O dia começou bem cedo.A noite não foi um sucesso.Ainda por cima ao acordar,chuva.Granizo.A doer.
Lá entrei na grande casa, desta vez sem o ânimo leve de outros dias.
Começou com um shot de contraste.Porque preciso ficar como que,"Transparente" e eu que pensei que já era...qb.
Lá o deixei correr enquanto á minha volta ressoavam 1001 sons...que durante 1h me azucrinaram o juízo.Um concerto.
Na sala de espera, uma infinidade de pessoas.Algumas podia eu ler no olhar, era a primeira vez.Não sabiam onde ir, como fazer e o que fazer.Perdidas.Tal como eu, faz 10 anos.Mas há 10 anos, tinha 22 anos, e um Pai, que me fazia rir em todo este processo e o tornava verdadeiramente mais fácil...e colorido.Eram horas de conversa...e assim fomos crescendo juntos, num caminho que mais tarde, viria a fazer com ele.
Dali fui a correr para o Rx, veste e despe as mesmas batas de há 10 anos, isso não mudou.Respira.Não respira.Se não respira morre.Minha senhora.Quero respirar e muito.
Posso finalmente comer.Sento-me no bar,já com o meu primo.10 minutos de conversa.Um abraço.E corro para a cardiologia, o coração, esse, forte como um cavalo, disse a médica.Ao menos isso.É ele que me salva.É ele que me agarra á vida.Ainda que mais ou menos magoado, forte como um cavalo.Que se aguente.
Dali a correr para as análises.Mais tubos que o normal.De dois passo para 6.Mais sangue.Menos veias.Rebentam duas, a senhora desfaz-se em desculpas.Pique á vontade.Ora essa.Se quiser um pézinho também se arranja.
Não resulta, manda-me beber um sumo e comer um chocolate.Oh mas que pena.Que coisa dura de se fazer.Nem tudo é mau.Sento-me na esplanada partilhando-a com pombos e gatos pretos.O IPO mudou.Ou foram os meus olhos que mudaram?Os mesmos rostos cansados dos funcionários que há anos aturam os carequinhas.Envelheceram.E eu?Envelheci?A resposta não tardou.Uma das voluntárias, reconhece-me e diz-me que estou na mesma, pelo menos de cara.Oh não.E os olhos também, os mesmos.Pois ou não fossem eles da alma...como podiam mudar?Minha senhora?
Uma última picada, agora por uma jovem confiante.Nada de veias a rebentar.Aceitou o meu pedido de me picar onde pedi, desde o começo.Afinal conheço o meu corpo.
Saio em direcção ao gabinete da minha médica.Não está.Procuro-a.Só a quero ver, a mais ninguém.
Fico pensativa milhares de vezes, enquanto me passam filmes pela cabeça.O meu primo na sala, lê uma revista de 1996.A volta ao Mundo.Agora é mesmo a volta ao Cancro.
Mas respiro fundo, acabo sempre por sorrir.Ali é uma casa para nos erguer.Para nos concertar.Para nos fortalecer e tornar pessoas de luta.Sem medo.Ali, eu me tornei tanto do que sou.Foi ali que eu fui, antes de dar a volta ao mundo.Pronto, vim apanhar balanço e não tarda mando-me outra vez.Seja para este, ou para outro mundo.
Enquanto espero, vem o sorriso de uma enfermeira doce.Continua linda.Faz-me bem este carinho.Este aconchego, vindo de onde tem de vir.E são estes dias que nos mostram que de facto está connosco.
Saio pela porta e o sol brilha.Volta aquele sentimento de liberdade.Vou a correr para junto do rio e entro numa maré de turistas...de todo o mundo.Belém.Deixo-me ficar ao sol a conversar e a saborear um café e um moscatel.Depois do almoço, vou a voar para casa da Mana e da sobrinha mais linda.É tudo o que preciso.
O telefone não parou o dia todo.Surpreende-me que a Amizade seja a mais bela forma de Amor.
Hoje,correu bem até.Sem grandes respostas ou conclusões.Fiquei lá aos bocados.Analisem e vejam.Estudem e espiolhem as minhas entranhas.Cheguem onde têm de chegar.Ponham em prática o que aprenderam.Sei que o fazem.
Tenho sono, mas preciso escrever.Ainda aqui estou.
Um pensamento no silêncio da noite, que alguém pode ler durante o dia,incluindo eu, (onde vejo de forma mais clara o que escrevi, longe de emoção...) faz-me sempre bem.
Até amanhã.
Sem comentários:
Enviar um comentário