quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Romania la Revedere!







Cheguei ontem a Bucareste.Depois de 9 longas horas de viagem.Encontrei Bucareste chuvoso e frio e uma casa vazia nos espaços e também de presenças.Resto eu e a Fabienne.Amanhã eu, no sábado ela.
Há um sentimento de nostalgia...e de emoção.Para mim, mais forte, porque deixei para trás alguém que Amo muito, depois de 10 dias intensos, de tudo.Andámos á boleia, corremos juntos os perigos, chocámos o que somos, porque o somos, falámos do passado, do presente e do futuro.Do que é doce e amargo.
Depois de visitar quem me prendeu o coração por esta Roménia fora, os locais, tudo.E mais do que isso partilhar isso com o Duarte.Foram dias longos e que voaram ao mesmo tempo.Foram importantes e como sempre inesquecivéis.Quero partilhar tudo.Mas agora não consigo.É tanta coisa.
Abraço agora no horizonte a minha casa, família, amigos, Telhal.
Chegou a hora e estou segura e sem receios.Dissiparam-se também devido a todas as palavras de carinho e força que recebi, da vontade que sinto em estar de volta.
É esta a hora em que os pensamentos se tornam claros daquilo que foi esta experiência de 6 meses.
Foi Amor.Foi crescimento, foi magia tantas e tantas vezes.Foi mais do que podia imaginar.
Não mudei a Roménia, mas muitos locais por onde passei e sorri,sim!E isso é amor.
É tanta coisa...e hoje não consigo expressar.
Amanhã encho o peito de ar e com o coração cheio parto.
Vão ser 5h de voo, e muitos pensamentos.
Ás 00h40 piso chão Português!E abraço-vos.
Até amanhã meu País, minha gente,minha vida!
 

sábado, 25 de setembro de 2010

Roadtrip

(Nao ha acentos no teclado Hungaro,peco desculpa)

A nossa roadtrip comecou dia 22 de Setembro 4a feira.
Tem sido uma aventura.Andamos a boleia de 3 carros, vimos as paisagens mais bonitas que alguem pode imaginar, choramos e rimos, relembramos o passado e aprendemos a amar ainda mais uma realidade que nao e a nossa.Estamos entre amigos que nos fazem sentir tao confortaveis que apenas queremos ficar.
E este pedaco de ceu que estou a viver, quem me dera que ficasse para sempre.
Amanha partimos para Sighisoara.Mas no coracao levamos tanto...que nem posso explicar.

Ate breve.

domingo, 19 de setembro de 2010

A good Surprise!

A compensar a má surpresa que recebi, lembrei-me que hoje, recebi uma carta virtual, da Catarina, durante a tarde.E mesmo que pela noite tenha recebido um email tao duro.
E como uma coisa boa, acaba sempre por apagar e superar uma coisa má, deixo aqui esta carta que me deixou com um sorriso rasgado e um profundo sentimento de calor humano.Apenas para fazer o frio ir embora.
Querida Catarina desculpa-me publicar, mas sei que nada escondes e agora que a carta é minha, deixa-me fazer dela sinal de Amor e Esperança!


Laclubar, Julho de 2010

Ritaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Destranca-me!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Que eu fiquei trancada do lado de fora!!!!

