sexta-feira, 29 de novembro de 2013

MISSÃO.Alcoutim.




































































Longe de Lisboa.Quatro horas de caminho, feitas no fim de um dia de trabalho, na correria de chegar ao ponto de encontro.Entulhar os carros de sacos cama, comida e partir.
Horas a descobrir quem somos...não nos falta pelo caminho.A expectativa de chegar.O que vamos encontrar?Seremos capazes de ajudar realmente quem ali parece estar esquecido?
Horizonte a perder de vista e o frio do Inverno a fazer-se sentir.
Tarefas partilhadas.Comunidade.Distribui-se trabalho.Partilha-se tudo.Organiza-se.
Em grupos, partimos, pelos montes fora, que parecem perdidos e longe de tudo, mas ao mesmo tempo guardados num pedacinho de céu.
O isolamento é de facto o que mais marca e custa, por aqui.O que estas pessoas mais sentem falta é de conversar um pouco, de partilhar as suas histórias, problemas, cansaços e até alegrias!
Ao chegarmos, somos sempre bem recebidos, com enorme entusiasmo, ao longe, já nos pressentem.E ainda na mesma manhã dizem ter pensado em nós.As portas como os sorrisos abrem-se de par em par, para nos receber e sejamos poucos ou muitos, a refeição pode sair mesmo na hora.Que grande lição.Quem pouco tem, tudo dá.De tudo se fala, e pensando eu, que o isolamento, os deixava longe do que se passa no mundo, mostram entender mais que muitos políticos e entendidos na matéria.A visão clara e esclarecida sobre a crise.Falam-nos de tempos em que nunca conheceram sapatos ou fartura de nada.E aí pensamos, crise?Nunca nos faltou o essencial.Mas eles criaram-se e unidos ficaram para sempre.Hoje, graças ao que a terra lhes dá, nada ali falta.Principalmente a boa vontade.
A verdade é que a paz que ali se vive, é grande.Muito grande e impossível de não se sentir.Aliás, é essa mesmo que trazemos ao deixar Alcoutim, vimos com ela...entranhada na alma,na pele...e com vontade de voltar.Uma e outra e outra vez.Porque afinal dois dedos de conversa e um abraço, nunca foram tão importantes, como ali.Pode ser uma gota no oceano, mas o compromisso com estas pessoas é muito importante e muda para melhor as suas vidas e as nossas.Porque existimos uns para os outros.Porque nos amamos naqueles instantes.E se todos se comprometessem com algo no mundo...
Todos conhecem o MSV, ao passar no largo, ao sair da igreja onde o sol bate e nos aquece...olhando um rio mais do que belo.
E pensar que há mais de 20 anos, outros jovens partiram vezes sem conta, como nós, para fazer o mesmo.Quantas gargalhadas, vidas, partilhas, ali não foram feitas?Quantas mudanças interiores?Decisões.Caminho.
Isso deu-lhes direito a um mural de azulejos que retrata o melhor da terra e nichos que marcam a sua passagem por cada monte.E mais importante que isso a confiança e a alegria que como um testemunho,passa para quem se segue.Nós,que ao chegarmos logo vemos a porta a abrir-se, sem medo, com alegria.Como família.Tão bom.


Obrigado MSV.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Cancro com Humor







































Ela é, a miúda que aprendeu a rir-se do cancro.
Ela é, um furacão de sentimentos e emoções.Ela é um sorriso rasgado e uma fluência no discurso e na sapiência de ser e saber o que quer transmitir.Ela é genuína e emocional.Grata e vencedora.E eu tenho o prazer de a ver brilhar, na sua vontade de ajudar quem como, nós, sofre ou sofreu desse mal.
Ela dá palestras, ela faz rir, ela corre Portugal, a espalhar a mensagem mais importante, para quem luta contra o cancro e não só, porque qualquer pessoa devia ser assim e fazer o que a Marine nos pede...sorrir.A vida fica muito melhor quando sorrimos.Quando acreditamos nos nossos sonhos e com isso conseguimos ajudar os outros.Bravo.Marine.
E eu gostei tanto de interpretar esta historia, que no fundo tem tanto da minha.
E eu volto a ler uma vez e outra o livro que gravei...e a saborear a sensibilidade desta lutadora.
Obrigado Marine.

Comprem o livro e o audiobook, aqui:








quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A persistência da Memoria...







