segunda-feira, 30 de junho de 2014

A Ilha do Mussulo.























É um pequeno paraíso.
Aqui respira-se.Aqui sabe mais a África.Arrancámos cedo.Eu e os miúdos ficamos a dormir por cá.Estão de férias.Amanhã chega o resto do bando.E eu vou mudando lentamente de cor.
Navegámos em grande animação, com música e grandes paródias dentro do barco.Os pais dormiam...na proa.Eles felizes por navegar.E eu feliz por ver que estão bem.Que formamos lentamente uma equipa.Que apesar de tudo, conseguem respeitar-se e ser muito queridos comigo.E se me sinto cansada, é porque me torno criança como eles.Tal e qual.E isso é o que sabe bem.E connosco arrastamos todo o staff...que não pode fugir ao bom feeling.
Ao chegar à ilha mais uma vez, fico de olho nas crianças da praia.Quero brincar com elas, também. É a primeira coisa que vejo sempre.Coração de criança, no fundo é todo igual...quero crer.O cheiro a sal...que se entranha na pele a no cabelo deixa-me leve.
Da praia para a casa de buggui...encontramos porcos selvagens no caminho.
Bom, quanto à casa de férias, está em Obras, mas ficamos muito bem instalados.Tenho um alpendre onde vejo e oiço as ondas e os konguitos da praia a apanhar peixinhos e a correr.E uma rede.Perfeito.E tenho as memórias desta África...um pouco, ou muito mais simples, mas sempre encantadora e apaixonante.Bolas,isto é mesmo parte de mim.E sei porque me faz bater o coração.O que não dava para ir por essa ilha adentro e conhecer os locais.Os que aqui vivem...
A noite trouxe o céu mais belo que conheço.É nele que me detenho, enquanto eles dormem como anjos, depois de um grande banho, uma história, pois estão cansados das brincadeiras.
E que paz.
Hoje, sou eu e o universo.


(e os mosquitos...grrrr)

sábado, 28 de junho de 2014

Dia de Caos.



Descobri que tenho uma boneca igual a mim, segundo os miúdos.Chamam-lhe Rita, agora.Pronto.
Era esta a conversa, quando o cheiro a fumo nos levou para o jardim.

E Buuuuuummmm....!




Uma explosão, fez parar tudo.E outra e outra...
Os miúdos começaram a chorar.Peguei na mais pequena ao colo e entrei no carro.Fugimos para bem longe dali.
O mesmo fizeram todos os que estavam naquela zona.As casas ficaram vazias.Ruas cheias de gente e explosões por todo o lado.
Talatona virou um inferno, pensava eu.É desta que morro em África e não vai ser bem como imaginava. 
Não importa.Só queria proteger os miúdos e distraí-los.
Os bombeiros demoram.As faixas nem existem, como irão lá chegar, não sei.Passam 2 Auto-tanques, mais velhos.E penso, um País tão rico e isto é que vai apagar fogos?Ironia.
Lá nos afastámos da confusão.Os Brancos fogem e os Angolanos correm para lá para ver.Enfim.
Foi um dia de Caos, nesta cidade.Já passou.Foi só o susto.2 homens morreram porque atiraram cigarros para uma conduta de gás...o perfeito caos.
Eu e as aventuras.Hoje os meus níveis de adrenalina subiram e pelas piores razões.É nestas alturas, que se sente que os meios aqui são mais do que fracos, face uma catástrofe.Seja ela qual for.Passámos o dia a fazer tempo, para poder voltar para casa.Ponderámos ir para a ilha.Mas ao fim da tarde tudo controlado.
O que vale é que amanhã é dia livre e avizinham-se dias melhores.


sexta-feira, 27 de junho de 2014

África acima.África abaixo.África sempre.


































Os dias passam a correr e daqui nada, voamos até Londres.
Por aqui, parece que conquistei a pequenada.Temos bando.E que bando.A verdade é que me tenho divertido muito com eles.Mais do que podia imaginar.Surpreendem-me.
Quem me manda criar estereótipos?Rótulos?É para eu aprender.
Foco-me no que eles são e não naquilo que possuem.Falta-lhes uma dose industrial de Amor.E para isso estou aqui eu.Tiro-lhes os medos, acalmo os anseios.Falo de uma África que não sabem que existe.Ouvem-me atentos e fazem perguntas.Guardo a secreta esperança que isso mude alguma coisa.No futuro.
Agora andamos a treinar o Inglês e em Londres, vai ser ainda mais intenso.
Tenho usado de tudo.Imaginado jogos sem fim.Mas mais que isso os laços começam a estabelecer-se.
E ainda vou conseguindo ter algum tempo para mim.Um livro.Um café.Um raio de sol.Um silêncio pela noite, sentada no jardim, quando todos já dormem.Rezo.Relembro os que Amo.
Encontro beleza porque a quero encontrar.E os olhos que a procuram, encontram-na, nas coisas mais simples.
Estranho vai ser estar em Lisboa, dois dias, e logo a seguir em Londres.Com o bando.
Três realidades diferentes e familiares.Tenho aqui uma missão.Eu sei.Mas só penso na outra, aquela pela qual esperei tanto.E a correria a que me habituei nos últimos anos, recomeçou.Encher-me de Mundo, nunca me cansa.
Menos mal.Acorda-me interiormente e faz com que o passado fique, onde tem que ficar.





