sexta-feira, 23 de maio de 2014

É.







Queria acrescentar um minuto, uma vírgula, quem sabe uma hora inteira. Queria olhar para trás e esticar o tempo. Tirar dos momentos maus e juntar aos momentos bons. Queria mais um ponteiro no relógio. Só meu. Queria dizer mais palavras. Queria ter dado mais significado aos silêncios. O tempo foi rápido. Como só ele sabe ser. Traz-nos a momentos sem darmos conta que já chegamos. Nem nos apercebemos do que foi dito, feito, do tempo que faltou para evitarmos este momento. Usamos o tempo no pulso, mas nem nos lembramos dele. E ele sempre a andar. Junto ao bater do coração. Sem parar, sem parar, sem parar.

Há dias em que te sinto mais. Outros em que passas por mim só de raspão. Quando me olho ao espelho de manhã, de olhos entreabertos de sono, e sinto aquele vento debaixo do cabelo, és tu. Às vezes acordas-me com gelo nos pés durante a noite, deixas-me meio desamparada e custa-me voltar a adormecer. Passam horas, minutos ou apenas segundos quando me lembro de pensar em ti, senão o faço, obrigas-me a isso. 

Tens as tuas memórias bem guardadas no meu coração, nas minhas palavras e nos meus gestos. Muito devagar apercebo-me que fazes parte de mim, que foste metade dos meus dias, que tornas as minhas noites completas. Que ao estar perto, mas tão longe de ti, não descanso. Estou sempre alerta, a tentar sentir-te, a lembrar-te em tudo o que faço, a relembrar-te que estou aqui. Que ás vezes ainda acordas e deitas os meus dias. Que vives dentro de mim. Que era só isto que te queria dizer, hoje.


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