Lembro-me do Daniel Oliveira, nos tempos de liceu.Somos da mesma idade.
Ele escrevia então o Jornal da escola, Penalty, para onde escrevi ainda alguns artigos.
Uma brincadeira na altura, mas assim se começa e se dão os primeiros passos.Cedo lhe reconheci o talento, a vontade, a garra, a alma grande e nobre.Logo ali, ele mudava o mundo.
O Daniel sentia e fazia sentir quem o lia.Era assim.
Depois os anos passaram e foi vê-lo brilhar no ecrã...e encher-me de orgulho.
Ao terminar o seu livro esta tarde, confirmo aquilo que no fundo já sabia...a beleza que ele guarda dentro de si é avassaladora.Macia.Envolvente.
Este romance retrata na perfeição, os sentimentos de uma mulher.Para isso ele teve que se colocar no nosso lugar, coisa muito rara nos dias que correm.
Dei comigo a sorrir, vezes sem conta ou a imaginar-me a mim naquela situação.Camila.
Uma mulher, que podia ser qualquer uma de nós.

E mais não digo...leiam.







sábado, 2 de novembro de 2013

Sossego.





Gosto de sossegar como verbo transitivo. Sossegar só por si não chega. 
É  mais bonito sossegar alguém. 
Quando se pede "sossega o meu coração" e se consegue sossegar. Quando se sai, quando se faz um esforço para sossegar alguém. E não é adormecendo ou tranquilizando, em jeito de médico a dar um sedativo, que se sossega uma pessoa. É enchendo-lhe a alma de amor, confiança, alegria, esperança e tudo o mais que é o presente a tornar-se de repente futuro.É o futuro que sossega. "Amanhã vamos ver o mar e o sol esconder-se..." sossega mais do que "Não te preocupes" ou "Deixa lá, que eu trato disso". 

Sossegar não é dormir.É viver. Uma pessoa sossegada é capaz de deitar abaixo uma floresta. O sossego não é um descanso - é uma força. Não é estar isolado e longe, deixado em paz - é estar determinado no meio do turbilhão da vida. Sossegar é saber com que se conta, desde o azul do céu aos irmãos. 
O coração sossega em quem se conhece. Não há falinhas mansas que tragam o sossego dos gritos de uma pessoa com quem se pode contar. É um alívio.



sexta-feira, 1 de novembro de 2013

My sweet November.







Nasci em Novembro.E em Novembro se celebra este dia, em que lembramos os que partiram.Se me alegro por um lado, encolho o coração por outro.

De entre as perdas de pessoas na minha vida, as que mais me doeram, pelo inesperado, foram pessoas de fé. De muita fé. Partidas injustas, imerecidas. Para quem foi - cedo demais. para quem ficou - desamparado, sozinho demais. Nesses momentos questiona-se sempre o Deus que na visão de muitos não as protegeu, que não as tratou como deviam. o Deus que tanto adoravam. Esse Deus esteve e ainda estará presente.


Eu, me confesso, especialmente nesses momentos, e sou uma mulher de fé n'Ele. E sou ainda mais da fé nos actos. nas atitudes, nos gestos. acredito pouco no que se murmura, no que se promete, no que se apenas se diz,  acredito mais no que se faz, no que se dá, no que se entrega.. acredito mais no Amor, do que na adoração. 

A fé que sempre me fez correr foi o sorriso no rosto do próximo. Foi o carinho sentido, a ternura partilhada, ajuda entregue, não a piedade, a misericórdia ou o sofrimento em nome de alguém que não está sequer presente. 

Mas, por mais paradoxal que seja, foi a fé destas pessoas que partiram - no momento em que partiram - , que me fizeram acreditar ainda mais em algo superior, a que chamo DEUS. a paz que sei que cada uma teve, a pureza como sempre enfrentaram o destino, inesperado. A forma como sempre deram a cara à luta. Só pessoas com uma fé tremenda conseguem ser assim,tão puras e com tanta força, que tinha de vir de algum lado mais espiritual que físico. Provavelmente da mesma fonte do sentimento, inconsciente, que me indicou o exacto momento em que devia despedir-me delas. Que numa ocasião me fez não voltar atrás para ter uma discussão sobre coisas mundanas e me deixou assim um riso como a ultima recordação. E que noutra ocasião me fez, sem tempo, contra as pressas de todos, desviar do caminho cinco minutos, e me deixou assim um sorriso.Como ultima recordação. 


Saudades de todos os que amo e partiram.Sobretudo do meu Pai.
Infelizmente o nosso governo, retirou-nos este dia que reservava-mos a uma união,  beijada com frio de Outono, em família, indo ao cemitério apaziguar a saudade e com sabor a castanhas.E por fim voltar a casa com o silencio das longas estradas do Alentejo.Pensando neles.