Last day in Hospital...goodbye to this project.
Por esta hora a minha colega de quarto Burcu, dorme profundamente, lá fora chove imenso, a mala está pronta para Istambul e eu venho terminar aqui, um longo e emocionante dia.
Sento-me por fim de eu para mim.Hoje foi o último dia de projecto!
Foi a última vez que me vesti como palhaço e fui abraçar os meus meninos no hospital.Todo um ritual que fiz ao longo de 6 meses como se fosse a coisa mais séria do mundo.
E porque o é.
Não é por me vestir de palhaço que passa a ser apenas brincadeira.Nestes meses falamos de vida.De vida real.
Nem um único dia eu faltei á minha missão com eles.
Muitas vidas e histórias deixo para trás, sem saber o que será a seguir?Quero que terminem bem.Como a minha história.Muitas situações que me são familiares e talvez por isso as soube contornar...ficando surpreendida comigo mesma!
Uma parte do meu coração, fica naquele hospital.Aconteceu magia...tantas vezes.Existem médicos que curam o corpo e médicos que curam a alma, o coração o sorriso.Ambos trabalham a par e só assim se pode triunfar numa doença como esta.
Eu pintei a manta,dancei onde ninguém ousa dançar, estendi a mão aos mais altos e ilustres médicos e doutores, quebrei muros e barreiras de gelo, alguns sorrisos apenas vieram nas últimas semanas, mas vieram e isso conta.Foi passo a passo.Muita gente macambúzia se abriu á cor e ao amor!Não foram só as crianças, foram as famílias, foram os pais, mães, avós e irmãos de lágrimas nos olhos, sem saber o que fazer á vida, cansados de estar fechados e isolados, lutando numa cadeia sem grades.
Criou-se uma família dentro daqueles corredores e ao entrar já não precisava de cartão ou identificações.
Não houve lugar nenhum no mundo onde quisesse estar mais nestes meses do que ali dentro.
Não me impressionam os cheiros, não me faz confusão os sons de um hospital, não caio para o lado por ver sangue...não me sinto doente nem me faz mal.(Como dizia alguém que não visitava os seus, desculpando-se com isto...é triste.)
Ao contrário sinto-me cheia de vida e energia quando ali entro.É o local onde me sei mover, sei onde não tocar e o que dizer.Apenas já estive do outro lado, tempo suficiente para saber tudo isto.
No fundo, não vesti nenhuma personagem ou coloquei nenhuma máscara, apenas fui eu...a Rita,o palhaço da vida, que aprendi a ser e que me tem levado tão longe em busca de sorrisos!E penso sériamente começar um projecto um dia, em Portugal.
Pudesse eu traduzir em palavras o que sinto neste momento em que me preparo para partir rumo a Istambul e logo de seguida para Lisboa.
A última viagem destes meses.Uma viagem também para reflectir e parar, mergulhando nos braços ternos de AMIGOS!Um cheirinho a Portugal...por certo.
O dia foi longo e emotivo, a TV Turca, apareceu hoje no hospital para uma reportagem, que passa pelo que disseram amanhã ás 19h (na Turquia) e ás 17h (em Portugal) no seguinte link: Reportagem, foi um olhar sobre aquela pequena escola que funciona ano após ano desde 1969,um local que quase ninguém vê, mas que existe e não deixa parar a vida daqueles meninos que tão cedo se vêm obrigados a parar com uma luta desigual com o cancro.
Saí hoje, lentamente do hospital olhando as janelas, sabendo de cor quem as habita e pensando em tudo o que aprendi ali dentro.Mais uma escola da vida entre tantas que conheci.Até me ir deste mundo hei-de aprender.
E eu, como estou?
De coração partido mas pronta para abraçar a próxima missão, seja ela qual for ou onde for, eu cá estarei sempre firme e de braços abertos á vida, ao mundo e aos que quiserem abraçar-se a mim também.
Aos que não querem e porque os pressinto, sabem há muito, que eu não corro, caminho de verdade e a distância vai-se alargando por isso, no entanto eu continuo a caminhar.É uma questão de parar e esperar ou então jamais olhar para trás.
E eu pergunto,há algo mais belo do que ser-se livre e realizado por AMOR?
A Missão foi dedicada ao meu PAI e está cumprida.
Até breve...
1 comentário:
Obrigada, Rita!
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