Olá meu amorzão! Como estás tu, minha perninha de pau linda???
Ai tantas saudades tuas opa! Dessa tuas tranças, do teu perfume, dos teus olhões a dizer-me “Catarrina….destranca-me!”
Há que tempos que ando para te escrever este e-mail mas a verdade é que a vontade, o tempo e a preguiça nem sempre ajudam.
Antes de mais, como estás tu? Essa experiência como está a ser? Aposto que estás a ter uma entrega total, transformadora e única. Recordo em cada dia a tua vontade, a tua gargalhada, o teu sorriso, o teu abraço….Ah Ritinha, como sinta falta do apertado abraço com que me presenteaste tantas vezes! É um abraço daqueles que nos faz sentir seguros, amados e seguros do mundo! Imagino que já tenhas feito muitos amigos por aí, que já tenhas revolucionado Bukareste e que essa seja já a tua casa!
Fico sempre tão contente quando nos cruzamos no MSN, ainda que sempre a correr. Como só vamos a net uma vez por mês, quando estamos online, é a loucura, é querer ver os e-mails e responder, é ter a janela do MSN a piscar vezes sem fim e depois no fim, é deixar tudo por fazer, nem se lê e-mail, nem se envia, nem se conversa, porque a internet de Timor Leste quando cai já não se levanta! Lol.
Pois bem, hoje vou dar-te essa viagem por Timor Leste que tanto anseias, através dos meus ol hos! Bora lá?
Bem, começa tudo em Lisboa, quando te sentas no primeiro de três aviões. Ansiosa, de coração saltitante, curiosa, desejosa de tanto! Quando finalmente te sentas no último avião, aquele que diz “Dili” como destino final, o cansaço já é tanto que já só pensas “ai que nunca mais chego! Credo!” . E depois, quando aterras em Dili, sentes que tudo o resto não importa, que foste conduzida ao paraíso, á terra onde Deus te chama a ser. Sais do avião e puf, um calorão!!! Que só te faz pensar “vou morrer mesmo antes de começar a missão!!!”. Mas avanças, fazes o check out e sais sorridente. No aeroporto esperam-te alguns dos que vão ser parte do teu dia, com um TAIS. Sempre que chega alguém estrangeiro, oferece-se um TAIS (hei-de levar-te um, mas só para teres uma ideia é como se fosse um cachecol…Aliás, deves saber, lol, a Renata já deve ter levado lol, parvoíce…Lol) para mostrar alegria e acolhimento. Nas ruas de Dili impera a loucura, no que diz respeito a transito… Onde cabem três filas de transito, eis que eles conseguem ter 5… Os táxis andam de um lado po outro sempre a apitar para chamar clientes… As motas enfiam-se entre os carros…Uma autentica loucura, diria mesmo que é a nossa IC19 x 2  (Vou passar a parte dos dias na cidade pois a missão é mais acima!) .Quando começas a viagem para Laclubar, e começas a viagem rumo ao sonho tudo é fantástico, vês o mar, uma vasta costa, um azul límpido, pessoas pescando, turistas banhando-se e em muitos sítios placas a avisar da possível presença de crocodilos. Nunca vi nenhum mas que os há, lá isso há. As estradas, mesmo as melhores, são assim um misto de buracos misturados com um pouquinho de alcatrão… Mas até Manatuto, menos mal, vai havendo sempre alcatrão…Depois é que é a loucura! Entras montanha a dentro e além das curvas que se sucedem, começas a ter uma estrada que nem sei bem se lhe podes chamar assim. Por aqui dizem que de Dili até Laclubar, passas pelo Céu, purgatório e Inferno. Vou falar-te do Inferno. Um pedaço de chão onde passam carros, onde em 100%, 94% são buracos, onde passas por autênticos precipícios… Onde nunca nos dias da minha vida pensei ser possível que passasse sequer uma mota, quanto mais um carro! Claro, a primeira viagem foi assim surreal, estava sempre á espera do momento em que o carro ia ravina a baixo…Lol.. Mas valeu a pena, chegas a Laclubar e é de facto um pedaço de céu!
Acordas de manhã com uma “licença” á porta de casa, que se segue ao sino das 6h (que agora por acaso, toca bem ao lado da minha janela do quarto!). sais á rua e é bom que tenhas em stock uma boa quantidade de bons dias porque não consegues caminhar muito tempo (mais de 10 segundos) sem ter de dar os bons dias a alguém… E as bênçãos, crianças que correm até ti e te pedem a bênção, senhoras cheias de sabedoria que te beijam a mão…
Cada dia é um momento único e inesquecível… Queria muito conseguir descrever-te ao pormenor o que vou sentindo, vivendo e experimentando… Mas como deves imaginar, perante tal magnitude do amor de Deus Pai, falham-me as palavras e as expressões certas para te conseguir transmitir o que vou experimentando…
Não te vou escrever sobre trabalho, sobre o que vou fazendo, sobre tarefas, sobre experiencias fantabulásticas de fazer muito sem ter quase nada, sobre ter de rentabilizar recursos quase inexistentes, sobre pensar que é impossível e no fim perceber que até superou as expectativas… Aprendi uma grande lição este ano, a este nível, que se pode traduzir por uma frase que vem num dos calendários dos Irmãos de S. João de Deus… “Faz o que podes, com o que tens, onde estiveres…”
Ai meu anjo, por mim estaria aqui a escrever horas a fio a contar-te coisas, a partilhar sentimentos, a dar-te conta de como vivo estes dias aqui em Timor.
Agora, começo a preparar-me para ir de férias. Um período mais longo do que o normal, devido á morte da Bá. Irei agora dia 28 deste mês e só regresso dia 26 de Dezembro. Passo lá o Natal e depois mais um ano em Timor  Estou feliz, confesso, receosa, consciente das dificuldades de um segundo ano mas animada pelo Espírito Santo.
Ver-te-ei em terras de Camões?
Abraço-te luz minha, com aquela saudade que não se explica, nem se traduz em palavras…


