quinta-feira, 28 de abril de 2011

Isto de mudar de realidade...







Ainda não estou aqui.Ainda não aterrei.
Será comum este sentimento, aos que passam tanto tempo fora, e regressam de repente á sua realidade de sempre.
Leva tempo, até que nos habituemos de novo, aos recantos, á casa, ás ruas, aos sabores, aos cheiros,tudo nos é familiar e estranho ao mesmo tempo.
Há um silêncio que vem repentinamente, e nos faz perder nas recordações...que parecem estar tão frescas ainda, mas no entanto no passado.
Foi o ano que foi.E por mais que queira terminou.
Isso dói, como dói quando nos despedimos de alguém por longos períodos de tempo.
Tenho imensas saudades.Só penso em voltar rapidamente.
Acho que se me permitir a uma adaptação lenta de tudo isto, será pior.
Custa-me dizer isto, mas já não sou daqui, sou do mundo.E dizer o que sinto será sempre uma prioridade.
Ainda assim, respiro este sol, respiro os rostos e as almas bonitas que vou reencontrando e faço planos a curto, muito curto prazo, para os dias que se seguem.
Tudo o que quero é sonhar, ainda e um pouco mais com tudo o que as minhas mãos tocaram e os meus olhos viram.Que foi tanto e tão precioso.
Boa noite.

terça-feira, 26 de abril de 2011

A casa do Alentejo!




Para terminar o dia de Páscoa, fomos entre amigos á Casa do Alentejo, tomar café.Há muito tempo que não voltava a esta casa.
Este local é inspirador pelas suas influências Árabes é de uma beleza e frescura únicas.
As luzes, o telintar dos copos e talheres e todos os traços que nos remetem para um conto de fadas.
A noite estava amena e pelas ruas de Lisboa as pessoas moviam-se com graciosidade e vontade de permanecer, um cheiro a verão começa a pairar por aqui e por ali em certos dias.
Soube-me bem andar a pé pela minha cidade...olhar as luzes, os recantos.Os cheiros.
E o sabor do café acompanhado de risos e um céu estrelado, foi perfeito.
Regressei a casa grata pela companhia e pelo momento.
Se puderem visitem...vale a pena.

Páscoa hospitaleira Telhal 2011




















































Estas são as imagens que podem em parte transmitir a minha Páscoa.
Mal cheguei de Turquia, passei uma noite em casa e vim logo para o Telhal.Esta é uma casa, que sinto um pouco como minha.
Foi tão bom rever tantos rostos, voltar ás minhas tradições e ritos, falar a minha língua por inteiro.
Soube bem parar, e conduzir o melhor que pude, estes jovens até uma ressureição que acabou por ser em pleno.
Este ano, eu mesma dei-me conta que a minha forma de animar está diferente.Posso compreendê-los melhor.
Tivemos muitos jovens que não são crentes e nada têm a ver com a Igreja, mas que serviram os doentes de forma exemplar, e bem melhor do que muitos que se dizem crentes.Fiquei muito contente e isto só prova que a JH e o Telhal estão abertos a todos, porque Deus Ama a todos de igual forma.
Foram dias de serviço, de muito cansaço, que é o que acontece quando nos entregamos pelos outros por inteiro.O grupo foi fantástico, cumprindo horários e regras, mantendo a alegria constantemente.
Eles foram o meu grande abraço de regresso...eles O Alberto, o João Nuno com quem tive o prazer de animar este campo e é claro o Deodato e todos os doentes que eu amo e me fazem amar a vida, todos os que me ocuparam o pensamento quando estive longe.
As palestras foram todas muito interessantes, a mim calhou-me falar sobre a morte, e dar testemunho da minha experiência, ao João Nuno, sobre o Silêncio e a nossa querida Laurinda Alves, sobre o voluntariado.Foi super interessante recebê-la nesta nossa casa e ouvir as suas palavras sábias e experientes!
Chegar e não parar, foi o melhor, assim não tive tempo de sentir saudades da Turquia, e apenas abracei o que encontrei de forma simples e despreocupada.
E que momento melhor para chegar, do que nesta semana maior, a semana Santa.
Foi uma Páscoa necessária e sentida.
Obrigado a todos e boa caminhada!

segunda-feira, 25 de abril de 2011


A chegada!











O dia da partida foi longo, acordei ás 3h30 da manhã e foi sempre a andar com a bagagem de 6 meses atrás de mim.
Foram 2 aeroportos, muitos corredores, muitos pensamentos...muita vontade de chegar.
Á minha espera 6 rostos bem conhecidos e sorridentes.Muita risada, abraços em grupo.
Depois seguiu-se o almoço com vista para o rio, e o cafézinho.Soube tão bem.
Ao chegar a casa tinha um bolo maravilhoso á minha espera...e nessa noite dormir na minha cama foi tão bom!
O sentimento é sempre tão bom, quando se chega ao que é nosso...mas o pensamento vagueia sempre no que se deixou lá atrás...tantas coisas bonitas, que me assaltam o pensamento e me rasgam os lábios.

=)

segunda-feira, 18 de abril de 2011


Istambul...






