Pai.
Nos últimos tempos, não tenho escrito sobre o meu Pai.
Talvez numa tentativa de o resguardar, de olhares mais alheios e ao seu sofrimento.
Mas, este blog, sempre foi um livro aberto, onde corro o risco de me expor, verdadeiramente.
E na vida, tenho para comigo, que só quem arrisca, consegue viver intensamente.
Hoje, estive com o meu pai largas horas.O que é raro, durante a semana, já ao fim de semana é mais comum.
Mas hoje, devido a uma troca de horário,consegui.
Pelo corredor do hospital ia eu e pensava no Pai do meu melhor amigo, que também se debate com o fim da sua vida, no mesmo hospital.Acabo de pensar nele, e olho para um dos quartos, e lá estava ele, sentado na beira da cama a ler o Jornal.Supreendente, estar no mesmo piso que o me pai.
Aproximei-me e estivemos cerca de meia hora á conversa.Levei uma lição, de alguém que sabe que lhe resta pouco tempo, de alguém que apesar disso, fala com esperança e um sorriso.Aceita simplesmente o seu destino, sem revolta, sem mágoa.Um exemplo.Recordámos muitas coisas, como as férias que fui com eles para o Gerês.Rimos.
Deixei-o e fui ter com o meu pai.Entrei no quarto a sorrir, e não o vi sorrir.Estranhei.
Abracei-o.E o seu rosto não deixa margem para dúvidas.O cansaço, a saturação de uma luta que sabe á partida que vai perder, é visivel.Ele pede paz.Ele não aguentará muito mais.A magreza aumenta, a cor pálida também.Mostrou-me os braços secos e disse que estava desidratado.Fui buscar creme e estive a massajar os braços.Mas isso não esconde, que aquele esqueleto, é o que resta de um gigante que um dia me carregou ao colo, me fez rir como ninguém, me ensinou a alegria e me fez sonhar muitas vezes, como criança que ainda é.
Por mais que tentasse, hoje ele estava em baixo e triste, consciente do seu estado.Esteve a oxigénio estes dias, no SO.Um serviço, confuso, onde as luzes nunca se apagam, mesmo de noite.Descansar ali é mentira.As camas acomulam-se nos corredores.E o barulho não pára a qualquer hora.Finalmente passou para uma enfermaria.Mais calma.
Hoje o meu pai, confundiu o meu primo ao telefone, com outra pessoa.Senti-o confuso.
Só depois do jantar, me vim embora, para me certeficar que comia a sopa, o peixe a que retirei as espinhas e a fruta.Come pouco.Muito, muito pouco.
Quando olhava para ele, sentia a sua exaustão.Para ajudar, a cama ao lado, tinha 4 visitas, quando podem entrar 2 apenas.Falavam alto, atendiam telemóveis.Uma feira.Um hospital é um lugar de repouso!
Doentes como o meu pai, deviam ter um fim calmo, num local calmo.Se pudesse leváva-o para uma grande janela, em frente ao mar.Para poder olhar, com espaço.Ou melhor ainda, para uma planície alentejana, num monte, que ele tanto Ama.E ali, o vento ia ondear os campos e ele ia sorrir.
Mas não sei, quando, nem como, será a sua partida?Sei que queria estar ao lado dele.
E o meu medo, está aí.Somente.Não conseguir chegar a tempo.
Quando me despedi, disse-me ainda: "Não te preocupes, que eu estou e fico bem".
Mas eu sei que não.Sei que as dores são muitas e que ele nem sempre se queixa.Sei que pensa no futuro e não sabe como eu acredito que será risonho.Eu confio sempre.
Hoje vou dormir assim, com o coração pequenino e um turbilhão de sentimentos.
5 comentários:
Mt 18.21-35 (Oração Taizé)
"Jesus contou uma parábola na qual o senhor disse ao seu servo:"Perdoei-te td o que me devias, pq assim mo suplicaste;não devias tb ter piedade do teu companheiro,como eu tive de ti?"
Querida Rita, Consegui adormecer os meninos e vim espreitar os que os teus olhos da alma hj observaram e sentiram e li sobre o teu Pai. Continuo apaixanada pela força com que respondes a este cenário de sofrimento e sei que o teu coração confia no que se seguirá como desafios na tua vida. Rezo por ti e pela tua família. Por cá vamos andando, melhor:) Ter os meus pais perto é uma tábua de salvação neste mundo tão rápido e que nos obriga a andar a toque de caixa. O ritmo da alma esse é ditado pelo nosso coração. Bons sonhos , que os len~çóis quentinhos te devolvam energias para o dia de amanhã. 4 Beijinhos especiais nossos (O João foi de muleta para o mestrado)da tua FIJMT (Família Isabel-João_Mariana/Tiago)
AMIGA, Recebeste o meu comentário anterior?...fiquei na dúvida...só queria dar-te um abraço de boa noite e desejar um bom descanso para amanhã agarrares o dia com o teu sorriso lindo.
Bjnho da Isabel Machinho
Isabel=)
Colocaste o meu coração mais quente.
Família especial a vossa, muito.
Obrigado pela força, que neste momento é tão importante.Sinto-vos e estou perto, também.Sempre.E confio no futuro...tanto, tanto.
Com amor amigo, pelos 4, Um abraço quentinho nesta noite fria.
Querida Rita,
estou contigo neste momento difícil.
Muita força para ti!Deus ama-te muito!
Rezo por ti e pela tua família!
(Só um à-parte:que bom que é encontrar também aqui a Isabel Machinho!)
Coragem!
Como hoje estou com algum tempo livre, decidi aceder ao teu blog que conheci através de um email que a Isabel Machinho me enviou, e que eu zelosamente guardei para poder consultar assim que pudesse dar uma escapadinha no trabalho, uma vez que em casa todo o meu tempo é consumido pelas minhas pequeninas, Maria e Leonor. Aqui vão então algumas palavrinhas…queria louvar pela grandeza do teu ser e pela “macieza” (como tu dirias) do teu coração. À medida que lia as palavras que escreveste, as lágrimas, sem eu querer, escorriam-me pela cara, não de pena ou tristeza, mas de encantamento e admiração pela autenticidade e amor que nos passas através delas. Tocou-me em especial este testemunho que escreveste sobre o teu pai – “Mostrou-me os braços secos e disse que estava desidratado. Fui buscar creme e estive a massajar os braços. Mas isso não esconde, que aquele esqueleto, é o que resta de um gigante que um dia me carregou ao colo, me fez rir como ninguém, me ensinou a alegria e me fez sonhar muitas vezes, como criança que ainda é /…/ Doentes como o meu pai, deviam ter um fim calmo, num local calmo. Se pudesse leváva-o para uma grande janela, em frente ao mar. Para poder olhar, com espaço. Ou melhor ainda, para uma planície alentejana, num monte, que ele tanto Ama. E ali, o vento ia ondear os campos e ele ia sorrir.” – O teu pai deve realmente ser uma alma muito querida e especial, por ter sido agraciado com uma filha como tu. É realmente uma sorte e uma graça de Deus termos a oportunidade de nos cruzarmos contigo no caminho da Vida. Por onde passas lanças sementes, há algo que muda, nada, nem ninguém, ficam indiferentes à tua passagem. Obrigada, por essa mudança, por esses testemunhos e obrigada por seres Luz e Esperança para este mundo que tanto precisa se ser Amado.
Beijinhos, com todo o carinho e admiração,
Rita Nascimento (FH LRLM)
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