segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Chave...













Atravesso de uma forma quase sonâmbula o fogo cruzado dos olhares.

Devolvo todos aqueles que me acertam.

Mas nenhum me acerta em cheio.

Pareço estar protegida por uma espécie de campo magnético, envolta em pertença a um poder que não é sequer exercido ou não sei se existe?

Porém é tão efectivo!

Chegada ao ponto, já não corro atrás de ninguém, estendo o braço e depositam-me na mão o que vier com o dia que nasce...

Agradeço com o sorriso que pouco depois se revela sempre numa boa surpresa...

Mas há sorrisos que marcam para sempre e olhares que passam a ser também parte do nosso olhar...

Deambulo vagamente, mais ou menos ao sabor da corrente humana, e o esboço distraído de um passo de dança é o único indício de que estou ali.

Fisicamente.

Na realidade estou muito, muito longe, mas não sei onde esse longe fica.

- Olá Rita...

Não ouço. Não páro.

Solto o ombro tocado, esgueirando-me e desaparecendo numa rápida mudança de direcção.

Nem qualquer rosto se encaixa no meu...nem qualquer coração me toca, ou desejo descobrir...

Mas a memória é uma coisa estranha e por vezes cruel.

No dia seguinte quase só conseguirei recordar a voz tão conhecida que me chamou, a mão tão desejada que tentou reter-me.

Ficarei a saber, tarde de mais, que afinal eu estava inteiramente ali.



















O meu quotidiano aparente desenrola-se quase sempre num espaço físico desprovido de lonjura.

Na realidade, porém, escapei-me dele, ando ocupada no meu abismo interno, onde travo conhecimento com a mulher em estado de renovação acelerada, que me surge cheia de surpresas, todos os dias, muitas vezes por dia.

Estou prenhe de emoções, ofegante de caminhar por pequenas artérias do eu... estou novamente pronta para mim.

Algumas suposições deixaram de o ser, experimento agora a essência real deixada em cada interstício, em cada sulco, bebo-a, essa realidade, e sinto o travo amargo de que não desgosto e aquele outro, doce, que se calhar não quero.

Afinal viver é um constante despertar para novos Eus.

Reviver - ah, gosto de recordações! - é um acto que envolve vários misticismos e é indispensável possuir o poder de ressuscitar de entre os escombros do passado.

Vivi, enlouqueci e morri; agora ressuscitei e encontro-me num estado hiper-acordado, absorvo as coisas com uma percepção rápida e surpreendida que me faz sorrir.

Nunca mais olho para onde não caiba, intensa e inteira.

Se pude renascer, se aqui estou e sou eu, então sê-lo-ei plenamente.

Nunca mais afogo no peito pedaços de sentimentos.

Quero dar-me e tomar o que me é dado, ser inspirada e inspiradora.

Quero cumprir-me sempre como mulher.

2 comentários:

Anónimo disse...

:=)

Anónimo disse...

tão lindo mana...piu...
é assim mesmo...concordo inteirmente...
bons sonhos e bom renascer...