Esta é a África que conheço.Foi aquela onde vivi.
Um ano e meio.Marcou.
A África que é tudo menos cor de rosa,que é dura.Muito dura.Perigosa até.Suja, descuidada, abandonada.Mas com uma cor e um ritmo inigualáveis. Tudo flui.Há alegria apesar das dificuldades e isso sempre foi o que mais me espantou...e surpreendeu.Foi por isso que me apaixonei por este povo e por este continente.Eles confiam que a vida e Deus, vai resolver.
E quando não resolve...dá-se um jeito.Mas sabem partilhar.
E sempre nos acolhem.Nunca deixam de retribuir um sorriso.Nunca.
Pela janela do carro, é esta África que vou vendo e respiro fundo.É como uma tela, onde desejo também entrar.Sabe Deus quanto.Ele sabe.E sabe quando, também.Falta pouco.Vou olhando e acenando ás vezes.Acho que não estão acostumados a que uma branquela qualquer, num bruto carro, lhes acene e sorria.Pensam que estou a gozar com eles,só pode,mas não estou.E acabam por sorrir de volta.Gosto de os ver, como andam, como se vestem, como gingam, como vendem...como enfrentam a dor da pobreza, sem se dar conta dela...como há sempre caminho a fazer, movem-se para a frente...seja lá onde isso for.Caminham.África não pára.E este sentimento enche-me por completo.
Desejo ardentemente, uma solução para este povo, para todo o povo Africano que sofre.E pior é que sabemos onde ela está.Mas ninguém abre mão.
VS
Depois quando me deparo com os portões imponentes dos condomínios, acordo e lembro-me que a minha realidade é outra, neste momento.Volto a respirar fundo.Também não posso parar.Este Bando de alguma forma precisa de mim.
E como.
Os Pais, estão sempre a viajar.É no nosso colo que choram, sorriem, confiam os sonhos, adormecem...e o amor que guardo dentro, sai tão naturalmente.Tem feito a diferença,sim tem.Se dissesse que não, mentiria.Eu sinto.E eles também.
Acho que o facto de nos cruzarmos com alguém nos modifica sempre.Mas aqui, sinto que, inspirada nem sei bem como, consegui progressos.Há uma diferença, entre tocar as pessoas e passar indiferente.Eu apesar de me identificar com o lado mais duro, não posso nunca deixar de amar aqui.Amo.Com a mesma fé e o mesmo amor.Porque os bens materiais nada acrescentam à alma e ao ser destas crianças.Nada.E no fundo eu sou uma sortuda que posso tocar tão de perto estas duas realidades tão distintas, saber onde me situo, onde pertenço e como agir em ambas.Isto vale mais que todos os livros que possa ler sobre o assunto.Porque o vivo.E quando estudei Antropologia...toquei nestes pontos todos, que me pareciam tão teóricos.
São culturais...e não só.
Deixo o continente do meu coração, para voltar em breve.
Mas vou com o sentimento de dever cumprido.
Agora que as malas estão prontas e todos dormem, eu penso em Lisboa e no pouco tempo que vou ter para ver, abraçar, respirar... e na viagem com o Bando num avião particular até Londres.Que aventura.Depois vem o batizado da minha afilhada.Ir e vir em 24h.Londres-Lisboa e Lisboa-Londres.Mas por ela tudo.
Julho vai ser assim, correr, chegar e partir...sem grande tempo para parar.E parar só quando perceber que a viagem é finalmente para me levar onde o meu coração pertence. Á missão.Onde a bagagem se chama Amor.Mas aí parar é que não.Aí é dar o melhor que se tem.
E nisto tudo, trago sempre comigo os que amo.E saudades.Sei que ainda agora saí de Lisboa...nem 15 dias passaram.
Mas é que a vida tão simples como a conhecemos e nos habituámos, é boa.
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