domingo, 1 de junho de 2008



Dia da criança.


A minha caminhada sobre a terra está de todo ligada, a elas de forma tão próxima...e vai estar, sempre.
De longe, de perto, de diferentes classes sociais, mais meigas ou mais sofridas, de diferentes países e culturas, hoje foram elas que me povoaram o pensamento, ao longo de todo o dia...
Recordei cada uma, esboçando sorrisos, e são tantas aquelas que já se cruzaram comigo...
Há sempre as que marcam mais, por alguma razão, pelo sorriso, pela história de vida, pela cumplicidade que se vai gerando com o tempo...ou ainda por um olhar repentino algures, pelo mundo.Elas captam-me a atenção como ninguém.
Não as esqueço...a sua expressão, a sua graça, os seus sonhos e segredos, partilhados comigo tantas vezes de forma quase sagrada.
E é por isso, que tenho esta visão mágica e encantada das coisas, por saber que é uma realidade para elas, e acaba por ser também para mim.Não há limites para os seus sonhos e brincadeiras.Gosto disso.Gosto tanto, faz-me sentir tão viva.
Há entre mim e elas, verdadeiras amizades, e desculpem-me os amigos, das mais verdadeiras que existem, das mais intemporais e genuínas.
Muitas delas, já não sei para onde foram, como estão, que sonhos as habitam e se são felizes? Mas quero crer que sim...pelo menos tenho a clara noção, que os momentos que estivemos juntas, foram de uma intensa felicidade, e quando não eram, era no meu ombro que choravam e eu lhes oferecia protecção e aconchego.
E no fim vinha o sorriso, inesquecivel.Esse mesmo que hoje deixo sair dos meus lábios ao lembrá-las.

Deixo aqui apenas uma pequena parte das minhas histórias com elas...mas todas, todas sem excepção, têm em mim um lugar cativo.
Porque afinal são elas, as principais responsáveis por muitas das coisas que eu sou e em que acredito...



Em Milão...Dezembro de 2005

Esta era a minha família em Milão do encontro europeu.
Lembro-me que quando abriram a porta, pela 1º vez, estavam todos á minha espera com um sorriso enorme,o que para quem como eu tinha 2 dias de autocarro em cima, sem dormir e tomar banho...foi quente.
Eram irmãos e primos...e não me deixavam por um segundo.Mesmo que chegasse a casa tarde, acordavam e queriam sair da cama para ficarmos a falar...e lá ia eu adormecer os mais novos.
Eram vivos e alegres...passei a manhã do 1º dia do ano, em pijama com eles, descalços pela casa, foram acordar-me á cama, para ver nevar, enquanto os pais preparavam a refeição...e foi com a imagem deles que parti, estavam na varanda a acenar e gritavam em Italiano, para voltar em breve...
Hoje ainda mantenho o contacto com esta família, repleta de crianças, e hoje foi a minha forma de os lembrar, por serem crianças e por me terem marcado tanto.























Madeira, Setembro de 2005

Este é o Afonso, o meu primo, que vive na Madeira.
Há 3 anos estive lá o mês de Setembro inteiro e eu ainda não conhecia o Afonso, e descobrir um rebento da família, naquela altura marcou-me...foi uma agradável surpresa.
Ele é irrequieto, mas de um brilho no olhar, aquele que só as crianças, suficientemente traquinas conseguem ter e não me perguntem porquê?
























E esta menina,é a Ana, vivia á beira da linha do comboio, no Sabugo...o pai dela era o chefe de estação.
Um dia, tinha eu 21 anos, fui até lá, fazer umas fotos com o Paulo, para um concurso da CP, e percorremos as estações e apiadeiros do oeste, em busca de boas imagens.
Numa delas, estavam dois meninos sentados, a observar cada movimento nosso...aos poucos foram-se aproximando e fazendo perguntas, quiseram aparecer nas fotos e mostraram-nos locais escondidos por ali, que deram fotos fantásticas.
Quando começou a chover, abrigámo-nos debaixo das paliçadas da estação, os 4 no mesmo banco á conversa, o Paulo com o menino e eu com a menina.
Ela acabou por me contar que ia ser operada ao coração...em breve, e que tinha medo.Na altura lembro-me que a encorajei e demos um abraço, que ficou gravado nesta foto.Descobri ainda que já com aquela idade ela adorava ouvir, Mafalda Veiga.Prometi que o próximo concerto que fosse, lhe trazia um autógrafo e assim foi.
Num Concerto da FNAC, lá fui eu pedir uma dedicatória numa fotografia.
Voltei lá, só para lhe entregar o autógrafo, e mostrar as fotografias...ela ficou radiante.
Entretanto e com o passar do tempo, nunca mais voltei, é um facto, não sei se a operação correu bem ou não...se ainda lá vive.
Mas gostava de voltar, deve estar uma mulher e espero que feliz.
