A tua Cata




É por isto que vale a pena sorrir, acreditar e nunca desistir.
Obrigado.Apesar de ter sido escrita em Julho, chegou no momento certo. 
 
 Bad Surprise!


Esta noite estava a ser uma noite muito feliz.
A minha última festa, com amigos que convidei de alguns pontos da Roménia, vieram para celebrar comigo a minha partida.
Mas subitamente recebi um email, de uma pessoa que me quis fazer pensar.(Segundo dizia)
Uma pessoa que não me conhece assim tão bem.
Uma pessoa que opinou sobre a minha vida e as minhas escolhas, como se este blog fosse uma Telenovela e ela seguisse atentamente todos o episódios.
Pediu-me que não publicasse o seu comentário e a isto eu chamo, cobardia.É forte para me dizer á distância o que pensa, por um email, mas não pessoalmente.

 Acusa-me de:


1.Ter fugido da dor da morte do meu Pai.

Cada um encontra os mecanismos que possui, para fazer face á dor.Ter vindo para a Roménia é encarado por alguns, como uma fuga, mas fuga do quê?
A dor continua cá dentro, apenas suavizada, porque amei e fui tão mas tão feliz na Roménia.
Ninguém foge da dor, é impossível fugir dela.O que eu fiz foi encher o coração de coisas novas, de experiências enriquecedoras e concretizar algo que queria há muito tempo.Só não o fiz antes porque a minha família em especial o meu Pai.Precisavam de mim.E ali estive, forte e presente.
Entendi partir, e sei hoje que essa foi a melhor opção.


2.Não ter feito o luto.

Eu vou levar o tempo que for preciso, para fazer este Luto, não o quero fazer o mais depressa possível, e enterrar a questão, quero fazê-lo no meu tempo, no meu ritmo, porque me sabe bem pensar no meu Pai.Embora sinta saudades.
Sobre o meu luto eu agradecia que ninguém , mas mesmo ninguém opinasse, se não for para ajudar.Para fazer-me sofrer, já basta tê-lo perdido.Luto não significa usar roupa preta, eu sempre fui uma rapariga cheia de cores, e isso faz-me bem á alma.O luto não significa não festejar a vida, não sair de casa,não cantar, sorrir, dançar.O luto cada um sabe como o faz, ninguém está dentro de ninguém o suficiente, para avaliar o luto de cada um.



3.Não conseguir ajudar os outros, porque não os coloco no centro da minha vida.

Este ponto, deixa-me realmente triste por não ter um quê de verdade.
Que me lembre faço voluntariado desde os 14 anos, passei mais de metade da minha vida em missão, Tenho como principal objectivo na minha existência, ser útil aos outros,servi-los, amá-los e fazê-los felizes.Minimizar as suas dores, com a minha alegria, mostrar-lhes que podemos vencer tudo nesta vida se assim quisermos.Eu sei que já mudei a vida de muitas pessoas, e ás vezes apenas com um gesto, ou palavra.Porque muitas pessoas o fizeram comigo também.
Ora estou na Roménia, inserida num projecto e vou estar noutro em breve, porquê?
Para mostrar que faço alguma coisa na vida?NÃO.Não preciso de mostrar nada a ninguém, eu de facto tenho uma vida e muito bonita e abençoada, que agradeço todos os dias e procuro aproveitar da melhor maneira.Esta é a forma que eu encontro, se está certa ou errada, cabe a Deus Julgar a mais ninguém.
Ajudar os outros não significa esquecermo-nos de nós.


 4.Tenho medo do regresso a casa.

