quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Acordar, Semear e Amar





























Há dias eu diria quase perfeitos, a perfeição tem sempre alguns inimigos, por insignificantes que sejam.
Mas este dia foi assim, desde o momento em que abri os olhos e o sol em inundou por dentro, até ao momento em que adormeci, em paz, um dia maravilhoso.
E ás vezes nem são precisos grandes momentos.Eu precisei somente daquele sol na janela, que todos os dias me tem despertado.Olhando para ele já sei que horas são.Acordo mesmo antes do despertador e fico ali a sentir o sol na pele.
Depois chego á escolinha e vêm os meus meninos a correr, para me ajudar com as coisas e me dar beijinhos nas mãos.Como é que se pode começar mal o dia, ou andar de cara fechada aqui?Não se pode, mas acontece a muita gente.Não entendo.
Depois começa a aventura na sala de aula, onde juntos avançamos, na esperança de um futuro sempre melhor.
Andamos a semear feijão, que está ainda a germinar nos copos, para eles uma emoção ver a evolução, e alegram-se em cada dia, por poder regar e cuidar do seu rebento.
Mesmo que ao plantar, o feijão não pegue que é o mais provável, mesmo que as galinhas vão comer a nossa hortinha, valeu a pena pela alegria que sentimos juntos em fazê-lo.E pela aprendizagem.Há sempre uma razão positiva...e os meus olhos parece que já só olham para essas, esquecendo as negativas.
E o momento alto do dia foi celebrar o aniversário da Isilda.Esta menina toca-me de forma especial, passo as manhãs a ralhar com ela, porque não sossega, fez apenas 6 anos e passou os 5 anos na primeira classe, ainda não tem a maturidade necessária para aprender a maioria das coisas.Depois tem uma figura franzina e peculiar.É muito pequenina e mexe-se sempre muito veloz.Ás vezes parece um ratinho que tenta passar despercebida por todo o lado, mas eu vejo-a sempre e ela sabe, por isso olha para mim com aqueles olhos doces e travessos a pedir mimo.
A Isilda, perdeu a mãe era muito pequenina, e vive com o Pai, que acaba por não lhe dar a atenção que merece, nem o cuidado...olho para ela e sinto-a a crescer por sua conta e risco.Isto quando não lhe bate ou a entrega aos cuidados das suas inúmeras companheiras.O pai não tem uma situação económica má, pelo contrário, mas a Isilda vai sempre sem lápis para a escola, a roupa velha, rota e suja.São contrastes, que vou encontrando e sobre os quais posso apenas dar o meu Amor.
E por isso no dia em que a Isilda fazia 6 anos, ainda fui a tempo de a mimar e dar-lhe muitos abraços e alegria, porque ela mesma não sabia ser o seu aniversário.Os abraços desta menina são apertados e sentidos, como apenas alguns que eu tive a sorte de receber.Ela quer, precisa e gosta tanto de abraçar.
A minha prenda foi o dito lápis, para que possa fazer os trabalhos...e não me tenha que zangar todos os dias e ainda para dar cor aos dias, 12 lápis de cor.São coisas simples.
Aqui o que se dá não será nunca material.Podemos pintar o céu e a terra, de todas cores, dar-lhes isto e aquilo, mas o que mais precisam é sem dúvida de Amor.E esse, nem sempre se vê, porque não fica exposto na parede da sala, ou nos cadernos, mas dentro de cada um, para a vida.E dentro de mim também.
É esse que vou continuar a semear, desde o momento em que o sol me acordar, até ao momento em que os grilos e a lua,que agora parece mesmo um sorriso, me embalarem.


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