quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Pai.








Nos últimos tempos, não tenho escrito sobre o meu Pai.
Talvez numa tentativa de o resguardar, de olhares mais alheios e ao seu sofrimento.
Mas, este blog, sempre foi um livro aberto, onde corro o risco de me expor, verdadeiramente.
E na vida, tenho para comigo, que só quem arrisca, consegue viver intensamente.

Hoje, estive com o meu pai largas horas.O que é raro, durante a semana, já ao fim de semana é mais comum.
Mas hoje, devido a uma troca de horário,consegui.
Pelo corredor do hospital ia eu e pensava no Pai do meu melhor amigo, que também se debate com o fim da sua vida, no mesmo hospital.Acabo de pensar nele, e olho para um dos quartos, e lá estava ele, sentado na beira da cama a ler o Jornal.Supreendente, estar no mesmo piso que o me pai.
Aproximei-me e estivemos cerca de meia hora á conversa.Levei uma lição, de alguém que sabe que lhe resta pouco tempo, de alguém que apesar disso, fala com esperança e um sorriso.Aceita simplesmente o seu destino, sem revolta, sem mágoa.Um exemplo.Recordámos muitas coisas, como as férias que fui com eles para o Gerês.Rimos.
Deixei-o e fui ter com o meu pai.Entrei no quarto a sorrir, e não o vi sorrir.Estranhei.
Abracei-o.E o seu rosto não deixa margem para dúvidas.O cansaço, a saturação de uma luta que sabe á partida que vai perder, é visivel.Ele pede paz.Ele não aguentará muito mais.A magreza aumenta, a cor pálida também.Mostrou-me os braços secos e disse que estava desidratado.Fui buscar creme e estive a massajar os braços.Mas isso não esconde, que aquele esqueleto, é o que resta de um gigante que um dia me carregou ao colo, me fez rir como ninguém, me ensinou a alegria e me fez sonhar muitas vezes, como criança que ainda é.
Por mais que tentasse, hoje ele estava em baixo e triste, consciente do seu estado.Esteve a oxigénio estes dias, no SO.Um serviço, confuso, onde as luzes nunca se apagam, mesmo de noite.Descansar ali é mentira.As camas acomulam-se nos corredores.E o barulho não pára a qualquer hora.Finalmente passou para uma enfermaria.Mais calma.
Hoje o meu pai, confundiu o meu primo ao telefone, com outra pessoa.Senti-o confuso.
Só depois do jantar, me vim embora, para me certeficar que comia a sopa, o peixe a que retirei as espinhas e a fruta.Come pouco.Muito, muito pouco.
Quando olhava para ele, sentia a sua exaustão.Para ajudar, a cama ao lado, tinha 4 visitas, quando podem entrar 2 apenas.Falavam alto, atendiam telemóveis.Uma feira.Um hospital é um lugar de repouso!

Doentes como o meu pai, deviam ter um fim calmo, num local calmo.Se pudesse leváva-o para uma grande janela, em frente ao mar.Para poder olhar, com espaço.Ou melhor ainda, para uma planície alentejana, num monte, que ele tanto Ama.E ali, o vento ia ondear os campos e ele ia sorrir.
Mas não sei, quando, nem como, será a sua partida?Sei que queria estar ao lado dele.
E o meu medo, está aí.Somente.Não conseguir chegar a tempo.
Quando me despedi, disse-me ainda: "Não te preocupes, que eu estou e fico bem".
Mas eu sei que não.Sei que as dores são muitas e que ele nem sempre se queixa.Sei que pensa no futuro e não sabe como eu acredito que será risonho.Eu confio sempre.

Hoje vou dormir assim, com o coração pequenino e um turbilhão de sentimentos.

5 comentários:

Isabel Machinho disse...

Mt 18.21-35 (Oração Taizé)
"Jesus contou uma parábola na qual o senhor disse ao seu servo:"Perdoei-te td o que me devias, pq assim mo suplicaste;não devias tb ter piedade do teu companheiro,como eu tive de ti?"

Querida Rita, Consegui adormecer os meninos e vim espreitar os que os teus olhos da alma hj observaram e sentiram e li sobre o teu Pai. Continuo apaixanada pela força com que respondes a este cenário de sofrimento e sei que o teu coração confia no que se seguirá como desafios na tua vida. Rezo por ti e pela tua família. Por cá vamos andando, melhor:) Ter os meus pais perto é uma tábua de salvação neste mundo tão rápido e que nos obriga a andar a toque de caixa. O ritmo da alma esse é ditado pelo nosso coração. Bons sonhos , que os len~çóis quentinhos te devolvam energias para o dia de amanhã. 4 Beijinhos especiais nossos (O João foi de muleta para o mestrado)da tua FIJMT (Família Isabel-João_Mariana/Tiago)

Isabel Machinho disse...

AMIGA, Recebeste o meu comentário anterior?...fiquei na dúvida...só queria dar-te um abraço de boa noite e desejar um bom descanso para amanhã agarrares o dia com o teu sorriso lindo.
Bjnho da Isabel Machinho

Os olhos da alma... disse...

Isabel=)
Colocaste o meu coração mais quente.
Família especial a vossa, muito.
Obrigado pela força, que neste momento é tão importante.Sinto-vos e estou perto, também.Sempre.E confio no futuro...tanto, tanto.
Com amor amigo, pelos 4, Um abraço quentinho nesta noite fria.

Unknown disse...

Querida Rita,
estou contigo neste momento difícil.
Muita força para ti!Deus ama-te muito!
Rezo por ti e pela tua família!

(Só um à-parte:que bom que é encontrar também aqui a Isabel Machinho!)

Coragem!

LxSantos disse...

Como hoje estou com algum tempo livre, decidi aceder ao teu blog que conheci através de um email que a Isabel Machinho me enviou, e que eu zelosamente guardei para poder consultar assim que pudesse dar uma escapadinha no trabalho, uma vez que em casa todo o meu tempo é consumido pelas minhas pequeninas, Maria e Leonor. Aqui vão então algumas palavrinhas…queria louvar pela grandeza do teu ser e pela “macieza” (como tu dirias) do teu coração. À medida que lia as palavras que escreveste, as lágrimas, sem eu querer, escorriam-me pela cara, não de pena ou tristeza, mas de encantamento e admiração pela autenticidade e amor que nos passas através delas. Tocou-me em especial este testemunho que escreveste sobre o teu pai – “Mostrou-me os braços secos e disse que estava desidratado. Fui buscar creme e estive a massajar os braços. Mas isso não esconde, que aquele esqueleto, é o que resta de um gigante que um dia me carregou ao colo, me fez rir como ninguém, me ensinou a alegria e me fez sonhar muitas vezes, como criança que ainda é /…/ Doentes como o meu pai, deviam ter um fim calmo, num local calmo. Se pudesse leváva-o para uma grande janela, em frente ao mar. Para poder olhar, com espaço. Ou melhor ainda, para uma planície alentejana, num monte, que ele tanto Ama. E ali, o vento ia ondear os campos e ele ia sorrir.” – O teu pai deve realmente ser uma alma muito querida e especial, por ter sido agraciado com uma filha como tu. É realmente uma sorte e uma graça de Deus termos a oportunidade de nos cruzarmos contigo no caminho da Vida. Por onde passas lanças sementes, há algo que muda, nada, nem ninguém, ficam indiferentes à tua passagem. Obrigada, por essa mudança, por esses testemunhos e obrigada por seres Luz e Esperança para este mundo que tanto precisa se ser Amado.


Beijinhos, com todo o carinho e admiração,


Rita Nascimento (FH LRLM)