Medos, tenho alguns. Se perdi o medo da morte, quando a enfrentei de pé e bem de frente, não vai ser agora que vou ter medo, seja do que for.
Receios, todos temos.E sim o receio do que vou encontrar é um direito, ou não?
Atire a primeira pedra que nunca teve medo?As mudanças são sempre fonte de receios.Estou prestes a enfrentar mais algumas mudanças.Mas elas renovam-nos.
Apesar de tudo, eu sei que acabo sempre por superar os meus medos.E isso chama-se vencer.
Felizes aqueles que temem, e mesmo assim avançam no seu caminho.


5.Não deveria criticar a minha irmã.

Talvez, mas é muito bonito falar quando se está por fora.Eu tenho toda a moral, para o fazer.
Eu é que aguentei o barco, com o meu Pai, estes anos todos, eu é que fiquei em casa e fui o suporte dos meus Pais.Em tudo e ainda sou.E nunca senti, mas mesmo nunca a presença da minha irmã.
Porque havia de o esconder?É mais um facto da minha vida.Não tenho vergonha disso.Apenas mágoa.
No entanto a vida deu-me tantos outros irmãos, que chamo pelo nome, sem laços de sangue, Clarinha, Renata, Helena, Beta,Márcia,Duarte, Paulinho, Analu,Zélia...e perdia a conta agora.
E se me exponho por inteiro, porque havia de o esconder.Não posso entender que alguém como a minha irmã,ajude os que estão fora, como profissão, e não queira saber dos que são do seu sangue.Não me cabe na cabeça.Antes de vir para a Roménia eu cumpri a minha missão com a minha família.Com o meu pai.Entreguei-o nas mãos do Pai e a seguir também eu me entreguei nas suas mãos e foi isto que ele quis para mim.E eu sigo as suas directrizes.E nunca me arrependo.

6.Que vou escolher uma pessoa para ir comigo para a Turquia, para me ajudar a mim e não o projecto.

Ora, a pessoa está quase escolhida.E eu não a conheço bem.Estamos as duas a zeros, ao mesmo nível, indo para  uma realidade que desconhecemos, abraçando um projecto.Uma coisa sei, é uma pessoa simples, de coração aberto, com vontade de ajudar e que fez um excelente trabalho com os seus meninos, numa colina Algarvia, que muito poucos querem saber.Numa escola pública, onde os recursos faltam e a distância dificulta.Não é só nos meninos de África ou Timor, que as dificuldades existem.
E ela soube fazer do pouco, muito.Com garra, determinação e alegria.E por esse motivo, eu penso seriamente em aceitá-la para o projecto.Precisamente porque não a conheço bem, mas acredito na sua capacidade de trabalho.

Uma das últimas citações do email, não posso deixar de citar:

"No regresso, não contes com "Tapetes vermelhos". O que foste fazer não é digno de admiração, nem de aplausos.Humildade!!"

Bom, o que posso dizer?
Eu que parti sozinha do aeroporto, numa madrugada em que levava na bagagem chamada coração, todo o amor que podia,apesar de ter sofrido recentemente uma perda incalculável.Parti sem cânticos,sem letreiros de boa sorte e com o meu nome escrito, sem abraços, sem serem publicadas quaisquer noticías sobre a minha partida numa resvista, site, jornal ou mesmo Tv!Onde estão as passadeiras vermelhas?
Eu que vou chegar sozinha e terei provavelmente 1 amigo á espera.Mais uma vez sem tapetes vermelhos.
Não me acho o máximo porque vim para a Roménia, a minha noção de mim mesma e das minha capacidades já estava há muito fundada.Vir para a Roménia foi em grande parte provar a mim mesma, aquilo que posso fazer e ser neste mundo.Mas foi sobretudo compreender esta  realidade e poder ser parte dela ajudando-a de alguma forma.E consegui.E então agora, que estou tão mais forte e cresci em tantos aspectos.Eu acho que agora já nada me vai parar.

Para fechar disse-me ainda:

"Faz o favor de fazer os outros felizes."

Sim senhor, terei isso em conta,não como algo que nunca tenha realizado, mas como algo que pretendo fazer ainda e sempre mais.
O pedido é caso eu me esqueça de fazer os outros felizes?
Não me parece que isso seja possivel de esquecer, para mim.

