sexta-feira, 17 de setembro de 2010

 The Future...Is a promise.







Não consigo explicar o sentimento que se apodera de mim estes últimos dias.
Adormecer é uma aventura, passam horas e eu ás voltas a pensar em tudo o que se vai passar em breve, tudo o que está para vir, de novo.

O que me tira o sono é também o regresso a casa.Entrar pela porta e não encontrar o meu Pai, vai ser no mínimo doloroso e vazio.Não esquecendo é claro, que ele me acompanhou e protegeu estes meses todos e assim vai continuar a fazer.Eu sei.
Mas encontrar a minha mãe, a possibilidade de a encontrar abatida e desfeita pela perda da pessoa que partilhou toda a sua vida, durante mais de 30 anos.E ter que conviver, ainda que por um mês e 5 dias, com todas as memórias que compõem a minha casa.Fotografias, recantos, cheiros.
Estou certa que muito ou pouco mudou desde a minha partida.Que a minha irmã continua ausente e a não dar o apoio que a minha Mãe precisa.Talvez simplesmente porque não o sabe fazer.
E sei que a dor vai voltar a ser mais forte.Porque aqui pude esquecer-me dela por instantes.Não é bem esquecer, mas ocupei-me de tanta coisa, e fui tão feliz, que a dor acaba por suavizar.Mas mais uma vez, encho o peito de ar e coloco a possibilidade de me surpreender.De não sentir a dor mas o calor de uma casa que é a minha e que me acolhe sempre e para sempre.A casa onde o meu Pai me educou e me deu estes valores que trago comigo como uma marca, que jamais alguém pode apagar.

O que me perturba  mais, no meio de todos os pensamentos, é que penso imenso nos últimos dias que estive com ele, nas coisas que se disse e no sentimento de não poder agarrá-lo á vida, por mais que quisesse.
Penso no seu último Natal, em casa, sabendo todos que seria o último, mas a alegria que foi recebê-lo nesse dia.E na desilusão que foi para todos, que a minha irmã escolhesse passar o último Natal com o namorado, em vez de passar com o seu Pai.
Penso em pequenos detalhes, e episódios dos seus últimos tempos, das minhas corridas incessantes para o hospital, das horas extra que os enfermeiros me deixavam ficar com ele,por saberem que o tempo se esgotava.
Penso no seu sorriso a última vez que o vi.E como nunca imaginei ser a última vez por mais que o esperasse.
E no dia em que recebi a notícia que ele tinha falecido, pela boca de um médico que foi tão frio.
Penso no dia em que tive que reconhecer o corpo e senti o frio nos meus lábios quando o beijei.
Penso no dia em que o vi entrar pelo Telhal, no carro funerário e no momento em que fechei a porta da casa mortuária, e fui a última a sair, deixando as janelas abertas para o ar fresco da noite o beijar.
Penso a última vez que vi o seu rosto, no cemitério em pleno Alentejo, rodeada de gente e o sol começou a brilhar.
Penso nisto, inúmeras vezes antes de adormecer.
Mais do que antes, agora que a partida se aproxima.Das primeiras coisas que quero fazer é ir ao Alentejo ver a sua campa e passar horas esquecida a contar-lhe tudo o que senti.

Preocupo-me com a vinda breve do Duarte e a nossa roadtrip, preparei tudo com imenso cuidado, escolhi os locais mais interessantes, tive em conta passar pelos amigos espalhados por aí, para me despedir e assim sempre fugimos a dormir num hostel e somos acolhidos com sorrisos e um forte abraço.É uma forma de fazer sentir a alguém que gosto muito a realidade que construí aqui, estes meses.Receber a 1a visita de Portugal em 6 meses, faz-me pensar.

Mas não é só a Roadtrip que me deixa ansiosa, é o facto de estar a viver os últimos dias nesta casa.Nesta cidade.Com estas pessoas.Penso e repenso momentos partilhados, bons, muito bons, e mesmo os mais duros.Todos foram muito importantes e me ensinaram algo.
Não posso deixar de dizer que me sinto mais adulta, agora que sei que sim, que posso viver sem a protecção dos Pais, da casa onde cresci e do País do sol.Que comprovei a mim mesma e a mais ninguém, que sou capaz de tomar conta de mim, e de me adaptar seja onde for, e viver bem com isso.
Passa-me pela cabeça viver e trabalhar numa dessas realidades que vou encontrar,ou que já encontrei.Mas por outro lado deixar o meu Portugal é algo que me parte o coração.Sim, 6 meses ou 1 ano é tempo, mas sabemos que voltamos no final.E isso reconforta.


O que me preocupa um bocadinho, é o check up médico no Ipo, no mês de Outubro.Tenho que ir lá 3 dias diferentes.Sinto-me bem, nunca fiquei doente aqui.Mas sempre que tenho que ir lá o meu coração aperta.E se...?é sempre uma dúvida.Mas no fim, quando marco a próxima consulta para daí a 6 meses, é um alívio, que só me apetece festejar.
Há 6 meses, que não sou vista por nenhum médico e que não faço análises.Estou curiosa para saber como me andei a tratar estes meses, em que reduzi o consumo de carne e passei a comer imensos vegetais.Isto deveu-se ao facto de viver com uma vegetariana e de ter assumido o comando na cozinha.A verdade é que me sinto melhor agora.Não creio que me vá tornar vegetariana, porque ainda há dias meu deu uma pancada que tinha que comer um bife e fui comprá-lo e cozinhei-o e soube-me tão bem.Mas é uma vez num mês que sinto essa necessidade.Mas vai correr tudo bem.

Também tenho pensado na minha ida para a Turquia, embora esteja certa que o quero fazer, preocupa-me quem irá comigo, pois cabe a mim escolher a voluntária que vai fazer projecto comigo.Isto não é bem uma preocupação, mas uma ansiedade boa de sentir, pelo desconhecido que aí vem, mas que quero tanto descobrir.Há imensas coisas neste projecto que quero abraçar.

E por fim preocupa-me não ter todo o tempo que gostaria para estar com todos os amigos, que quero visitar e abraçar ainda que por uma vez, no mês que vou estar em Portugal.Um mês dá para muita coisa, mas e se não chegar?Se não chegar, os que me amam, sabem bem que estou a realizar o meu caminho, pelas minhas escolhas.
Porque descobri ainda mais aquilo que no fundo eu já sabia.

Que a nossa missão, não depende de ninguém, de nenhuma instituição, de nenhumas regras, requisitos ou preferências pessoais.Depende única e exclusivamente de nós e do amor que temos para dar, da nossa força, da nossa capacidade de lutar.E se há quem não queria aproveitar este amor gratuito e espontâneo, eu conheço muitos locais e pessoas que precisam dele desesperadamente e sim, eu irei.

Apesar de todas estas preocupações que me ocupam a mente, estou orgulhosa de tudo o que fizemos aqui, de tudo o vivi e muito feliz, porque sei que em breve estes medos se vão dissipar, como todos os outros que já senti nesta vida.

Até breve.

1 comentário:

Sol da manhã disse...

"Que a nossa missão, não depende de ninguém, de nenhuma instituição, de nenhumas regras, requisitos ou preferências pessoais.Depende única e exclusivamente de nós e do amor que temos para dar, da nossa força, da nossa capacidade de lutar." Força Rita!

Um abraço grande :)! SHALOM