sábado, 29 de outubro de 2011

Estes putos sabem "Gingar"... no dia dos Continuadores




















O desafio era, uma competição entre escolas.
A nossa escolinha e a escola pública de Sanjala, o bairro onde nos situamos.
O canto e a dança eram reis.
Juntamos a 1ª,2ª e 3ª classes, ensaiamos 4 músicas de um dia para o outro e vencemos o concurso.
Entre os grupos todos, mesmo os mais velhos, houve um destaque da nossa parte, pela energia, pela diferença.Não optamos tanto por transmitir mensagens politicas e históricas, mas por nos divertirmos enquanto dançávamos.
E como estes putos sabem gingar...dançam tão bem.Acho que faz parte do sangue Africano.Desde muito pequeninos que se mexem e com graça.
O prémio, cerca de 60 cadernos e lápis, cedemos á escola onde decorreu a competição, por entendermos que precisam mais.
Voltamos á nossa escola, debaixo de um calor sofucante, mas em cantorias, tentando entrar como saímos, num enorme comboio.
Gosto destes putos, como se gosta de viver.





domingo, 23 de outubro de 2011

Despedida da Ana Rita com,Brasil,USA,Colômbia,Portugal,Moçambique, Zimbabwe...


































A Ana Rita, partiu, faz alguns dias.
Fomos vizinhas, durante pouco tempo, mas acho que o soubemos aproveitar.
O projecto dos médicos sem fronteiras está a terminar no final de Novembro e aos poucos começam todos a partir.
A Ana Rita,é engenheira civil e já percorreu muitos continentes,estudando, viajando ou em trabalho.Viveu um ano e meio da Suazilândia, esteve um ano aqui em Moçambique e agora prepara-se para uma grande volta á Ásia em bicicleta.É uma aventureira, capaz de andar 50 km num dia, sem ficar com uma bolha.Tem um bom feeling, que possível sentir á distância.É  uma pessoa interessante, com quem se pode debater qualquer tema.É sobretudo uma pessoa de coração aberto...e sem stress algum.
Através da Rita, conheci imensas pessoas de quem gosto muito e que têm feito parte da minha vida social aqui em Lichinga e creio que algumas vão ficar para a vida.É bom quando nos damos com pessoas que têm bem mais do que segundas intenções para connosco.

(E esse tipo de comportamento aqui é frequente.Principalmente no povo Moçambicano.Quando se aproximam e nós, alguma coisa querem.Nem sempre,mas regra geral.Entendem mal as coisas.Ás vezes pergunto-me se saberão o que significa amizade, assim, pura e simples, sem ter que se dar nada em troca?)

A festa seguiu com sabores de vários pontos do planeta, com música e cantorias á volta de uma fogueira, que é como sabe melhor.Foi uma noite calma e nem sempre uma festa tem que ser de arromba, é preciso saber estar, permanecer, aproveitar a companhia de quem está quase de partida.
Deixar a música tomar conta de nós e ouvir o lume a estalar...debaixo de um céu e de uma lua perfeita.
Entre uma e outra conversa, vai-se aprendendo sobre os outros, sobre o mundo e até sobre nós mesmos.Conferindo que somos as mesmas pessoas, genuínas seja em que ponto do globo for.
Vou ter muitas saudades da Rita e destes momentos em casa dela.Parte da equipa continua cá, mas a Rita era a Portuguesa da casa e isso era sem dúvida uma ponte.
Mas neste ano e meio fora do meu País, já aprendi que é mesmo assim, as pessoas entram na nossa vida e aquelas que ficam, nunca mais as tiramos de nós.Mesmo que nunca mais as reencontremos.
As memórias fazem uma vida valer a pena.

Obrigado Rita!E boa viagem.

Como eles nos olham...