E a Rafa, que me lançou um desafio, quando entrou para o berçário, adaptar-se...ao espaço, a mim, aos colegas.Os dias eram passados a chorar...agarrada á minha bata, comer ás vezes também não queria, dormir então não era com ela.A mãe na altura enfrentava um cancro na mama.E ela sentia que algo não estava bem.
Lembro-me de chegar a casa, desesperada sem saber o que fazer...para conseguir, empenhei-me de tal forma que, consegui, com muita paciência, com muita calma, um passo de casa vez.Foram meses.Um dia bom, seguido de 3 maus, até inverter.
Por fim, já queria ficar e comia tudo, dormia a sesta, não mais que 1h, mas dormia, e o sorriso demonstra essa relação que se criou.
Mas, depois de tanto trabalho, o Pai, por questões monetárias, decidiu retirá-la de lá, contra a vontade da mãe...e as coisas complicaram-se.
Nunca chorei tanto, quando a vi ir pelo portão a dizer o meu nome e a estender os braços e eu a saber que não voltaria para ficar.
Hoje está bem, e pelo que a mãe diz quando me telefona, ainda diz o meu nome, e adapta-se fácilmente a qualquer ambiente.
Rafiki...






















Hello, my name is...
Emily, é o seu nome, filha de Ingleses, a viver no Algarve, como uma fada, passava os dias.Eu gostava de a observar, na sua magia.Olhava muitas vezes para longe...e sorria, e puxava-me pela mão para que visse algo também...o horizonte, como ela gostava de o olhar.Era especial, sem dúvida, fruto de uma educação em casa, que promovia as artes e a música...a sensibilidade apurada...ao máximo.Os dias que estive lá, trocavamos sorrisos constantes e sinais que como um código criámos.No seu Português mal pronunciado ainda, fazia-me perguntas...e ria-se ao pintar-me a cara...
O azul dos seus olhos era mar...e os cabelos laranja a cor da terra.
Deixei-lhe um guizo, na mão, agora não há vez que eu olhe o horizonte, que não me recorde dela e ela, cada vez que corre, fará quem sabe soar o guizo...serra fora?























Um dia em S.Sebastian, passeava eu pelas ruas mágnificas,chovia a potes e nós sem chapéus.
Ao subir as escadas da catedral, uma criança que vinha com os pais, com o seu chapéu de chuva azul céu, parou a olhar para mim, eu sorri-lhe...ela não teria ela mais que 3 anos, ficou séria, terá percebido que como eu andava devagar, que me ia molhar.
Parou e avançou para mim, falando em espanhol, e puxando-me para baixo pelo casaco, erguia alto o chapéu de modo a proteger-me da chuva.Bom como calculam subi as escadas quase de gatas...para não o desapontar, mas foi comigo, passo a passo até ao cimo á porta, o que causou uma gargalhada geral...a quem viu.Depois deu o chapéu aos pais para fechar e quis entrar comigo de mão dada na catedral...e esta foto, foi á saída.
Não sei tão pouco o nome dele...ou ele o meu.
Mas aquela catedral, para mim tem mais história agora e esquecer um gesto destes, que nos dá uma lição...jamais.






















E esta paisagem, familiar, Taizé.
O ano que fui em Agosto e trabalhei na Olinda...a aldeia onde ficam as crianças, conheci esta menina a Laura, era a única Portuguesa...entre os 3 e os 5 anos, a idade onde eu era monitora.
As manhãs eram passadas a brincar e ela sabia que eu a percebia melhor que ninguém, pois falava com as Alemãs, e com as Francesas e elas riam-se olhando para mim em busca de uma tradução, e assim eram feitos os contactos entre todos.
Um dia de chuva, como era este, Laura, carregou a manhã inteira o "Mundo" na mão...uma bolinha pequenina, de espuma, com os continentes desenhados.Não a largava, nem por nada...e quando a deixava cair lá ia eu atrás da bola, caminhos abaixo e acima, dentro de arbustos enfim...
Perguntei-lhe porque não largava a bola? Respondeu de forma decidida :"porque é a casa destes meninos todos, e eu quero ficar com eles..."
Ou seja, podiam não perceber nada do que diziam uns aos outros, tantas eram as culturas das crianças ali presentes, mas isso não os impediu de criar laços...e perceberem mesmo tão novos, que o mundo é mesmo uma aldeia.
























E mais histórias haveriam...para contar, tenho a vida repleta delas, umas mais bonitas que as outras.Aprendi tanto, com os pequeninos, que hoje o meu coração celebrou com eles, embora não pudesse ter participado em nenhuma iniciativa, devido ao trabalho que hé para fazer, mas o que não valerá um pensamento?E uma doce recordação...





Afinal também eu ainda me sinto como uma Criança...quando vejo o mundo pelos seus olhos e quero ser sempre.
Se acham que ainda têm uma criança ai dentro, cuidem dela...não a deixem desaparecer, acordem-na, façam-na viver.
E os sorrisos multiplicar-se-ão...dia após dia.



1 comentário:

Peregrina disse...

Olá...
Vi o seu blog através do da Carina...
Gostei de a "ler"...
As historias deste post são cativantes...
Obrigado pela partilha!
Vou passar por aqui algumas vezes!
Anita