segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Um cheirinho a Lisboa.Mas ainda não me cheira a Natal.

















O cheiro a Lisboa, as cores desta cidade,a noite nas calçadas do princípe real, o vinho do Porto no Pavilhão Chinês, o braço de um amigo para caminhar e depois o amanhecer com este sol de Inverno, o café tomado na rua...o movimento.O rio prateado ao fundo das avenidas.
Numa manhã de rompante, mergulhei em Lisboa.E se é possível caminhar na nossa cidade sentindo-nos estrangeiros? É.
Há coisas que mudaram de local, há novas fachadas, há novos caminhos, aqui e ali, mas o principal está no mesmo lugar.Caminhei calmamente, olhei cada recanto e por fim sentei-me na Benard com alguns rostos que conheci em Lichinga.O sabor do café...o Chiado.Sabe tão bem estar de volta a estas pequenas coisas, que só quem aqui nasceu entende.
É este o meu povo.É esta a minha gente, a minha raiz, a minha terra.
Tudo isto é muito bonito, mas o cheiro a Natal ainda me faz alguma confusão.As lojas enfeitadas e o frio também me chocam ainda.
Uma das questões que me tem bailado no pensamento, é, como vai ser este natal?Como se celebra um natal depois de conhecer aquilo que conheci.Como se enche uma mesa de comida, só porque é tradição, porque se compram prendas porque parece bem?Porque se liga a quem nunca se ligou, apenas porque é natal?
Não lido bem com isto.E ainda me custa mais porque o meu último natal, foi passado na Turquia, vestida de palhaça num hospital a fazer os outros sorrir  e foi partilhado com muçulmanos.
Aos poucos desprendi-me do natal.Não do seu verdadeiro significado, que entendo estar deturpado por completo nesta sociedade.Mas deprendi-me das prendas, dos jantares, dos acessórios que todos lhe atribuem.
Por isso não sei se vou querer passar um natal, á volta de uma mesa, a esperar pelas 00h para rasgar papéis...e ir dormir.Neste momento da minha vida, necessito de algo mais forte.Ainda não sei bem onde, nem como, mas hei-de encontrar.
A minha família nuclear vive bem sem mim, até porque acho que já se habituaram a esta ausência permanente.E o meu Pai era esse suporte imenso...que agora falta.E faltando isso, falta quase tudo pelo menos para mim.Não faz sentido ficar.
Mais que isso, como se passa um natal, acabada de chegar de Moçambique?Onde para além de um calor abrasador, há uma simplicidade enorme em tudo.É isso mesmo que procuro.Simplicidade aqui mesmo bem perto.Longe de hipocrisias.Perto da verdade.Perto do essencial.
Aguardo para ver onde me leva o coração este natal.

1 comentário:

Sónia Abrantes disse...

Se fecharmos os olhos e taparmos os ouvidos o que sentimos é o cheiro que nos trás tantas sensações.
Com a ida a Lichinga fiquei a conhecer cheiros que pensei serem sinónimo de pobreza, mas que afinal significam muito mais.
Na vida é mesmo assim, cada um escolhe os cheiros com os quais se identificam. Uns dias enjoamos outros dias adoramos o cheiro que nos rodeia.
Isto para dizer o quê?
Que o nosso caminho cruza-se com tantos outros e tudo junto identifica-nos como pessoas, influencia as nossas escolhas.
A vida de dádiva aos outros é uma excelente mistura de cheiros.
Que bem cheirosa que és!
Por opções familiares, também passei um Natal com o qual não me identifico tão bem, mas foi isso que escolhi, e saber dar a companhia a quem nos escolhe também é uma forma de nos darmos.
Isto digo eu para me convencer que a nossa sociedade valerá alguma coisa...