quarta-feira, 25 de junho de 2014

Carta.Aos 66 anos do meu Pai.



Sabes Pai, cada vez que atravesso os céus  rumo a algum lado,vou já a pensar como gostava de te dizer tudo o que se passa no Mundo e que tu não podes saber.Estamos em Junho e eu estou em Angola.É já sabes que África me chama sempre.
Tinha vontade de te mostrar a tua vila, amada, mais uma vez,de campos verdes e água por todo o lado,mesmo estando tudo na mesma, mesmo a vista sendo sempre igual.Sabes Pai, o sol regressou e quase fico contente, porque em vez de chuva e de dias frios e cinzentos, ficas agora debaixo deste quentinho alentejano.

Sabes Pai, a minha luta ainda não acabou e penso que ainda não  se fecha o ciclo e eu quero acreditar nele.  Falo contigo em pensamento, tantas vezes, porque tenho a esperança secreta que, algures, ainda nos possas ouvir.  

Tenho tantas saudades tuas e não quero aqui falar das coisas tão boas de que me lembro porque o mais certo é regressarem as lágrimas. E se me contenho, e se agora me acalmo, é porque desde há 4 anos atrás que acredito que vocês se escondem num sítio secreto, onde vão ficar para sempre, esperando também por nós.Senta-te sempre na asa dos meus aviões.Está bem?

E tu já foste, mas deixaste tantos mundos cá em baixo.

Faz hoje 66.




Amanhã temos festa aqui em casa.Mousse.Gelatina. Balões.Tudo.
O meu pai faz 66 anos.Hoje.Digo hoje faz,porque me dói menos.

Mas a festa não é por ele.É pelos 4 anos de uma menina.
Coincidências.

Foi por ele que parti em 2010...pelo mundo e quase não parei desde então.Por ele.Porque lhe prometi, que para mim, tal como foi para ele, fazer os outros felizes e ajudá-los seria sempre a minha missão mais importante.
E tem sido.Procuro imitá-lo.Era um homem exemplar.De sorriso fácil e disponível.E que coração, capaz de abarcar tanto e tudo.

Tenho sempre saudades dele.Daquelas que nunca mais podem deixar-nos.Mas há dias em que nos lembramos mais.Este será sem dúvida um deles.

Uma casa cheia de crianças...velas para soprar.Presentes para abrir.E eu festejo por ele.O nosso mundo interior festeja o que quiser, onde quiser.É secreto para quem queremos que seja.Somos santuários de sentimentos.

Hoje, dou as voltas ao mundo que ele já não pode dar.E imagino sempre que se senta na asa do avião a olhar para mim, que encosto o rosto ao vidro e fico a divagar...ou a dormir.
Por mais que diga, não posso expressar.Expresso muitas coisas.Mas esta é das mais difíceis. Também é tão minha que nem tenho de o fazer.Como se gere a dor da perda?Eu geri amando ainda mais.Viajando, enchendo-me de mundo e de mundos.
A intensidade da marca que é uma vida, que se foi.
A voz.A pele.O cheiro.A forma de agir...a calma, a gargalhada,os trejeitos.Únicos.A vida que me deu e que eu faço por viver intensamente.



Faço não.Vivo mesmo.Por ele.Porque ele existiu.E viveu.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Atingido!




CONSEGUIMOS!

O MSV, a equipa de voluntários e a Paróquia da Conceição, na Ilha do Príncipe, agradecem a todos aqueles que acreditaram no nosso projeto. É uma grande alegria poder contar com tantos apoios!

Despedimo-nos deste evento com a certeza de que o esforço de cada contributo será transmitido no nosso trabalho ao longo dos meses de Agosto e Setembro.

Obrigado!

O meu Bando.

















