Nas estações, tal como na vida, cada ciclo tem uma finalidade - e uma forma de ser vivido.
O verão enche-nos de energia, de cor na pele, de forças para o inverno rigoroso. O outono como que prepara para a luta, em modo de aviso. O inverno consome-nos as entranhas. Dias mais escuros, mais sombrios, mais curtos. Chegar à primavera é o objectivo de cada espécie, onde já vai haver mais alimento, mais cor nos jardins, mais luz solar.
Nas relações - nos amigos e nos amores - o ciclo é igual. Repete-se entre momentos quentes e próximos, e momentos mais frios e distantes.
Mas aqui, ao contrário do que seria normal, são os Invernos que fazem crescer as raízes que seguram. Gostar de alguém nos Verões de uma relação é fácil. Naqueles momentos em que tudo é sol e festa, em que os dias são longos e as noites de brisa quente são intermináveis, ai é fácil ser feliz. Naqueles dias em que tudo corre bem, em que os horários se encontram, em que os amigos aparecem para jantar, em que a musica, em shuffle, bate sempre certo com o riso. Aí é mais fácil ser feliz, aí um amor cresce, cria laços, ganha dimensão. Mas não fica forte. Fica maior, mas não forte.
A força de uma relação nasce nos outros dias, nos dias difíceis.
Nos invernos rigorosos, em que o cinzento enche o céu, em que a neve traz um silêncio sufocante. Nos dias em que tudo corre mal, em que o trânsito atrapalha, em que os amigos chateiam, e até a nossa simples imagem num espelho nos irrita. Nesses dias, estar com alguém, mesmo longe, e conseguir chegar ao fim do dia ainda mais próximo, isso sim, faz ganhar pilares inquebráveis. Quando tudo é difícil, quando tudo é dor e aperto, mas ainda assim se mantém o sorriso para quem se ama, quando só dizer o nome dele, mantém a alma cheia. Quando tudo é peso nos ombros, mas ainda assim a vontade é do abraço que sossega, e que, de repente, nos faz ficar leves. Quando no meio do inverno é ao amor que nos agarramos, como se fosse a maior e mais segura das rochas, aí sim, sabemos a força das raízes que cresceram no verão. E como em todos os ciclos da vida, sabemos que o inverno há-de sempre passar. E que a primavera é quando a fazemos acontecer...
Levo a vida assim, o que é bastante confuso para quem vive ao meu lado. quando esperam que me acalme no mar morno, eu volto a fugir para a corrente. quase milagre é encontrar quem viva no mesmo limbo. quem tenha uma vontade férrea de lutar pelo que quer, que abandone o confortável, para ter o mais-que-bom, mesmo que correndo o risco de não chegar lá. mesmo que corra o risco de ser levada pela maré forte. mas que importa, tentaste pelo menos. abandonei de vez,faz tempo, o padrão de viver na linha da água, a boiar, calma e serena. vou continuar a mergulhar contra a onda alta, de olhos abertos, a sentir o ardor do sal na pele, o frio do vento ao pôr-do-sol. a pele enrugada das horas demasiadas na água..
disse-te uma vez que a minha alma era como a tua. não gémea, não igual. mas a mesma alma. brava, louca, entregue ao limite que sabemos existir. vem, mergulha comigo.
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