quarta-feira, 18 de junho de 2014

Chegar a Luanda, passo a passo.
















Passando os abraços na despedida e o silêncio pesado que fica dentro de mim, enquanto faço todo o percurso e passo as barreiras de controle, até me sentar no avião...por 7 longas horas, vem o aceitar da realidade.
Primeiro, avisto um Oceano a perder de vista, azul, onde só a sombra das nuvens como algodão, se deixam ver.Atravesso metade do Continente que mais amo, conversando com o meu Pai em silêncio.Faço-o sempre, porque afinal ali é o céu e estamos mais perto?
Por baixo de mim, a muitos pés de altitude.ÁFRICA.
Que estranho é.E não sei o que isto quererá dizer, mas África, sempre chama por mim.De uma forma ou de outra.Vou sempre ali parar.Observo com saudade.
Depois, e já em desespero...aproxima-se a terra vermelha dos arredores de Luanda ao amanhecer.Bairros e mais bairros sem condições nenhumas, que mesmo a muitos pés deixam transparecer o quanto é dura a vida por ali.Podemos aterrar aqui?Deixem-me sair aqui.Eu pertenço ali!

Passados poucos minutos, surge a baía de Luanda.Imponente, nos seus arranha céus e fachadas. São apenas isso fachada.Perdi a paragem lá atrás, é aqui que vou sair?Vai ser este o meu mundo...nos próximos dias.

Depois é sair e enfrentar o trânsito, mais caótico que algum dia conheci.Horas e mais horas, perdida no meio de candongueiros...(transporte colectivo de pessoas, carrinhas azuis) e a contrastar carros de alta cilindrada.Pessoas a pé no meio das faixas.O calor é abrasador.Olho as pessoas pelo vidro, as crianças, com bananas à cabeça, mais pesadas que elas próprias.Como gostava de lhes falar, de me sentar junto delas e ficar ali...ouvir as suas histórias.Dar-lhes um abraço...e partir.E sempre assim, sempre assim.Estar.

Depois finalmente e como se um vidro separasse duas realidades,chego aos condomínios de luxo.Palmeiras, piscinas, casas de sonho...conforto.Uma linha muito ténue separa os dois mundos.Um abismo, no qual eu sei bem onde me situar.Porque conheço bem os dois lados.

E a esta hora o meu pensamento regressa a Lisboa ao abraço da minha afilhada com 5 meses...ou ao meu Tejo.A tudo o que ali amo.Ainda que com o coração apertadinho. Deixar Lisboa assim, com tanto em mãos.Uma coisa é partir, porque se sente e se escolheu partir.Outra é porque tem que ser...porque infelizmente o nosso Portugal, não nos oferece o valor justo, por aquilo que somos e nos formámos.Encaro tudo como uma missão.Mas há missões que nos apaixonam e outras que nos parecem tão endurecidas.Uma coisa é o mundo dos ricos, onde tenho que estar, outra é o mundo dos simples onde quero estar!E hei-de estar.
Mas há que fazer, o que tem de ser feito.

Até breve.


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