Que posso eu dizer, depois de um email assim?
Deixa-me tão triste.Deixa-me tão desiludida.
Faz-me pensar em como as pessoas são más, quando vêm a vida dos outros por um canudo.E opinam sem saber a verdade.
Porque por mais que doa, é a verdade que eu uso e vai permanecer em tudo o que faço, sinto, escrevo e vivo.E isso dá-me a maior leveza de alma que algum dia podia ter.
 Este blog, não é uma telenovela, é uma vida real, em tempo real, que existe, que sofre, que vive, que se alegra, que chora, que grita, que se sente frágil e forte também.Mas nunca envergonhado.
Em 6 anos, de blog, quase, nunca recebi um comentário tão frio.
E pensar que esta pessoa se prepara para ser exemplo para os outros de tantos valores.Deus nos proteja!


E contra o que é frio, o que é quente e macio, por isso deixo a esta pessoa a mensagem do António feio, pode ser que quebre o seu coração de gelo e a faça pensar o quanto foi cruel nesta noite: 


"Aproveitem a vida, 
e ajudem-se uns aos outros.
Apreciem cada momento e agradeçam.
Não deixem nada por dizer, 
nada por fazer."




Assim farei.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

 The Future...Is a promise.







Não consigo explicar o sentimento que se apodera de mim estes últimos dias.
Adormecer é uma aventura, passam horas e eu ás voltas a pensar em tudo o que se vai passar em breve, tudo o que está para vir, de novo.

O que me tira o sono é também o regresso a casa.Entrar pela porta e não encontrar o meu Pai, vai ser no mínimo doloroso e vazio.Não esquecendo é claro, que ele me acompanhou e protegeu estes meses todos e assim vai continuar a fazer.Eu sei.
Mas encontrar a minha mãe, a possibilidade de a encontrar abatida e desfeita pela perda da pessoa que partilhou toda a sua vida, durante mais de 30 anos.E ter que conviver, ainda que por um mês e 5 dias, com todas as memórias que compõem a minha casa.Fotografias, recantos, cheiros.
Estou certa que muito ou pouco mudou desde a minha partida.Que a minha irmã continua ausente e a não dar o apoio que a minha Mãe precisa.Talvez simplesmente porque não o sabe fazer.
E sei que a dor vai voltar a ser mais forte.Porque aqui pude esquecer-me dela por instantes.Não é bem esquecer, mas ocupei-me de tanta coisa, e fui tão feliz, que a dor acaba por suavizar.Mas mais uma vez, encho o peito de ar e coloco a possibilidade de me surpreender.De não sentir a dor mas o calor de uma casa que é a minha e que me acolhe sempre e para sempre.A casa onde o meu Pai me educou e me deu estes valores que trago comigo como uma marca, que jamais alguém pode apagar.

O que me perturba  mais, no meio de todos os pensamentos, é que penso imenso nos últimos dias que estive com ele, nas coisas que se disse e no sentimento de não poder agarrá-lo á vida, por mais que quisesse.
Penso no seu último Natal, em casa, sabendo todos que seria o último, mas a alegria que foi recebê-lo nesse dia.E na desilusão que foi para todos, que a minha irmã escolhesse passar o último Natal com o namorado, em vez de passar com o seu Pai.
Penso em pequenos detalhes, e episódios dos seus últimos tempos, das minhas corridas incessantes para o hospital, das horas extra que os enfermeiros me deixavam ficar com ele,por saberem que o tempo se esgotava.
Penso no seu sorriso a última vez que o vi.E como nunca imaginei ser a última vez por mais que o esperasse.
E no dia em que recebi a notícia que ele tinha falecido, pela boca de um médico que foi tão frio.
Penso no dia em que tive que reconhecer o corpo e senti o frio nos meus lábios quando o beijei.
Penso no dia em que o vi entrar pelo Telhal, no carro funerário e no momento em que fechei a porta da casa mortuária, e fui a última a sair, deixando as janelas abertas para o ar fresco da noite o beijar.
Penso a última vez que vi o seu rosto, no cemitério em pleno Alentejo, rodeada de gente e o sol começou a brilhar.
Penso nisto, inúmeras vezes antes de adormecer.
Mais do que antes, agora que a partida se aproxima.Das primeiras coisas que quero fazer é ir ao Alentejo ver a sua campa e passar horas esquecida a contar-lhe tudo o que senti.

Preocupo-me com a vinda breve do Duarte e a nossa roadtrip, preparei tudo com imenso cuidado, escolhi os locais mais interessantes, tive em conta passar pelos amigos espalhados por aí, para me despedir e assim sempre fugimos a dormir num hostel e somos acolhidos com sorrisos e um forte abraço.É uma forma de fazer sentir a alguém que gosto muito a realidade que construí aqui, estes meses.Receber a 1a visita de Portugal em 6 meses, faz-me pensar.

