Por aqui mudou muita coisa.Costuma-se dizer que quando não estamos bem, devemos procurar a mudança que nos fará ficar melhor.
E foi isso que aconteceu.
Não é novidade, que este ano a equipa que calhou em Lichinga , neste projecto,não é a melhor...de todo e de longe, é uma equipa.Cada um por si e pouco trabalho se vê.
Diversão muita, até demais.E melhor será não revelar a que ponto as coisas chegaram.Uma vergonha, para esta instituição.
Para além disso, os problemas de segurança nesta casa, clamam há muito uma solução.Uma coisa chama a outra e quem se dá com quem não deve, atrai tudo o que é menos bom.Fama então...já caiem pelo chão nesta cidade.
Por este conjunto de motivos,por momentos pensei ir embora, deixar tudo...voltar ao meu mundo de sempre, voltar aos lugares e ás pessoas que me amam no meu País.
Na casa onde estava, não existia segurança e ainda mais grave confiança, para ficar.
Arrumei as minhas coisas, despedi-me de todos os queridos amigos e alunos, que me queriam sem dúvida por aqui e parti rumo ao aeroporto.
Passei na escolinha e deixei para trás, alunos e titias a chorar.Percebi que afinal, uma pessoa pode valer por três, quatro ou cinco.E muito mais.Que tudo o que vivemos, juntos, como equipa e escola, falava mais alto.Parti no entanto.Foi um momento duro.
Chegando ao check in, parecia um filme.Tudo a indicar a partida, menos o meu coração.
Mas alguém que me quer muito aqui, alguém que criou este projecto,alguém que acredita tanto no meu trabalho e na minha pessoa...olhou-me nos olhos.Pela minha cabeça passou um filme de tudo o que já vivi aqui, os rostos, as músicas, as viagens, o lago, os konguitos,a Benedita...desliguei por instantes.
E estes minutos,mudaram o rumo de tudo.
Já com as malas prontas...bilhete na mão,em plena sala de embarque, desisti.Cancelei ali mesmo a viagem, para Novembro e...voltei para trás.A irmã Ferreira não cabia em si de contente.Até conduzia mais depressa.
Desistir??Não é para mim.Se eu queria ficar, não podia ir de forma alguma, contra mim mesma.
Baixar os braços??Por causa seja do que for nunca o hei-de fazer.Desistir é para os fracos, não para os fortes.
Dizer que não aguento mais?Aguento, sempre mais um pouco...afinal.Bem mais do que posso imaginar.A vida vai-nos mostrando o nosso nível de resiliência.E acabo de constatar que o meu está elevado.Depressa me adapto a novas situações.Não é a primeira vez que vivo longe de casa, e mudo de cultura.
Não me lembro de ter desistido de nada na minha vida.Sempre que me propus a um objectivo ele foi cumprido.A mim basta-me querer.E quis tanto continuar a amar estes Konguitos, por eles e por mim mesma,fiquei.
E aqui estou, agora numa casa, maior, com um jardim maravilhoso...imensos cães que durante a noite não deixam entrar nem um rato no jardim.Temos também 2 guardas que nos vigiam o sono.Da minha secretária,onde escrevo agora, vejo uma machamba repleta de cores e pessoas que ganham o seu pão, fazendo nascer alimentos que nós, todos os dias comemos.O cheiro do café inunda a casa,e os meus sentidos,café bem puro, plantado aqui mesmo.Há um clima de paz...e o melhor é que estou bem no centro da cidade, pertinho da minha antiga casa.Que por estes últimos tempos, era tudo menos uma casa.
Casa, é onde nos devemos sentir seguros, confiantes e em paz.Tudo isso foi quebrado.Mas como eu entendo que a vida nos restitui tudo o que nos levou, de uma forma ou de outra, estou agora a recuperar esse tempo.Com um sorriso, no rosto e na alma.Posso dizer, VENCI.Venci o medo, a incerteza, venci quem me tentou tirar daqui, por querer aquilo que não é e nunca será seu.Ninguém e nenhum acontecimento, comanda a vida de ninguém, tanto como a própria pessoa.
Faltam ainda 6 meses de pura felicidade e partilha, com os Konguitos, os amigos que fui fazendo nesta cidade, que em massa, vieram ao meu encontro celebrar a minha decisão de ficar.Já sou um pouco do Niassa.E é nestes momentos que fica provado os laços que fizemos, a força que têm e a força que nos dão.
Depois de tudo isto passar, ás vezes penso, como pude eu pensar em desistir?Eu vou, faço e sigo somente o meu coração.E a verdade é que ele me leva para o sítio certo.Sem margem para dúvidas.Por momentos fui racional.Mas a emoção falou mais alto.
Na escolinha, ainda hoje, passado uma semana desta tempestade, recebo abraços que me dizem sem palavras:"QUE BOM QUE NÃO DESISTISTE DE NÓS, AQUI É O TEU LUGAR!".
Ao ficar aqui, deixo para trás outras coisas, em Lisboa.Lá também já tinha a família e uma legião de amigos de braços abertos á minha espera.E agradeço por isso.Mas vocês que me conhecem sabem de que fibra é feita a Rita Ramalho.Eu vergo, mas não parto.Confirma-me a vida.E como as árvores hei-de morrer de pé...e que ainda depois de morrer, as árvores, são úteis e deixam marcas.Sabendo que cumpri a minha missão até ao fim.Da melhor maneira que pude e consegui.Dando o máximo.Sem reservas.Com bravura e coragem...que na altura certa nos inunda o corpo e a alma.
É assim que se escreve a história de uma vida.Porque nada é perfeito...e nada é certo.Mas só nós podemos, se quisermos, mudar o curso natural das coisas...para melhor.Eu quero, eu luto ,logo eu posso e faço acontecer.Das coisas mais simples ás mais difíceis.
O trabalho, não falta...e novos desafios se avizinham.E porque a força do recomeço nos impele como nenhuma outra, agarro cada dia, com aquela cor e energia que me caracterizam...e tudo por Amor.
Aquele que me move desde que me conheço...
=)
PS.Ao que parece, nas linhas aéreas de Moçambique ainda caíram telefonemas, a perguntar se o voo tinha sido cancelado?
Fui eu que o cancelei,mas ele partiu e eu... fiquei.
2 comentários:
Que bonitas palavras Rita. E que maravilhoso esse sentimento que te move.
Volto a desejar-te a maior força para enfrentar esses obstáculos por vezes aparecem no caminho. Que a coragem e o amor ao que se faz seja sempre maior do que tudo o resto.
Abraço-te*
:)
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