Olhos que vêm,olhos que sentem... flutuam,acariciam, protegem, olhos que se apaixonam, todos os dias...pelo mundo.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Porto
O regresso á Invicta.
É quase como que uma lei, para mim, que cumpro alegremente, regressar ao Porto, para respirar aquele ar, abraçar quem se ama e sempre nos espera.
Quando piso solo Português, o pensamento seguinte é:"tenho de ir ao Porto brevemente..."
É como se parte de mim lá estivesse.E no fundo é mesmo isso.Ali sinto-me em casa.
Há uma ligação de muitos anos e laços que passaram a ser de sangue.E estes são talvez mais fortes e verdadeiros que tantos outros que julgamos possuir por consanguinidade.
Há vida a crescer no Porto, há risadas e palavras que só ali são proferidas de certa maneira.Sempre senti que este povo nortenho nos recebe bem melhor do que na capital onde nasci.Embora sejam diferentes e cada uma me encante de forma única.Eu falo das pessoas e essas fazem toda a diferença nos locais por onde tenho passado.
O norte é assim.E mal posso esperar por cair nos braços de quem tenho muitas saudades.
Até breve.
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Celebrando 30 anos...
Este ano, foi assim.Poucos mas muito bons.
Faltavam tantos rostos amigos, mas devido á minha chegada antecipada, foi tudo a correr.
Foi no entanto uma noite quentinha...num local que adoro,com muita criançada para animar, que me ajudou a soprar as velas.
No fundo aos 30 há uma coisa muito boa, porque já sabemos quem são aqueles que de facto estão e vão ficar na nossa vida.
Olhar nos olhos de cada um e saber que quem nos olha, também nos vê!
Foi o ponto alto desta noite.V e r m o - n o s.
A todos os que não puderam estar, temos então uma excelente oportunidade de celebrar depois e em privado.
Um cheirinho a Lisboa.Mas ainda não me cheira a Natal.
O cheiro a Lisboa, as cores desta cidade,a noite nas calçadas do princípe real, o vinho do Porto no Pavilhão Chinês, o braço de um amigo para caminhar e depois o amanhecer com este sol de Inverno, o café tomado na rua...o movimento.O rio prateado ao fundo das avenidas.
Numa manhã de rompante, mergulhei em Lisboa.E se é possível caminhar na nossa cidade sentindo-nos estrangeiros? É.
Há coisas que mudaram de local, há novas fachadas, há novos caminhos, aqui e ali, mas o principal está no mesmo lugar.Caminhei calmamente, olhei cada recanto e por fim sentei-me na Benard com alguns rostos que conheci em Lichinga.O sabor do café...o Chiado.Sabe tão bem estar de volta a estas pequenas coisas, que só quem aqui nasceu entende.
É este o meu povo.É esta a minha gente, a minha raiz, a minha terra.
Tudo isto é muito bonito, mas o cheiro a Natal ainda me faz alguma confusão.As lojas enfeitadas e o frio também me chocam ainda.
Uma das questões que me tem bailado no pensamento, é, como vai ser este natal?Como se celebra um natal depois de conhecer aquilo que conheci.Como se enche uma mesa de comida, só porque é tradição, porque se compram prendas porque parece bem?Porque se liga a quem nunca se ligou, apenas porque é natal?
Não lido bem com isto.E ainda me custa mais porque o meu último natal, foi passado na Turquia, vestida de palhaça num hospital a fazer os outros sorrir e foi partilhado com muçulmanos.
Aos poucos desprendi-me do natal.Não do seu verdadeiro significado, que entendo estar deturpado por completo nesta sociedade.Mas deprendi-me das prendas, dos jantares, dos acessórios que todos lhe atribuem.
Por isso não sei se vou querer passar um natal, á volta de uma mesa, a esperar pelas 00h para rasgar papéis...e ir dormir.Neste momento da minha vida, necessito de algo mais forte.Ainda não sei bem onde, nem como, mas hei-de encontrar.
A minha família nuclear vive bem sem mim, até porque acho que já se habituaram a esta ausência permanente.E o meu Pai era esse suporte imenso...que agora falta.E faltando isso, falta quase tudo pelo menos para mim.Não faz sentido ficar.
