terça-feira, 25 de novembro de 2014

23 de Novembro de 1981 - 23 de Novembro 2014








































































Passamos a vida tão ao de leve, tão preocupados com coisas mundanas, com as contas, com os horários, com o que os outros pensam, com o que é que se tira para o jantar, com aquele berbicacho que temos de resolver até ao dia seguinte, que nos esquecemos do que realmente importa. De quem realmente importa.
Só as tragédias nos espicaçam durante uns dias. Nesse período, prometemos a nós próprios que vamos ser pessoas melhores, que vamos preocupar-nos mais com os outros, que vamos telefonar mais vezes aos pais, aos avós, aos amigos, que vamos cumprir aquela promessa há tanto tempo adiada. Prometemos tudo isto, para logo a seguir sermos novamente engolidos pelo quotidiano e atirados a um mundo que não está feito para contemplações. Um mundo que não nos dá tempo para pensar, que não nos dá tempo para tudo o que um dia gostaríamos de fazer ou dizer. E, quando mais de 90% da população luta para sobreviver, é quase um insulto pedir que sejamos mais contemplativos e olhemos para as pequenas coisas poéticas que a vida nos oferece. A poesia não paga as contas, não cumpre os horários, não faz o jantar.

Mas então acontece uma tragédia. Um acidente, uma doença, uma injustiça. Um segundo que nos rouba o chão, que nos traz o desejo doloroso de ter tido mais um dia, mais um abraço, mais uma palavra sussurrada ao ouvido. Nessa altura, o que nos resta senão as tais coisas poéticas? Quando não há um corpo, quando não há vida, matéria, substância, persistem as recordações e a culpa por todos os minutos que perdemos a pensar nas contas, nos horários e nos jantares. Porque, por muitas voltas que a vida dê, por muitas obrigações que o mundo nos imponha, são as pessoas que nos dão sentido. Pessoas que merecem ouvir todos os dias o quanto são importantes na nossa vida. Todos os dias. Não apenas nos dias das grandes alegrias. Ou das grandes tragédias.



Foi um dia de chuva.De aconchego, de chá, de rostos que amo...foi perfeito assim.






sábado, 22 de novembro de 2014

Sobre o Amor dos 33.








Há um tempo para tudo. E as coisas só começam a correr mal quando misturas tudo. Precisas de te rodear das pessoas certas, das influências adequadas. Precisas de aprender a permeabilidade, a modelação. O que te fará grande é a partilha, cuidar de outros, deixares-te cuidar, ajudar e pedir ajuda. Dar deve ser a tua prática, a tua forma de ser e de estar. 
Por isso, faz as tuas escolhas. Distingue os que te trazem problemas dos que te ajudam a sair dos problemas. Abdica de algumas coisas que gostas e valoriza mais o que é importante, sob o que é urgente. E que consigas sempre sentir gratidão por tudo o que de bom é colocado no teu caminho. 
É esse o único alimento que precisas para a tua jornada.O amor.
Com o que vemos no reflexo das pessoas, definimo-nos, não pelo que queremos ser, mas pelo que somos de verdade. não pela intenção, mas pelo resultado dessa coisa tão delicada que se chama intimidade. São mais tristes as pessoas que não têm espelhos. ou que os evitam porque não se querem ver. ou pior, porque não gostam de se ver. porque custa confiar no vidro. é frágil. E às vezes os espelhos partem, e por mais que se cole, que se remende, fica lá sempre aquele risco, feito cicatriz, a cortar a imagem limpa. Faz parte do jogo. aliás, é aqui que entendo que muito do que somos, devemos aos outros. porque há pessoas que me fazem mais - mais divertida, mais leve, mais Rita. Há pessoas que me tornam um ser melhor, apenas pela forma como me entendem, me percebem, pela forma como tornam fácil partilhar essa intimidade. são espelhos em que nos fazemos bonitos. Deve ser por isso, que gosto tanto de te dizer: 'és tu, quem me faz mais inteira...' e assim cheguem os 33!

Que comece o fim de semana a celebrar a vida da Mana, e a minha!E a abraçar num lugar que amo muito, os que mais prezo na minha vida.












quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Ponto.






