanto sol na alma e no coração, que mal podia explicar.Lia-se nos olhos.
Murmurando..."até breve Mbuna Bay".