Mas não é só a Roadtrip que me deixa ansiosa, é o facto de estar a viver os últimos dias nesta casa.Nesta cidade.Com estas pessoas.Penso e repenso momentos partilhados, bons, muito bons, e mesmo os mais duros.Todos foram muito importantes e me ensinaram algo.
Não posso deixar de dizer que me sinto mais adulta, agora que sei que sim, que posso viver sem a protecção dos Pais, da casa onde cresci e do País do sol.Que comprovei a mim mesma e a mais ninguém, que sou capaz de tomar conta de mim, e de me adaptar seja onde for, e viver bem com isso.
Passa-me pela cabeça viver e trabalhar numa dessas realidades que vou encontrar,ou que já encontrei.Mas por outro lado deixar o meu Portugal é algo que me parte o coração.Sim, 6 meses ou 1 ano é tempo, mas sabemos que voltamos no final.E isso reconforta.


O que me preocupa um bocadinho, é o check up médico no Ipo, no mês de Outubro.Tenho que ir lá 3 dias diferentes.Sinto-me bem, nunca fiquei doente aqui.Mas sempre que tenho que ir lá o meu coração aperta.E se...?é sempre uma dúvida.Mas no fim, quando marco a próxima consulta para daí a 6 meses, é um alívio, que só me apetece festejar.
Há 6 meses, que não sou vista por nenhum médico e que não faço análises.Estou curiosa para saber como me andei a tratar estes meses, em que reduzi o consumo de carne e passei a comer imensos vegetais.Isto deveu-se ao facto de viver com uma vegetariana e de ter assumido o comando na cozinha.A verdade é que me sinto melhor agora.Não creio que me vá tornar vegetariana, porque ainda há dias meu deu uma pancada que tinha que comer um bife e fui comprá-lo e cozinhei-o e soube-me tão bem.Mas é uma vez num mês que sinto essa necessidade.Mas vai correr tudo bem.

Também tenho pensado na minha ida para a Turquia, embora esteja certa que o quero fazer, preocupa-me quem irá comigo, pois cabe a mim escolher a voluntária que vai fazer projecto comigo.Isto não é bem uma preocupação, mas uma ansiedade boa de sentir, pelo desconhecido que aí vem, mas que quero tanto descobrir.Há imensas coisas neste projecto que quero abraçar.

E por fim preocupa-me não ter todo o tempo que gostaria para estar com todos os amigos, que quero visitar e abraçar ainda que por uma vez, no mês que vou estar em Portugal.Um mês dá para muita coisa, mas e se não chegar?Se não chegar, os que me amam, sabem bem que estou a realizar o meu caminho, pelas minhas escolhas.
Porque descobri ainda mais aquilo que no fundo eu já sabia.

Que a nossa missão, não depende de ninguém, de nenhuma instituição, de nenhumas regras, requisitos ou preferências pessoais.Depende única e exclusivamente de nós e do amor que temos para dar, da nossa força, da nossa capacidade de lutar.E se há quem não queria aproveitar este amor gratuito e espontâneo, eu conheço muitos locais e pessoas que precisam dele desesperadamente e sim, eu irei.

Apesar de todas estas preocupações que me ocupam a mente, estou orgulhosa de tudo o que fizemos aqui, de tudo o vivi e muito feliz, porque sei que em breve estes medos se vão dissipar, como todos os outros que já senti nesta vida.

Até breve.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010


Music and Film DONE!







 

 