Quis saber qual a opinião deles, sobre o professor?
Saiu muita cor.É bom sinal.
Sei que a imagem que eles têm é positiva e cada dia me vou deixando encantar, por tantos momentos.
São pequenas coisas, que quase não se vêm, mas que eu sei, farão a diferença um dia...e é porque acredito tanto nisso, que me vou dando.
Há aspectos que me desiludem, mas isso não me pode fazer perder a força.Há consequências de um sistema educativo doente, pobre, incompleto.Mas aqui somos como "remendos" ás vezes sinto...curativos, mas também raios de sol, que vêm arejar, renovar, preparar...acredito que, um futuro melhor.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Dia do Professor





























O dia do Professor em Lichinga, foi um dia em cheio.
Pela manhã, concentrámo-nos na praça dos heróis, todas de capulana verde.A nossa escolinha estava muito bem representada.Cada escola, tinha cores diferentes, o que no conjunto fez uma mistura interessante de se ver.
Foi um dia para celebrar, mas também para contestar.Até a classe da enfermagem se apresentou.
Alguns dirigentes vieram "discursar", mas para mim não passaram de palavras dadas ao vento.
É muito bonito falar nestes dias, mas no terreno, somos nós que sabemos como são as coisas na dura realidade.
Em filas, as pessoas dirigiam-se á estátua em homenagem aos heróis desta terra, colocavam flores.Tudo muito formal.
Apenas um gesto me chocou.Uma criança com trissomia 21, aproximou-se da formatura, onde estavam os presidentes, arrancou um ramo de um arbusto, pois não tinha flores, e colocou na estátua. de seguida, como toda a gente, foi dar um aperto de mão aos dirigentes, que o ignoraram por completo, recusando dar-lhe a mão.Esta criança caminhou até ao local onde eu estava e eu fiz questão de lhe apertar a mão.
Isto aconteceu perante uma enorme multidão.
E eu pergunto, se será este o exemplo que queremos dar aos professores desta terra.Se quem está acima dá exemplos como este...num dia como este, então não se podem esperar milagres de um sistema educativo já por si pobre e deficiente.
Foi o suficiente para mim, para deixar a praça em silêncio.Eu que sempre lidei com a diferença, especialmente doentes como este menino.Esta criança não era menos do que qualquer um de nós e este acto, pode tê-lo feito sentir que é diferente e por isso desprezível.
Não será o objectivo de uma educação global e justa, procurar integrar e não excluir?
Fora isto, a festa veio a seguir e muito animada.As titias pela primeira vez, reuniram-se num dia para festejar, dançar, cantar, cozinhar.Perdi a conta ás gargalhadas que soltei...
Quanto a mim, foi um momento de equipa muito importante, longe das responsabilidades diárias que cada uma tem.Houve oportunidade de celebrar de facto em união, o nosso esforço aqui, por uma educação melhor.

Movimento, gera Sorrisos assim...































É dos momentos da semana, que mais gosto.Vê-los correr e pular livres pelo campo fora.
Melhor que isso, é ver o sorriso que rasgam no rosto de contentes.
É nesses momentos, que tenho a certeza que estamos bem assim, na vida uns dos outros.Sinto que tínhamos que nos encontrar um dia.Estas crianças esperavam por mim, sem o saber e eu esperei tanto por elas, sem saber quem eram.
Agora sei.Conheço cada uma.Já consigo dizer, o que as faz felizes ou quais os seus maiores problemas.Sei o que esperar de determinadas situações, com uma previsibilidade que me espanta.
É isto que se chama Amar, conhecer o outro e apesar dos seus defeitos e falhas, que se repetem constantemente, estar lá sempre, para acolher, mimar, apaziguar, ajudar a crescer.
Estes meninos são crescidos.Todos os dias me provam isso mesmo.
É quando me detenho a olhar para eles correndo livres, que me encho de orgulho por um dia os ter conhecido.Não me canso de olhá-los, de admirar cada trejeito, cada expressão, movimento.
É um amor que cresce diariamente, que já deixa saudades, apenas de pensar que dentro de um mês e alguns dias estou de partida, para dois longos meses em Portugal.E quando digo longos, sei que falo das saudades que vou sentir desta terra, destes meninos de chocolate, que me apaixonaram e arrebataram o coração por completo.Confesso-me rendida...e nas imperfeições, limito-me a vislumbrar perfeição num futuro próximo.Acredito neles.Deposito-lhes esperança e sonhos.
E em Janeiro preparo-me para voltar e abraçar outros meninos, estes já não serão a minha turminha.
Mas no meu coração, foram os primeiros.E recordá-los-ei com o mesmo sorriso, que eles me dão todos os dias.