domingo, 29 de abril de 2012

Mbuna Bay, day 2















































Acordo, com os passos na varanda.Vêm deixar o chá e as bolachas, para começar bem o dia.
Oiço as ondas a rebentar e o canto dos pássaros.Um raio de sol, teima em beijar-me o rosto e isso faz-me saltar da cama.Abro a cortina da grande janela e deixo-me ficar assim, maravilhada pela vista.
Acordar assim é um privilégio.Penso em todos aqueles que amo e agradeço mais um dia de vida.
Ao sair, o ar puro...e o vento fresco toma conta dos meus sentidos.O sabor do chá e os olhos postos no azul...dizem-me coisas sobre o futuro.As que sonho.
O dia arranca com um mergulho nas águas já mornas das 7h da manhã, dou umas braçadas e imagino um crocodilo ou um hipópotamo a surgir e isso faz-me sair em busca do pequeno almoço.Acordar cedo aqui, não custa, quando se tem um lago inteiro á nossa espera.
Na mesa, estão já, Finlândia, Holanda e Suíça em amena cavaqueira.Junto-me a eles.Delicio-me com um copo de leite fresco, pão com manteiga de amendoim, salada de frutas e ovos mexidos.Para terminar um café.
Ali mesmo, se decide fazer uma caminhada até á casa do chefe da aldeia.Fico entusiasmada.Gosto de aventuras.Grandes ou pequenas.Calcei os ténis que me emprestaram...e pus-me ao caminho.O sol queimava.
Visitámos a aldeia da tribo Nianja, que ali vive e trabalha.As crianças essas, nunca passam despercebidas.É Sábado, a aldeia está calma...e cheia de gente que simplesmente observa.Um grupo de 6 brancos, faz a agitação acontecer.Fotografias, brincadeiras, dialecto.O centro comunitário, criado por Mbuna Bay, está ainda a evoluir, contando já com uma biblioteca e um espaço para aulas de inglês.
A caminhada continua,pelo meio dos campos de milho e batata doce.O lago sempre ao nosso lado.
Por fim e depois de muito caminhar e sentir o sol a queimar-nos a pele, chegamos a casa do chefe da aldeia.Um homem de 95 anos, que nunca irei esquecer.O rosto marcado pelo tempo.Viajou por todo este continente, outrora um homem respeitado e com poder de decisão, entre aquele povo.Agora abandonado pelos filhos, que perante a sua doença, apenas lhe delegam os netos, para que cuide deles e nada mais querem saber.É triste.Ele lamenta-se em dialecto, que nos é traduzido por um habitante local, o cozinheiro de Mbuna Bay.
O seu desejo, é atravessar o lago e ir morrer ao país vizinho, Malawi, onde tem um filho que ama, que cuidará dele.Tem a mulher ao seu lado, e dois netos, que de olhar assustado mostram bem a tristeza de se sentirem sós.Não é só em África que isto acontece.Relembro a forma como cuidei do meu pai, até ao último dia.E sei o que sente este homem, quando diz que não entende...porque o abandonaram.Estamos ali para ajudar.
Ao ver o seu passaporte, percebo que viajou muito, que tem histórias.Agora cego, sente o mundo com as mãos e os sentidos que lhe restam.A minha vontade é abraçá-lo.É um feito, viver até aos 95 anos, em  Moçambique.Olho-o uma última vez com admiração.Partimos felizes por ter ajudado aquele homem a sair dali e a morrer junto de quem o ama.Todos temos direito a escolher.Regressamos a Mbuna Bay, pela hora de maior calor, passando de caminho pelo centro de saúde, pela escola, e pelo campo de futebol, cruzando-nos sempre com os habitantes que nos acolhem de sorriso no rosto.
Mil e uma brincadeiras com as crianças.São cor.Seja onde for.
Ao chegar a Mbuna Bay, um mergulho e o almoço espera-nos.Detemo-nos em conversas soltas, do mundo.
Pela tarde, uma leitura e uma sesta na rede, embalando os sonhos.
Ao acordar, um banho de sol...um mergulho e mais um banho de sol.Até ao sol se pôr, vermelho no horizonte, deixando ver as montanhas do Malawi.Deixo-me ir, caminhado pela praia...deixo que o anoitecer me lave os pensamentos...e me deixe, serena.Surge a primeira estrela...e não preciso de mais nada.Estou exactamente onde deveria estar.
Antes do jantar, acendem-se pela areia, lanternas...que nos guiam o caminho.Velas esperam por nós.
Partilhamos mais uma refeição, regada com um vinho que nos vai relaxando e deixando gargalhar.
Ao longe apenas as luzes dos pescadores, como pontos de luz na escuridão.Estrelas cadentes cruzam o céu...e eu deitada na minha rede, mais uma vez, na última noite no paraíso, balanço-me delicadamente, fechando por vezes os olhos.Sentindo algo ou alguém.
Á cabeça vem um pouco de tudo.Pessoas, lugares, sentimentos,desejos...planos.
Sorrio e recolho, á minha palhota, onde adormeço.
Fica apenas, o som do lago...e aquilo que em segredo, lhe confessei.