Hoje, foi uma dia para uma experiência muito interessante.Já tinha estado num estúdio, e gravado.Mas desta vez ia meio perdida com algumas ideias da música que queria para o meu filme, e sem dar por isso ela surgiu muito livremente.Graças ao Radu, que é um talento a criar.Ideias dele, minhas e muita criatividade e liberdade de expressão.Gravámos por etapas, primeiro algum ritmo, depois alguma melodia, depois os instrumentos.Mesmo as frases ditas entre gravações foram aproveitadas e em modo de repetição, ficaram espantosamente bem na música.Não podia deixar de dar um toque Português á música e sim, cantei num tom totalmente diferente alguns excertos de músicas que me dizem muito:"Oh gente da minha terra, agora que eu percebi"...."Mas porque é que a gente não se encontra"...e ainda:" É este o nosso compromisso, o combinado é não esperar..."
O resultado é surpreendente e em 4h, gravamos tudo.É mágico como dentro de um estúdio se perde a noção do tempo e apenas nos focamos em fazer bem o que queremos transmitir.No final a junção, filme e música foi perfeita.
Apenas vou poder partilhar, quando regressar da Roadtrip dia 29, ou mesmo depois de chegar a Portugal.No final do projecto.Ainda faltam os filmes de alguns aqui em casa.Eu fui a 3a a terminar, faltam outros 3.
Estou ansiosa por partilhar.
A última foto de hoje, foi um presente que a Kiki, me trouxe de Atenas, onde esteve a semana passada.Cores diferentes, mas uma lembrança para nos unir.Coisas simples.Cores dentro e fora de nós.
A Kiki, vem visitar-me a Portugal no final de Outubro e vais ser um prazer mostrar-lhe a minha Lisboa!



Ps.Já agora, no projecto da Turquia precisam de mais uma voluntária, Portuguesa, para ir de Novembro a Abril comigo, em projecto.A vida não pode parar e aquilo que desejamos de verdade muito menos.
Manifestem-se!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Last week in Bucuresti, this and that...


Nos últimos dias não tenho dado especial atenção
 ao blog, vou registando os meus momentos, mas prefiro vivê-los a sentar-me a escrever.Tenho que os viver intensamente, como aliás faço sempre, mas agora mais do que nunca.
Resta-me mais uma semana aqui em casa.


1.




Ontem a Irina, a professora dos nossos meninos da escola nr.5, veio buscar-nos a casa, para darmos uma voltinha de mota.Foi muito giro, estar no meio do trânsito de Bucareste e olhar para o mundo com o vento a bater-me na cara.É adrenalina, quando aceleramos, eu sempre achei a mota um transporte inseguro, mas de facto gostei imenso.Acho que vamos repetir  antes de irmos embora, mas numa volta maior!Confesso que as pessoas ficam diferentes dentro de um capacete e um casaco de cabedal, não parecia de todo a Irina que conhecemos!E meter o meu cabelo dentro do capacete foi uma aventura enorme!



2.









Bom estas imagens são apenas um bocadinho do short film que estou a preparar, para conclusão do projecto.Tem sido interessante aprender como editar um filme, e muitas outras coisas que aprendemos ao longo destes meses, podemos agora pôr em prática sozinhos.É bom sentir a aprendizagem e as ideias a fluir.
Tenho-me dedicado a isto e amanhã vou passar umas boas horas num estúdio, para compor uma música e talvez cantar, e assim faço a música para o short film.(E não, não estou grávida, é apenas uma almofada!)


3.





E temos andado em limpezas, para quem não sabe, houve uma inundação no nosso apartamento, depois de um dia sem água, ao fim do dia a água voltou, e as torneiras estavam abertas.Água quente, correu durante horas para todo o lado.Depois foi o caos,3h a apanhar água e a arrancar a carpete e limpar tudo.Mas ainda nos divertimos, não vale a pena fazer dramas.Ainda me dói os músculos das pernas e dos braços da ginástica que foi.Agora que a Hannah já não está no quarto da Kristine, ela dedica-se a colocar as coisas um pouco mais organizadas.Hoje é o meu dia de limpar a sala e começar a empacotar as minhas coisas, pois esta é para mim a última semana em Bucareste. =(




4.




Bom, os meus dotes culinários têm-se revelado,estou certa que os herdei do meu Pai,ele cozinhava dos Deuses, e mais do que isso, fazia tudo com Amor e carinho e por isso me sabia sempre tão bem! Esta é uma refeição rápida e comum, mas desde que cheguei á Roménia tenho cozinhado mais do que alguma vez imaginei.A cozinha é aliás a minha divisão da casa onde passo mais tempo e gosto de estar.Novos ingredientes fazem parte da minha alimentação, novas especiarias...e gosto de me sentar para ter uma refeição demorada e conversar.O toque Português, em tudo o que faço, muito alho e cebola para dar gosto,está claro!A verdade é que quem prova se delicia!E eu também!E sim tenho receitas Romenas que quero fazer em Lisboa, e convidar alguns amigos para provar!Aguardem-me!



5.






