terça-feira, 17 de junho de 2014

Semi-silêncio e alma das coisas.










Há sítios que têm vida, que nos fazem sentir qualquer coisa diferente, quase que têm alma.
Gosto particularmente daqueles sítios que nos fazem estar com quem somos,com o eu, que nos limpam a cabeça e nos nos fazem alinhar os pensamentos de uma forma positiva. Inspiram.Em Lisboa, gosto particularmente dos pontos que nos fazem sair da cidade, estando dentro dela. Quase como um vidro protector, em que vemos a cidade e o rio, mas que por momentos nos fazem estar numa cápsula, que nos isola do ritmo frenético mesmo ali a correr nas nossas costas. Os de sempre: o àmargem, a cair no rio, o jardim do museu de arte antiga, ali a olhar o rio, o miradouro da graça, com o rio lá ao fundo, e a esplanada do hotel do chiado, ali com o rio de lado. É escolher uma hora calma, com poucas pessoas, e de repente estamos numa espécie de recanto de sossego. Acho que é a força da paisagem, a encher-nos o campo de visão, que nos liberta do dia-a-dia e deixa espaço para nos focarmos em nós.

Melhor mesmo só aqueles sítios que nos fazem ficar suspensos sobre a cidade.Lisboa oferece-nos uma paisagem que nos esmaga, e o burburinho da cidade lá em baixo, fica aquele semi-silêncio estranho, mas bom: o nosso silêncio - quando temos (finalmente) tempo para ouvir-nos a pensar.


A perfeição é dois livros, musica nos ouvidos - calma, mas bem disposta - e apenas estar. Porque além do silêncio, quase que nos sentimos dentro do rio. E ganha-se o ritmo lento dos barcos que passam a deslizar, elegantes, sobre a água. O coração acalma a pulsação, mas melhor, a alma acalma o ritmo. Ali, sozinha, ganho tempo: porque não há pressa de ir, porque não há gente a andar, porque não há carros a passar. Ali, move-se tudo ao ritmo do sol,lento, vagaroso, quente...quase purificação, é um dia de encontro. Bom ou mau, falamos para nós, sem falar. Têm-se as ideias que andavam a palpitar mas não tiveram tempo para sair, lembram-se as pessoas que queríamos dizer "saudades de ti" e não tínhamos tido tempo para o escrever. Acalma-se a ansiedade por quem queremos ter ao nosso lado, mas que ainda não chegou. Ali, fazemos as pazes connosco. Um dia inteiro, ou apenas um pedaço dele,em semi-silêncio a alinhar a nossa espinha dorsal e a encontrar o que mais importa, que não é ter coisas,é antes saber deliciar-se com a alma das coisas.







E depois, há as noites de arromba, em Lisboa, como os Santos, em que tudo o que queremos é música bem alta, gargalhadas, calor, amigos e celebrar a vida a bailar.Há tempo e lugar para tudo.






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