Mais que isso, como se passa um natal, acabada de chegar de Moçambique?Onde para além de um calor abrasador, há uma simplicidade enorme em tudo.É isso mesmo que procuro.Simplicidade aqui mesmo bem perto.Longe de hipocrisias.Perto da verdade.Perto do essencial.
Aguardo para ver onde me leva o coração este natal.
Reencontros que sabem tão bem...
Uma das partes mais belas do regresso a casa são os reencontros.Tudo o resto é secundário.
Mas os reencontros não.Esses são aliás um dos motivos do regresso.
Quando se está longe, há também a saudade, que não existe quando o contacto é diário e mais frequente.Há saudades dos hábitos, expressões, risadas, cumplicidades...formas de estar.Há pessoas que nos completam desde sempre, ou mesmo que passam a completar-nos de forma mágica tão rapidamente.
O reencontro é de uma felicidade enorme.Aquela voz, aquele abraço, aquele sorriso.E fica-se mais forte, mais cheio de força, sabendo que fazem parte do nosso caminho.
Há quem nos conheça bem, há quem ainda nos ande a conhecer, há quem nunca nos vá conhecer.
Até ao velhote da esquina, gosto de rever, até o senhor do café e da mercearia.Aceno com um sorriso e sinto-me de novo em casa.Ao passo que relembro outros acenos, outros velhotes da esquina e senhores da mercearia noutros pontos do mundo, que já foram a minha realidade.
Por agora é neste palco que abraço, reencontro e aproveito a presença de cada um.
E como isso me sabe tão bem.
Um presépio de pau preto e um Tais de Timor Leste
Os anos passaram.Fizemos caminho juntas, na formação missionária da JH.
Ela partiu para Timor.Eu parti, sem sair do mesmo lugar, numa missão igualmente importante, cuidar de um Pai, em fase terminal.E foi a essa que me entreguei.
Acompanhei os passos da Catarina em Timor.Senti saudades.
O meu pai partiu e a seguir também eu parti para o mundo, para onde fazia falta.Por minha conta e risco.Costumo dizer que me enviei a mim mesma.
O tempo passou e cada uma á sua maneira, mudou o mundo por onde passou e se deixou mudar pelo mundo.E com aquilo que aprendeu.
Já de regresso e passado tanto tempo, deu-se o reencontro.Trocámos impressões, recordámos episódios, concluímos que a nossa missão de facto vai além de qualquer instituição ou ideologia, ou preferência.Mas depende apenas de nós e do que temos para dar.
Eu trouxe um presépio de pau preto, Moçambicano e recebi um Tais de Timor.
E num abraço se selaram todas as histórias e partilhas.
É assim a amizade.
Partida e chegada
Lisboa
A partida foi no dia 17 de Novembro.Estava eu em pulgas assim que acordei.Estava estranhamente calma, por regressar.Deixei-me ficar na cama, a receber o sol que nasce sempre na minha janela.
Arrumei as últimas coisas, tive direito a um pequeno almoço Moçambicano...delicioso.Fiz o Check in,enquanto a Ir.Ferreira distribuía morangos num cestinho a toda a tripulação e afins, é assim que domina ela própria um aeroporto.Voltei á cidade novamente para beber um café na Mária, onde me ofereceram um chocolate...olhei cada rua com saudade e por fim, lá fui eu.Abraços dados, peito cheio de ar.
Embarquei no avião, acenando vivamente para trás e dançando na pista, ainda houve passageiros a rir da minha euforia.Parecia uma criança.
E depois foi voar sobre aqueles campos imensos que agora se pintam de verde, por causa das chuvas.
Ao chegar a Maputo, entendi que o calor era muito mais, do que na minha pequena cidade de missão.
O céu ameaçava uma grande trovoada e a chuva não tardou a cair em força.
Dormir foi uma tarefa quase impossível, devido ao calor.Estavam mais de 40º...e eu perguntava-me como iria aterrar em Lisboa com 10º??
Passei um dia em Maputo e nessa noite, pelas 23h45, partia.A viagem custa mais por ser tão longa e por ter ido sozinha.Gosto de conversar...e não consigo dormir assim tanto.Vi trovoadas da minha janela assustadoras mas de uma beleza única, vi o nascer do sol sobre o deserto...e avistei o estreito de Gibraltar e pouco tempo depois estava a aterrar na minha Lisboa, onde o sol brilhava e o frio se apoderou de mim.
