sábado, 20 de abril de 2013

Vai mudar...eu sei.






O tempo vai mudar, eu sei. 
Denuncia-o o vento que me revolve os cabelos quando fecho os olhos e penso na partida.Mais a norte, nessa Europa,ainda não cheira a este sol.Nem o sol existe como aqui.Nem tu existes ali.
E a madrugada avança e eu estou parada,escrevo, mais uma vez e como se fosse a primeira vez, como se não adivinhasse este dilúvio dentro de mim. Quando te disse que gostava de ouvir a tua música, era apenas isso que queria dizer: que a queria ouvir até que ela me cobrisse, até que não houvesse mais nada. Conversamos tanto sobre tão pouco que às vezes duvido da minha capacidade de abstração e de me exprimir. Falamos, usamos palavras gastas, moldamos-lhe o significado, tentamos alterar-lhes o sentido até que elas possam dizer exatamente o que queremos mas nunca conseguimos, ficamos sempre quase lá.
Em suspenso.

E tu, quando tu me pedes silenciosamente para ir embora,(porque nunca me prenderias dos meus sonhos) sabes que gostaria de ficar. Desenterras a ferida mestra com que me marquei um dia e sabes exatamente quando e como me vou magoar. Não faz mal, penso eu. Não importa que saibas ler-me para além de todo o ruído com que normalmente me cerco. Eu quero ser triste contigo, porque tu sabes como dói. E quando a minha dor passar a ser a nossa dor, a tristeza vai amansar e seremos menos tristes,os dois. Sentada neste banco alto , espero apenas o momento em que me desarmas para soltar o dilúvio de mais uma despedida.
E vai ser a ver-te tocar que me vou despedir. De palavras, de sal. E se me ofereces mais um momento, é porque sabes como a dor desiste de mim quando a euforia me controla o corpo. Só quero que me doa até chegar aqui. Até ao momento em que abrimos a porta e não olhamos mais para trás .Antes disso e depois disso, eu sou apenas mais uma.



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