Algumas vezes pensei se não seria loucura da minha parte meter-me num avião para o outro lado do mundo nestas condições. Ainda hoje penso que foi loucura da minha parte ter-me metido no avião nestas condições. Mas nunca dei parte de fraca, isso teria sido a morte dos meus sonhos, sobretudo se tivesse vacilado perante a mim mesma, que nunca tive medo das oportunidades... Só falei dos meus medos aos meus melhores amigos (sim, meus queridos amigos), que me responderam simplesmente, que onde quer que fosse eu seria feliz!E pronto, com esta me fui, lá fiz das tripas coração, arregacei as mangas e fiz-me ao caminho.
De momento, a minha vida gira em torno de duas cidades...e vou dividir-me entre elas...nos próximos meses.
Podem entrar ainda outras cidades, neste vai e vem, mas para já Luanda e Lisboa (Cascais).
As 8h que separam estas duas cidades, dão-me tempo para pensar...e organizar ideias.Para sonhar o futuro e os planos que entretanto foram nascendo dentro de mim.Eles vão acontecer.
Enquanto isso não chega existe um caminho...a trilhar.
Os últimos meses não tenho parado.
O mundo, é o palco onde me movo.
Em Luanda...
Ando de motorista para todo o lado.E minha segurança essa não a sinto em risco em momento algum.
Já criei alguns laços ainda que muito ténues, os que comigo convivem diariamente...e que aos poucos me foram mostrando, como tudo funciona.São eles que me fazem sorrir todos os dias e com quem partilho tudo.
Já tive a oportunidade de constatar a disparidade social...que se afirma de forma exuberante.E isto é o que mais me custa.Luanda cresce a olhos vistos.
Já senti um calor de morte...e apanhei uma grande molha de uma chuva tropical.
Já fui picada por um mosquito no pé mas que felizmente não tinha paludismo.
Já ouvi historias da guerra e de amor...de gente forte que sobreviveu e lutou.Gente cansada e humilde que me dá o exemplo.
Já senti o cheiro e o sabor de um continente que amo, novamente.Aprendi a comer a comida Angolana.
Tenho 2 quartos, onde repousar a km e km,um do outro...e vou cada vez menos ao meu verdadeiro quarto.Talvez seja o tempo de o deixar de vez.
Ouvi os meninos dizer tata, caminhei por um mercado de rua...e encontrei uma linda menina jogada no meio de sapatos velhos, que como um sinal me encheu de esperança...pelo que ainda tenho a fazer.
Senti que de facto estou na cidade mais cara do mundo, onde uma alface custa 7 euros, 4 iogurtes, 12,50 euros e uma garrafa de água pequena, 10 euros.
Mas eu por ali, pouco gasto e vou fintar esta crise, com uma grande pinta.
Entre tantas coisas que os meus olhos captaram e sentiram...uma me fica...que a quantidade de experiencias,realidades, percursos de vida e diferentes culturas que tenho adquirido, um dia vão dar um livro.
Mas as saudades...da vida simples e de entrega...essas nunca se calam e esse será um dia, o meu fim.
E não me adianta continuar a falar desta dor no peito, discutir se a dor é física ou psicológica, que eu sei bem que a sinto, que me dói como há muito tempo não sentia dor nenhuma e não me interessa mais nada. Não adianta de nada dizer que ainda não acredito que vivi um amor impossível, ou falar da vontade de acreditar que talvez ele não seja impossível, do medo de que afinal seja mesmo, do horror que me causa a perspectiva de nunca mais poder voltar, das borboletas no estômago, do desejo permanente de regressar ao fim do mundo...Lichinga, Niassa, Moçambique.
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