Escusado será dizer que muitas dessas horas, foram povoadas com memórias dos dias em Lichinga,dos rostos que fazem parte de tudo isso, das dúvidas que mantenho na minha cabeça...e das coisas novas que aprendi.E uma enorme e confiante esperança no futuro.
Assim cheguei eu, cheia de esperança.
Last day with them...
Este foi o último dia com eles.
Foi para festejar, dançar, cantar, abraçar e comer muito bolo de chocolate.
Foi um dia livre, para estarmos uns com os outros sem obrigações a cumprir, sem regras, sem trabalho.
E soube-nos muito bem.
Ainda os levei ao campo uma última vez para os ver correr,saltar e sorrir.É precisamente ali que mais gostava de os ver.Corriam livres e felizes.
No final todos quiseram uma fotografia!O céu estava escuro e ameaçava chover.E eu, se por um lado me sentia assim, como aquele céu, pronta a desabar em lágrimas, por outro estava grata por me ter cruzado com aqueles meninos de chocolate, que tornaram a minha existência tão mais doce.
O dia foi de emoções fortes e despedidas.
Mas há pessoas, lugares e emoções que são eternas.E esta é uma delas.
Pela manhã seguinte, ainda apareceram em minha casa, alguns meninos, para se despedirem...abraços de última hora.Até o Lino, o pestinha da turma, o vi no caminho para o aeroporto, descalço e mandou-me um beijo.
E foram estes os últimos momentos, com eles.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
One good thing to happen...
Uma coisa boa aos 30 anos...é olhar para trás e sentir, 10 anos de pura fantasia protegida, mais 10 anos de descoberta já meio a sós, mais 10 anos de amadurecimento por meu pé.
É certo que nenhum de nós pode fugir á turbulência...e tempestade, mas aprendi, que as tempestades até são bonitas.Que tudo para mim tem beleza, ainda que não seja imediata.Mas sempre eterna.
Orgulho-me deste número redondo que agora entra pela minha vida dentro.São 30 anos, não são 29 nem 31, mas 30.Acabada de chegar do clima mais tropical que conheci,cumprindo a missão que me foi confiada, o melhor que pude, aterrei de pára quedas na minha Lisboa fria, mas sempre bela.
Tenho-me desdobrado em abraços infinitos, em olhares e sorrisos que vivem para além da distância e dos anos.E ainda faltam tantos.Sabe-me bem estar de volta, de cada vez que aqui chego, o sentimento é macio.Casa é onde o coração está, mas há sempre um porto seguro.E este é o meu.São muitos os portos onde atraquei, mas este é o único onde sempre regresso.
Trago comigo tantas histórias, tantas vivências que eu mesma me pergunto, onde vou guardar tantas cores, cheiros, lugares, sentimentos, pessoas...?
Cabem todos...numa vida assim, cheia e feliz.
Se me viessem dizer, que a minha vida termina aqui, ficaria em paz.Já fiz,tanto do que queria fazer, já fui onde tanto queria e onde nunca imaginei ir, já dei mais do que sabia que conseguia,já recebi mais do que merecia, já proferi as palavras mais doces e verdadeiras que um ser humano pode proferir sem me dar conta, já toquei com as mãos e o olhar os locais mais belos...já soube o que é ser e fazer alguém feliz na sua plenitude.
Esta viagem poderia perfeitamente terminar aqui.Como já esteve perto disso, um dia.Mas não terminou e não termina aqui.Ninguém sabe até quando viverá?
E eu apenas sei, como quero viver.E isso depende de mim, apenas de mim.
Não importa o tempo que andamos neste mundo, mas que o tempo que temos, seja vivido da melhor maneira...da maneira que sonhamos.
Então eu digo que 30 anos, foram ricos, valiosos,cheios de aprendizagens, de sorrisos, de lágrimas também, mas que fizeram crescer...de 1001 cores, de pessoas maravilhosas, de viagens únicas, de aventuras que só nos livros parecem existir.
E de Deus.Porque só ele me permite ser dona desta vida.
Tanto, para agradecer em 3 décadas.
And all i want is one good thing to happen...
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