Istambul, foi vivido a 3.
Foi vivido com estes rostos, que me vieram sentir mais aconchegada mesmo antes da partida.
Foram 6 dias de positivismo!
Foi a 2a vez que estive em Istambul e confesso que descobri muitas coisas novas, que simplesmente me passaram ao lado da primeira vez...tudo depende das pessoas que nos acompanham  e da sua dose de aventura e loucura.
Os dias foram recheados de gargalhadas em todo o lado e cores vivas.Houve tempo para reencontros com amigos o que soube maravilhosamente bem.
Houve sempre uma boa energia, á nossa volta o que nos permitiu conhecer as mais variadas pessoas, todas elas especiais, apareciam no momento certo e deixaram a sua marca.
Estes dias vieram aguçar a minha vontade de voltar para Istambul e trabalhar aqui e não em Ankara.
Esta cidade é qualquer coisa de fantástico, nos seus cheiros, cores, nas suas raízes, nas suas tradições que nos deixam envolver de forma tão simples.Fizemos de tudo um pouco...fomos crianças, fomos loucos, fomos turistas, fomos ouvintes, fomos curiosos, fomos companheiros de descoberta.
A vida nesta grande cidade, corre de forma bonita, apesar de serem milhões, tudo está organizado de forma a que nada falhe...sente-se que tudo flui de forma muito natural.Apaixonei-me por este País de forma arrebatadora e já previa que isso pudesse acontecer, mas nunca de forma tão forte, que viesse revirar toda a minha vida e planos.
Estes dias esqueci-me de tudo o que há ainda para fazer, até ao regresso.Apenas me foquei na companhia divina da Anabela e do Jaime, na luz do fim do dia a inundar-me a alma...atravessando o canal e desejei muito, estar aqui em breve.
E eu sei, que da realidade aos sonhos vai um passo muito curto.
Para já, ainda guardo o cheiro a Istambul...no cabelo,na pele, na roupa.

Até já Portugal.







sábado, 9 de abril de 2011



Last day in Hospital...goodbye to this project.




































Por esta hora a minha colega de quarto Burcu, dorme profundamente, lá fora chove imenso, a mala está pronta para Istambul e eu venho terminar aqui, um longo e emocionante dia.
Sento-me por fim de eu para mim.Hoje foi o último dia de projecto!
Foi a última vez que me vesti como palhaço e fui abraçar os meus meninos no hospital.Todo um ritual que fiz ao longo de 6 meses como se fosse a coisa mais séria do mundo.
E porque o é.
Não é por me vestir de palhaço que passa a ser apenas brincadeira.Nestes meses falamos de vida.De vida real.
Nem um único dia eu faltei á minha missão com eles.
Muitas vidas e histórias deixo para trás, sem saber o que será a seguir?Quero que terminem bem.Como a minha história.Muitas situações que me são familiares e talvez por isso as soube contornar...ficando surpreendida comigo mesma!
Uma parte do meu coração, fica naquele hospital.Aconteceu magia...tantas vezes.Existem médicos que curam o corpo e médicos que curam a alma, o coração o sorriso.Ambos trabalham a par e só assim se pode triunfar numa doença como esta.
Eu pintei a manta,dancei onde ninguém ousa dançar, estendi a mão aos mais altos e ilustres médicos e doutores, quebrei muros e barreiras de gelo, alguns sorrisos apenas vieram nas últimas semanas, mas vieram e isso conta.Foi passo a passo.Muita gente macambúzia se abriu á cor e ao amor!Não foram só as crianças, foram as famílias, foram os pais, mães, avós e irmãos de lágrimas nos olhos, sem saber o que fazer á vida, cansados de estar fechados e isolados, lutando numa cadeia sem grades.
Criou-se uma família dentro daqueles corredores e ao entrar já não precisava de cartão ou identificações.
Não houve lugar nenhum no mundo onde quisesse estar mais nestes meses do que ali dentro.
Não me impressionam os cheiros, não me faz confusão os sons de um hospital, não caio para o lado por ver sangue...não me sinto doente nem me faz mal.(Como dizia alguém que não visitava os seus, desculpando-se com isto...é triste.)
Ao contrário sinto-me cheia de vida e energia quando ali entro.É o local onde me sei mover, sei onde não tocar e o que dizer.Apenas já estive do outro lado, tempo suficiente para saber tudo isto.
No fundo, não vesti nenhuma personagem ou coloquei nenhuma máscara, apenas fui eu...a Rita,o palhaço da vida, que aprendi a ser e que me tem levado tão longe em busca de sorrisos!E penso sériamente começar um projecto um dia, em Portugal.
Pudesse eu traduzir em palavras o que sinto neste momento em que me preparo para partir rumo a Istambul e logo de seguida para Lisboa.
A última viagem destes meses.Uma viagem também para reflectir e parar, mergulhando nos braços ternos de AMIGOS!Um cheirinho a Portugal...por certo.


O dia foi longo e emotivo, a TV Turca, apareceu hoje no hospital para uma reportagem, que passa pelo que disseram amanhã ás 19h (na Turquia) e ás 17h (em Portugal) no seguinte link: Reportagem, foi um olhar sobre aquela pequena escola que funciona ano após ano desde 1969,um local que quase ninguém vê, mas que existe e não deixa parar a vida daqueles meninos que tão cedo se vêm obrigados a parar com uma luta desigual com o cancro.
Saí hoje, lentamente do hospital olhando as janelas, sabendo de cor quem as habita e pensando em tudo o que aprendi ali dentro.Mais uma escola da vida entre tantas que conheci.Até me ir deste mundo hei-de aprender.
E eu, como estou?
De coração partido mas pronta para abraçar a próxima missão, seja ela qual for ou onde for, eu cá estarei sempre firme e de braços abertos á vida, ao mundo e aos que quiserem abraçar-se a mim também.
Aos que não querem e porque os pressinto, sabem há muito, que eu não corro, caminho de verdade e a distância vai-se alargando por isso, no entanto eu continuo a caminhar.É uma questão de parar e esperar ou então jamais olhar para trás.

E eu pergunto,há algo mais belo do que ser-se livre e realizado por AMOR?

A Missão foi dedicada ao meu PAI e está cumprida.


Até breve...