E ontem Alfama...Quando Lisboa anoitece
Como um veleiro sem velas
Alfama toda parece
Uma casa sem janelas
Aonde o povo arrefece.
É numa água furtada
No espaço roubado à mágoa
Que Alfama fica fechada
Em quatro paredes de água
Quatro paredes de pranto
Quatro muros de ansiedade
Que à noite fazem o canto
Que se acende na cidade
Fechada em seu desencanto
Alfama cheira a saudade.
Alfama não cheira a fado
Cheira a povo, a solidão
A silêncio magoado
Sabe a tristeza com pão
Alfama não cheira a fado
Mas não tem outra canção.
José Carlos Ary dos Santos, cantado por Amália Rodrigues
Alfama é para mim, o bairro mais bonito de Lisboa inteira.Inspira-me, tem aquela vista única sobre o rio, os seus miradouros e ruas apertadas tornam-na única.
Ontem, noite de Sto.António, não foi excepção...e comecei e acabei em Alfama.Normalmente gosto de passar por vários sítios e acabar ali, mas este ano não gostei do Sto.António.
Faltava alguma coisa, as ruas encheram-se na mesma, a noite mais que quente estava perfeita, mas este ano, pouco daquilo fez sentido.
Sim, as pessoas saem para a rua, festejam e cantam...comem, bebem, ficam apenas a ver passar, há uma alegria pelas ruas que uma vez por ano ficam assim, mas quando se anda á procura dos amigos 1h30, como andámos ou alguém nos procura 1h...cansa.E porque as coisas ficara mal combinadas.
Fiquei contente com a visita dos meus primos de Sesimbra, apesar do tempo que passámos juntos ter sido pouco, passámos mais tempo a tentar encontrar-nos.
Quando não há bailaricos em lado nenhum...apenas músicas altas, que se confundem e não percebemos afinal que música é e de onde vem?Já viram santos sem bailarico?Não havia...eu não encontrei nenhum.
Quando se paga 10 euros por um jarro de sangria que nem um litro e meio tem...é um roubo.
Santos populares assim não.E eu que adoro os santos e o ambiente que se gera á sua volta, mas este ano, não sei, não me soube a santos populares.Para não falar que mandei 3 moedas ao santo, e nenhuma calhou lá dentro...todas fizeram ricochete.
Por entre a multidão ia encontrando rostos conhecidos, que não via há muito tempo, e os "olás" apertados pela enchente, fizeram-me sorrir, todos aqueles rostos, misturados, sim, mas depois , sabem quando se está entre uma multidão e nos sentimos sozinhos...e nos perguntamos mas que estou eu aqui a fazer?
Alfama tinha um sabor a saudade, pelas ruas, saudade de bons momentos ali passados, em anos anteriores, de autêntica festa.E quando via passar aqueles grupos animados, a minha vontade era juntar-me a eles, perguntava-me onde estavam as pessoas que comigo a fizeram.Renata, Duarte.Longe, daqui.Ou no bairro do lado.Vanda e Nelson.Devia ter ido ter com vocês...
Sinto que quem comigo estava não festejou esta noite , porque não tinha talvez motivos para isso, ou não a soube festejar, mas eu pergunto, se para celebrar é preciso motivo?
Não bastará estarmos vivos?
Quando se sai com pessoas, que acham mal falarmos com desconhecidos em ambiente de festa...é o fim.E numa noite como esta, todos se falam e as vergonhas ficam em casa.Pois esse é o ambiente Popular.E lá nisso o S.João no Porto é bem mais animado, pela gentes também.
Bom a noite para mim terminou ás 4h, o que considero cedo para uma noite como esta...em que gosto tanto de ver Lisboa a acordar, com cheiro a santos e a alegria.
Para o ano há mais.E espero que bem melhor.
Agora de volta ao trabalho e até dia 20.