Pouco te importa aquilo que os outros pensam de ti quando acreditas em ti. O que importa é provares a ti mesmo que não tens de provar nada a ninguém. O que importa é continuares firme no teu caminho em nome não da obstinação, mas da determinação, da tua força e da tua fé. O que importa é saber que se falhares o mundo não acaba e que as pessoas que realmente gostam de ti e te aceitam como és vão estar lá [sempre, sempre, sempre] para ti, para te carregar ao colo de todas as vezes que o teu mundo desmoronar. O que importa é que ao longo do teu caminho consigas aprender a rir de ti. A ser leve perante a vida, a relativizar, a descomplicar, a desconstruir, a descobrir em ti o gosto pela simplicidade. O que importa de verdade é que continues a sentir essa incessante vontade de ser feliz, esse impulso bonito que te motiva a acordar todos os dias e a dar a ti e aos outros o melhor que carregas no peito. O que importa de verdade é que saibas, é que tenhas a certeza absoluta, que só depende de ti seres mesmo, mesmo feliz.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Sigo Adiante.Confiante.Delirante.Com vida.



Dizem-te que não, mas tu tens a certeza que sim. Dizem-te que talvez seja difícil, e tu sabes que vai ser. Dizem-te que recomeçar uma e outra vez é coisa de teimosos, tu respondes com a definição de fé e de resiliência. Dizem-te que estás velho para isso, respondes com a garra e o entusiasmo dos 23. Dizem-te que há quem saiba mais, quem faça melhor, quem te vai arrumar a um canto. Respondes com resultados, com mérito, com todos os obrigados e todos os projectos de mudança que recebes, respondes com orgulho no pouco (que julgam) que tens e no muito que tens a certeza de ser.
Ninguém vive a tua vida por ti. Ninguém sente nada por ti. Ninguém aprende nada por ti. Ninguém muda nada por ti. Os erros são teus, as consequências também. As angústias são tuas, as conquistas também. Os medos são teus, as superações também. As obstáculos são os teus, os resultados também.
És tu que vives a tua vida. Os outros jamais irão compreender, sentir, viver tudo o que se passa dentro de ti.


domingo, 16 de novembro de 2014

A roça de Porto Real.







































Roça Porto Real, Príncipe, 2014




















Porto Real, uma antiga roça de Cacau está implantada na zona oeste da ilha do Príncipe. A "Roça-Terreiro" ou seja estava subdividida em várias áreas - laboral, habitacional e hospitalar.Tudo está agora ao abandono e devoluto.Só a vida dos que nos receberam e ali vivem, parece nunca morrer! Há quem diga que produzia o melhor óleo da palma de toda a ilha. Em 1910 possuía uma caminho de ferro com 30km.
A subida para a roça era dura, quando feita debaixo de sol e esperando sempre uma boleia que passasse.Mas foi dos caminhos que mais gostei de percorrer.Apesar do cansaço, era uma alegria.
Esta tornou-se a roça do meu coração.Tinha centenas de crianças, alegres, castiças, que sempre nos receberam de braços abertos.A primeira vez que entrámos em Porto Real, foi um choque positivo, pois as crianças circundaram-nos e eram tantas...que confesso ter pensado, como seria?Começar por onde?
Mas há sempre uma forma de cumprir a missão que Deus nos confiou.E não só chegámos ás crianças, como aos adultos, aos idosos e aos cantos mais remotos da roça.
Não se fazem milagres.Não fomos salvar ninguém, nem acabar com os problemas sociais ali existentes.Mas o facto de ali estarmos e os visitarmos frequentemente, fez toda a diferença.Dá-lhes alento, coragem, partilham as suas dores...e dão-nos sempre o melhor que possuem.Que ás vezes é muito pouco.Incrível.
Ali fala-se o Crioulo e as tradições são 90% Cabo Verdianas.Os problemas sociais, anda em torno do álcool, e dos fracos recursos a todos os níveis.Mas a alegria essa, nunca se perde!
Foi em Porto Real que, demos apoio escolar, que fizemos 1001 jogos no terreiro, que provámos o sabor de brincar com o lixo, que sentimos o peso de uma verdadeira comunidade, ainda com as suas diferenças e divisões, deram-nos o exemplo.
Animámos a Eucaristia ao Domingo de manhã.Era sempre bom, começar o dia ali, e depois descer até à cidade para a missa na paróquia.
Em Porto Real aprendi muito.Dei muito.Recebi ainda mais.Porto Real foi palco dos momentos mais alegres que tivemos como grupo.Uma alegria extrema que lhes sai naturalmente do coração...e contagia tudo e todos e da qual eu não me hei-de esquecer.
O desafio é ao chegar aqui, manter contacto com estas pessoas.E isso nem todos conseguem.Enviei há dias, cerca de 55 cartas, que pelo que soube, chegaram e deixaram todos muito felizes, ainda mais com as fotografias.Afinal, eles fazem agora parte de mim!Foram família.São família.Eterna.
Até ao dia que Bô voltar!