Os festejos do Sto.António, começaram pela tarde, no Telhal, com os doentes.
E esses foram para mim, os mais verdadeiros e alegres, que podia ter.
Ao chegar á unidade de Sto.António, senti a agitação de um dia diferente, em que tudo estava preparado para festejar, com eles e por eles, este dia.A Eucaristia, que correu muito bem e foi um momento de grande alegria para todos, terminou com algumas palavras da enfermeira Ana, fado á desgarrada entre auxiliares e doentes, e boa energia no ar!
Depois o lanche e o bailarico improvisado que foi a parte mais feliz, e libertadora para eles.Acho mesmo que é terapêutico, o poderem dançar e mover-se livremente.Houve apita o comboio, houve música brasileira, houve espiríto e comunidade.E sempre muito, muito carinho, abraços e beijinhos da parte deles e correspondidos pela nossa.Houve canções pela suavidade da tarde, por nós cantadas...e sentidas.O mais importante.
Houve um querer estar ali...e um deixar-nos estar, porque ali o tempo voa mesmo.E se há local onde faz sentido festejar a vida, é ali.Se há local, onde sabe bem levar o melhor que a vida tem, é ali.Porque eles dão uma cor que mais ninguém dá a tudo aquilo em que tocam ou pousam o olhar.E ali as coisas são o que são.A alegria é mesmo genuína...e profundamente valorizada.
E as dificuldades vencidas...batalhadas.
As coisas que não importam, não têm sequer lugar.
A noite caía, quando Lisboa já nos esperava...e assim vi o céu mudar de tom, gradualmente, enquanto me deliciava com o ar quente e a alegria do povo, os brilhos das marchas...algo tão único como só nesta cidade acontece.Isto é nosso.
As pessoas saem para a rua, e vão diluir-se num banho de multidão, essa multidão que sai á rua nesta noite como em nenhuma outra, para festejar a vida, embora o motivo seja o Sto.António.
Ainda passámos no largo da igreja, pusemos a devida vela ao santo, pedindo um desejo e atirámos a moeda que umas vezes acertava onde devia, outras nem por isso.Mas como alguém dizia, é preciso é fé.E se aquilo que desejamos vem do fundo da nossa alma...mais tarde ou mais cedo, realizar-se-á.
Bom, Alfama acima, íamos parando aqui e ali, para beber algo refrescante, (a noite estava quente e Lua brilhava...) e para dar um pezinho de dança...reaggue, música popular, mais antiga, e até gaita de foles e batucada havia para os lados do castelo.E esse foi para mim o momento alto da noite, em que numa alegria estonteante, as pessoas dançavam ao som da gaita de foles como se não houvesse amanhã...e eu claro que entrei na dança, libertando assim a mente e o corpo.
Entre tudo isto, reencontrei pessoas que nunca imaginei ver ali, pessoas que não via há muito tempo e que me deram aquele abraço.Como o Joel, da minha paróquia de acolhimento em Bruxelas.Foi uma grande surpresa!
Depois a descida foi sempre a andar, até ao carro, com paragens para descansar, que pela madrugada as forças se vão indo...e táxis não é coisa que haja por ali aquelas horas...para além das ruas cortadas.
Acabando a noite, começavam outros o seu dia limpando as ruas, para uma cara lavada no dia do Santo padroeiro desta cidade de luz.
De regresso a casa, via o céu mudar de cor novamente e pensava no meu Pai.Pensava que apesar das minhas gargalhadas, cantorias, danças ele continua ali.No mesmo lugar.
Mas pensava também, como é bom sermos livres dentro de nós.
Dançar, cantar, brincar, rir, aproveitar o bom que a vida nos dá a cada dia...e não deixar de o viver e sentir nunca.
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