quarta-feira, 19 de setembro de 2007




Alegoria da Caverna...



Dizem-me: "Não és sombra do que eras!" e não percebo logo o sentido da frase.

Reajo sem pensar: olho para trás à procura da minha sombra e, em vez dela, vejo outra pessoa. Assusto-me e viro-me para a frente.

Não olho para trás durante muito tempo e imagino um monstro nas minhas costas, pronto para me devorar.

Lembro-me do sombrio Peter Schlemihl que se tornou sombra de si próprio depois de vender a sombra ao diabo.

Penso: "Se não sou sombra do que era, hei-de ser sombra de outra coisa".

Fecho os olhos e regresso à infância, a uma noite de Verão em que Peter Pan voou pela minha janela deixando a sua sombra no meu quarto. (Era uma boa amiga a sombra de Peter Pan, brincávamos juntas pela noite fora à luz do candeeiro.)

Segredam-me ao ouvido: "Não tens sombra porque estás no escuro" e abro os olhos.

Não o podia ver, talvez fosse este o monstro nas minhas costas.

Ouvia-o mexer em objectos estaladiços e de repente acendeu-se uma chama.

E da chama nasceu a luz.

Olhei para ele.Tinha o rosto afunilado de Peter Pan, os mesmos olhos rebeldes.

Pensei: "A criança feita homem".

Disse-me: "Há outra forma de luz lá fora" e levou-me pela mão.

Podia ser este o diabo a quem Fausto vendera a alma e outros venderam o corpo, mas encolhi os ombros despreocupada.

Ofereço-lhe tudo isso de bom grado por ser dono da luz.

Caminhamos lado a lado com a dignidade com que os amantes caminham para o altar.

Estamos fora da caverna.

Não somos sombra do que éramos e a luz atravessa-nos ao meio.

Ou seja, não temos sombra e trocamos de alma como quem troca de corpo.

Somos livres.

2 comentários:

Anónimo disse...

A sombra a que te referes é a protagonista máxima do "Bom combate", que travas contigo mesma.
Na luz o que é da luz...e na luz existe a sombra (aquilo a que vulgarmente e "carnalmente" se atribui o nome de "anjo-da-guarda") que compete com aquilo que te caracteriza a ti, e a todas as outras almas, chama-se "mensageiro" (ou então, o que vulgarmente se denomina "o diabinho pessoal"), nele encontras tal como na sombra, um amparo diário, é ele que te leva a percorrer caminhos nunca antes percorridos; a experimentar novas coisas...mas cautela: embora ninguém possa prescindir do seu "mensageiro" para viver, ele pode-se virar contra ti a cada segundo que passa.
Lembra-te sempre, usa e abusa dele, mas não te afastes demasiado da luz, para que a sombra jamais se afaste de ti.
Ah, na história do Peter Pan, era comum a "Wendy" abrir a janela do seu quarto, aguardando que o tal menino voador penetrasse nele a qualquer instante.
Ele poderia nem vir, mas o simples facto dela acreditar na sua existência, fazia deste sonho, um sonho real.
Inté

P.S. - Um dedal

:)

Anónimo disse...

Tenho saudades de ti...