sexta-feira, 27 de abril de 2012

Mbuna Bay,day 1




































Mbuna Bay...depois de 2 meses de trabalho consecutivo e de dias atribulados, rumei ao meu pequeno paraíso.
Um pedaço de céu, á beira lago plantado.
A última vez que ali estive foi em Setembro do ano passado, com a Benedita.
É sempre diferente estar acompanhado, mas desta vez tenho que confessar que clamava por uns dias longe de tudo e de todos, sem mais nada a importunar-me fosse de que jeito fosse.
Foi simplesmente perfeito.Já o tinha planeado ir de chapa até Metangula, mas a boleia do nosso próprio carro, apareceu na hora certa.
Depois de 120 Km em alcatrão, e mais 17km em picada, cheguei por fim ao meu destino...no qual pensei tantas vezes, quando estive longe.
Depois do almoço, fizemos a habitual visita guiada pela machamba, por todas as partes que fazem parte deste projecto...e já melhoraram a vida de tanta gente, daquelas aldeias vizinhas.Este lugar, não é apenas um hotel, é um local que auxilia muitas famílias, apoiado num ideologia muito particular, onde não se dá tudo, mas ensina-se a lutar por aquilo que se quer.
Antes de Mbuna Bay, existir, a aldeia tinha muito menos coisas...as pessoas viviam pior.Este sonho, trouxe progresso e segurança a estas tribos Nianja, que ali vivem nas margens do lado.
Tudo se harmoniza por ali.A forma como nos recebem, onde nos sentimos em casa...a forma como a nossa mente se liberta de tudo e se concentra apenas no rebentar das ondas, que me trazem a ilusão do Oceano, faltando apenas o cheiro a sal...
A água morna que nos embala, o anoitecer perfeito deitada na rede do meu quarto...onde todas as constelações se podem ler...a lembramça de momentos ali partilhados.
O simples estar.Deixar o sol queimar, sentir a brisa, respirar...acalmar.Este lago tem magia, tem força, tem uma pureza única, onde queremos sempre voltar.
O primeiro dia, terminou com um jantar,interessante, um casal Finlandês a trabalhar por ali, um Holandês que anda em viagem há 2 meses por países Africanos e 2 Suiços, uma delas a criadora deste sonho, chamado Mbuna Bay.E depois Portugal, representado por mim.A conversa fluiu até tarde, ao som de grilos e ondas que não cessam.De tudo se falou, conversas cativantes e profundas, conversas actuais, para pessoas que sabem tê-las e com quem se pode abordar um pouco e tudo.Já sentia falta disto.(Ás vezes vejo-me rodeada de gente limitada a muitos níveis.Gente que parece não querer aprender e não ensina nada.Real.)
Adormeci por fim, com aquele sentimento de paz, embalada pelos sons, cheiros, cores...á minha volta e melhor que tudo,sabendo o que iria encontrar ao acordar, sorrisos, boa energia e azul a perder de vista, por certo.


Transformar...


Antes















Depois










A equipa!





Assim dá gosto trabalhar.
Foram dois dias das minhas férias, em que resolvi dar novo rosto ao refeitório da escolinha.
A maravilhosa equipa desta escola, aderiu e foram dias cansativos mas muito alegres, de cantorias e pintadelas onde calhava!Muito nos rimos...e suámos.
O resultado, o sentimento de missão cumprida e um local mais luminoso e colorido, para os nossos meninos!Porque é em pequenas coisas que se dá mais, essencialmente...
E cor por fora, cor por dentro.
Done!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Páscoa


















Passar a Páscoa, com a família que nos foi confiada...ou que não escolhemos, é um desafio.
Muitas das minhas Páscoas, foram passadas em Taizé ou no Telhal.Em serviço.
Aqui não é diferente, estou em serviço.
Foi uma Páscoa, sofrida, pela forçosa tomada de decisões.Pelas obrigações que isso implicou.
Mas também foi uma cruz que tenho vindo a carregar,que de certa forma terminou.
A nossa cruz interior, e todos carregamos uma, essa é algo que nos acompanha pela vida fora.
Ás vezes encontramos alguém que nos ajuda a levar essa cruz, caminhando ao nosso lado, outras vezes, alguém que ainda nos coloca mais peso em cima, outros ficam indiferentes...há de tudo.
Engraçado é pensar, que neste local, tudo o que viemos fazer, foi AJUDAR.
Estamos aqui para ajudar, tudo e todos, o máximo que pudermos.E se não começamos por ajudar o que está ao nosso lado, não poderemos ajudar mais ninguém.
Mas é legitimo que nos queiramos ajudar a nós mesmos.Há um trabalho e caminho pessoais, que só nós podemos fazer.É certo.Mas estender a mão e dizer, "não sou capaz sozinho", é mais que normal e humano.
Eu iniciei o meu.
Vivo-o a cada dia,com altos e baixos.Mas ainda assim, com todos os baixos é um caminho do qual me orgulho.
Porque mal ou bem, procurei sempre ser melhor, onde e com o que tinha.Ás vezes pouco, muito pouco.
Foi a primeira Páscoa em que me senti longe.longe,longe e com imensas saudades de casa, de Taizé, do Telhal e de toda a alegria genuína que já vivi...e experimentei.Embora o sorriso estivesse lá, o desejo era o de silêncio e um abraço  firme de quem em conhece bem.E culminar com aquela alegria única...própria deste tempo.
Vale a ressureição de cada dia, feita junto dos meus Konguitos...esses que me renovam constantemente.
E as memórias doces, tão doces de Páscoas profundas.
Se esta o foi, deve-se ao local onde aconteceu, que tanto me diz.