As últimas noites aproveito para ir beber um chá, e estar com os amigos que fiz aqui e que sei que ficarão para sempre.Podemos nunca voltar a encontrar-nos, mas eu sei que amizade foi aquilo que se partilhou.Muitas gargalhadas, muitas noites de boa conversa e abraços, daqueles que só conhecia em Portugal.Mas não, aqui também há quem os consiga dar e muito bem!As duas Andreeas, foram companheiras do caminho e espero que me visitem em Lisboa para o ano no verão!



6.



Este é o plano que me tem tirado algum tempo nos últimos tempos a pensar e a planear a melhor maneira de ir á aventura e descobrir a Roménia, com o Duarte, que chega já dentro uma semana.
Vamos percorrer muitos Km, isso estou certa, e ver alguns amigos que fiz espalhados pelo País.
Alguns juntam-se a nós a meio, no fim de semana, em Sighisoara.Terminamos em Cluj,dia 29,de onde o Duarte vai voar, para Milão e depois para Londres e de onde eu vou partir rumo a Bucareste de comboio e fazer 11h de caminho, sozinha com os meus pensamentos.
Dia 30 pela noite, estarei a aterrar em Lisboa a minha querida cidade, com o coração cheio e a transbordar, pronta para vos abraçar!


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

 Talking with Tibi





Sadako Sasaki (em japonês: 佐木禎子?), foi uma menina japonesa que morou na Província Japonesa de Hiroshima, Japão, quando a bomba atómica foi lançada. Ela tinha apenas 2 anos de idade quando se tornou uma hibakusha,que significa, vítima da bomba atómica.
Em 3 de agosto de 1955, Chizuko Hamamoto, amiga de Sadako, visitou-a no hospital e fez para ela um origami de um grou, o mesmo pássaro que está na fotografia.A sua amiga  contou-lhe a lenda popular japonesa onde quem faz 1000 grous de origami tem direito a um desejo, desde então, todos os dias Sadako passou a fazer os seus grous sempre com o mesmo pedido, de se curar e voltar a viver normalmente.
Sadako faleceu na manhã de 25 de Outubro de 1955, e após sua morte, foi construída uma estátua em sua homenagem.






Hoje eu tive o privilégio de encontrar o Tibériu, o rapaz a quem fiz uma entrevista no inicio do projecto, e podem ler no mês de abril ou Maio no blog, a entrevista com ele.
Tibi é um rapaz que se debate com uma luta diária, na sua mobilidade.Mas que caminha mais, bem mais do que qualquer um de nós por dentro.E a sua limitação torna-se invisível, aos nossos olhos, peça sua beleza interior.Hoje enquanto esperava pensativa o 66, cruzámos-nos na paragem do autocarro, quando vinha do escritório e convidei-o para almoçar em minha casa.
No seu passo lento Tibi, acompanhou-me, eu cozinhei e falámos toda a tarde, partilhando vídeos, sonhos, músicas.Ele tem dentro de si, uma beleza extraordinária, que me inspira, absolutamente.Terminou o seu curso e pensa tirar o mestrado em Antropologia.É um conhecedor da história da Roménia como não encontrei ninguém e ensina-me sempre imensas coisas.
Hoje ensinou-me esta história Japonesa e fez para mim, um Grou, que vou guardar com muito carinho.
Ele já fez 100 ainda falta muito para 1000 e pedir o seu desejo, mas tenho a certeza que Deus o ajuda diariamente.E o seu maior desejo é aquele que concretiza aos poucos, viver e ser livre, espalhar amor.Tibi irradia uma luz e uma energia muito bonitas á qual penso que ninguém fica indiferente.
Porque as pessoas que sofrem mais, acabam sempre por nos tocar mais e ser exemplo de vida.
Despedi-me dele com um abraço apertado e fiquei a vê-lo ir embora pela rua fora, com as suas canadianas, mas decidido e sabendo bem aquilo que quer, e onde quer chegar.
Antes de me ir embora, quero despedir-me dele, porque nunca vou esquecer as suas palavras sábias e doces acerca de tudo aquilo que retira do mundo.Estivemos todos estes meses sem nos encontrar-mos, mas este reencontro foi sem dúvida o melhor que podia ter acontecido.
Enquanto ainda estou aqui, penso, como é bom estes momentos e como nos marcam para o resto da vida!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Perfect Day.Perfect Night