Aqui está parte do meu bando.Passamos horas, a imaginar, a brincar e eu oiço-lhes os sonhos.Atenta.Lembrando-lhes sempre o essencial.Ás vezes pergunto-me se valerá a pena?
                      Eles jogam ténis e futebol ao entardecer.Nadam.Jogam.Gritam.Cantam e tornam tudo mais especial.               São crianças.Ricos ou pobres, pouco importa.Quem não se rende a este sorriso?
O céu fica um poema.O vento é morno.E a paz reina, apesar de tudo.Eu fico a ser picada pelos mosquitos e a ler, sobre a outra África, fora do luxo, já ali ao lado,ao virar da esquina...aquela que vejo pela janela do carro, sempre que retornamos a casa e onde anseio ficar...quem sabe para sempre?




domingo, 22 de junho de 2014

Mr Probz - Waves









Tem andando a tocar nos meus ouvidos...enquanto deixo que as ondas me vão acariciando a alma.

Daqui aí vai uma estrela.




São tantas caras,tantos lugares, tantos km de estrada percorrida e desbravada.Alguns sustos.Um avião perdido.Dores de barriga de tanto rir.Mapas na mão.Boleias aqui e ali.A confiança na impossibilidade ou no inesperado.A magia das coisas, ás vezes só por nós vista.Tantos sentimentos partilhados.Tantos arrufos.Mas sempre a mesma certeza de que somos vida,alegria,eternidade.Porque te tornaste no melhor amigo do mundo.E hoje estás no Brasil e eu em Angola.E os Parabéns vão em modo de estrela cadente...pode ser?Porque as estrelas cadentes não demoram quase nada a chegar,pois para elas não existem distâncias.
Um beijinho na tua alma feita de luz. 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Chegar a Luanda, passo a passo.
















Passando os abraços na despedida e o silêncio pesado que fica dentro de mim, enquanto faço todo o percurso e passo as barreiras de controle, até me sentar no avião...por 7 longas horas, vem o aceitar da realidade.
Primeiro, avisto um Oceano a perder de vista, azul, onde só a sombra das nuvens como algodão, se deixam ver.Atravesso metade do Continente que mais amo, conversando com o meu Pai em silêncio.Faço-o sempre, porque afinal ali é o céu e estamos mais perto?
Por baixo de mim, a muitos pés de altitude.ÁFRICA.
Que estranho é.E não sei o que isto quererá dizer, mas África, sempre chama por mim.De uma forma ou de outra.Vou sempre ali parar.Observo com saudade.
Depois, e já em desespero...aproxima-se a terra vermelha dos arredores de Luanda ao amanhecer.Bairros e mais bairros sem condições nenhumas, que mesmo a muitos pés deixam transparecer o quanto é dura a vida por ali.Podemos aterrar aqui?Deixem-me sair aqui.Eu pertenço ali!

Passados poucos minutos, surge a baía de Luanda.Imponente, nos seus arranha céus e fachadas. São apenas isso fachada.Perdi a paragem lá atrás, é aqui que vou sair?Vai ser este o meu mundo...nos próximos dias.

Depois é sair e enfrentar o trânsito, mais caótico que algum dia conheci.Horas e mais horas, perdida no meio de candongueiros...(transporte colectivo de pessoas, carrinhas azuis) e a contrastar carros de alta cilindrada.Pessoas a pé no meio das faixas.O calor é abrasador.Olho as pessoas pelo vidro, as crianças, com bananas à cabeça, mais pesadas que elas próprias.Como gostava de lhes falar, de me sentar junto delas e ficar ali...ouvir as suas histórias.Dar-lhes um abraço...e partir.E sempre assim, sempre assim.Estar.

Depois finalmente e como se um vidro separasse duas realidades,chego aos condomínios de luxo.Palmeiras, piscinas, casas de sonho...conforto.Uma linha muito ténue separa os dois mundos.Um abismo, no qual eu sei bem onde me situar.Porque conheço bem os dois lados.

E a esta hora o meu pensamento regressa a Lisboa ao abraço da minha afilhada com 5 meses...ou ao meu Tejo.A tudo o que ali amo.Ainda que com o coração apertadinho. Deixar Lisboa assim, com tanto em mãos.Uma coisa é partir, porque se sente e se escolheu partir.Outra é porque tem que ser...porque infelizmente o nosso Portugal, não nos oferece o valor justo, por aquilo que somos e nos formámos.Encaro tudo como uma missão.Mas há missões que nos apaixonam e outras que nos parecem tão endurecidas.Uma coisa é o mundo dos ricos, onde tenho que estar, outra é o mundo dos simples onde quero estar!E hei-de estar.
Mas há que fazer, o que tem de ser feito.

Até breve.