O meu pai está bem, dentro do que é possível.
Parece que acertaram com o tipo de antibiótico de vez.
Hoje encontrei-o de óculos na ponta do nariz, a ler o Jornal.Bom sinal.Há quanto tempo não o via.
Depois do habitual gelado, e da barba feita, percebi que á volta do meu pai, que não se levanta da cama, vai-se criando uma agitação bonita de se ver,que só visto.
Enquanto lá estive, veio um senhor levar o jornal do dia, para ele ler e levou uma revista do meu pai para ler, deram 2 dedos de conversa e seguiu para o quarto, agarrado ao carrinho do soro.
Passado mais um bocado, veio uma senhora Brasileira, que me indicou um dia destes a máquina do café para ir tirar um para o meu pai, passou a visitá-lo todos os dias e ali fica a ver um pouco de televisão e a falar da vida.
E o meu pai, ou não fosse meu pai, dá-lhes conversa... e da grande.Falam de tudo, e acabam sempre por transmitir que ali se ajudam, estando todos na mesma situação de internamento, só se têm uns aos outros.
Mais tarde apareceu um senhor que é da terra do meu pai, e esse sim, deu-lhe conversa que nunca mais acabava.Ele era, as sardinhas de água doce do Alentejo, era os anzóis, as canas de pesca, a vida por lá...e nisto interrompiam, para ver a TV.Eu apenas assistia sentada na cadeira e deleitava-me com o ar de contentamento de todos eles.Ás vezes calhava virem os 3 de uma vez,ou um saia para dar lugar no cadeirão ao outro, ou ainda iam e vinham cruzando-se no corredor e dizendo que o Sr.Miguel (meu Pai) tinha lá a filha (eu) isto no espaço de 2h, ali.
Ainda por ali fiquei a contar as novidades do fim de semana e ainda nos rimos muito.
Deixei-o como sempre com muito custo acenando no corredor, ao que ele responde sempre levantando o braço.
Começam a ser até os gestos, habituais.
Achei um piadão, como o meu pai, não saindo da cama, continua a atrair á sua volta, boas pessoas, que procuram um pouco de paz, e alegria, falando com ele.Porque é isso que ele transmite e agora mais do que nunca continua a transmitir.É também isso que eu sinto na sua presença, ou assim que entrava em casa, mal punha a chaves na porta.Desde sempre.
Meu querido Pai, único.
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