É um dia igual aos outros.
De manhã o sol nasce e à noite põe-se e fica escuro outra vez.
Os donos passeiam os cães de manhã, os pais deixam os filhos na escola, as pessoas esperam pelo autocarro e a manteiga está dura de estar no frigorífico, como sempre.Pessoas partem e chegam a diversos pontos, enquanto eu desejo e vou vivendo e pensando em tudo isto.Amando o mundo, desta forma que me aquece.
Mas não é um dia igual aos outros, cá dentro não é.O dia em que se parte ou de deixa algo para trás.
O mundo que continua a girar com a mesma velocidade e as mesmas rotações por minuto parece que está envolvido numa espécie de celofane, ou que saímos de casa, com aquelas borrachas para o barulho ainda nos ouvidos. A vida continua, mas parece que só lá ao fundo, quase irreal, como as imagens que passam nas salas de espera das urgências e a quem ninguém liga. O dia em que as coisas acabam, tem 24 horas como os outros mas é uma espécie de maratona interminável. É o dia do nosso adeus com um sabor meio desastroso, um adeus,que sabe bem pior do que ter negativa na escola ou perder uma corrida, ou queimar o jantar com convidados à mesa, porque é um adeus, que vem de dentro, que vemos só como nosso, mesmo quando é pouco justo, impor esse peso.
Porque apenas eu sei o que vivi e não o posso explicar.E isto funciona como uma bolha.
É o dia em que queremos que falem connosco e nos façam esquecer este aperto no peito, ou então que fiquem calados, porque dói se disserem coisas tristes, e dói se disserem coisas felizes. É o dia em que sentimos que estamos a deixar tanto para trás mesmo quando as pernas andam para a frente, e como somos humanos, não conseguimos evitar ficar ainda mais, um bocadinho mais tristes. Dizem-nos que é o primeiro dia das nossas vidas,quando deixamos algo, mas enquanto acontece parece só um grande, enorme,Adeus.
E depois permanecemos num limbo, que mais tarde ou mais cedo termina, porque tudo o que queremos, acaba por acontecer.
E depois, hei-de escrever sobre o dia em que inicio algo, de novo e da felicidade que isso me faz sentir.Eu sei,eu sei que vai ser assim.Mas ainda não chegou o dia.
E viver, como eu escolhi, passa por tudo isto, a euforia da partida, em que não se vê mais nada, apenas, o ir.
E nesse dia somos os maiores.E podemos ate deixar algumas coisas para trás porque elas não interessam naquele momento.Mas elas não deixam de existir.
Depois a alegria da chegada e dos reencontros, que nos dizem o quanto somos amados.O nosso espaço, as nossas coisas...os sabores, cheiros de sempre.
Logo a seguir, vem a apatia da estadia,(a fase em que e encontro neste preciso momento...) para quem como eu nunca parava quieta e encontra um Portugal pior do que nunca.Embora lute diariamente pelo futuro e tenha planos bem definidos do que quero a seguir.
Mais tarde volta-se a uma montanha de emoções, porque algo surpreendente nos espera e acorda em nós o espírito de aventura e entrega, perto ou longe.
Mas a reconfortar-nos temos as recordações, e aquilo em que nos tornamos e que já ninguém nos tira.
A riqueza infindável que nos habita.
A vida, toda ela, uma montanha russa.
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