As nossas manhãs no hospital tornam-se cada vez mais habituais para os que lá têm que viver e sobreviver.
Alguns já nos esperam e sabem que é dia de os visitarmos.
Assim como se torna um ritual interessante pintarmos a cara de manhã e a facilidade com que o fazemos, ás vezes parece que o fizemos a vida toda e que aquela é a nossa profissão.
Se esta profissão se chama Amar, então sim, orgulho-me de a ter escolhido ou de ela me ter escolhido a mim.
Pelas ruas os sorrisos sucedem-se ou então as caras que não ousam mover-se.Aos mais novos é um respirar e aos que estão fechados num quarto dias, meses, anos é ainda mais revigorante.
Deixá-los com um sorriso e com outra disposição é ter o dia ganho.Alguns levaram semanas a abrir um sorriso,mas quando o fizeram...valeu a pena.
Leio no rosto de alguns o tempo escasso de vida que têm.Leio literalmente.O cancro é algo tão familiar para mim.
Esta semana houve uma situação urgente, de repente todos os enfermeiros e médicos começaram a correr para um quarto com imensas coisas na mão e a gritar.Do quarto vinha um choro intenso de uma criança que tínhamos acabado de visitar á minutos.Algo parou, algo correu mal, mas ela estava bem.
Encostar-me á parede foi a única reacção que tive e voltei a gelar como á muito não acontecia.Aquela situação paralizou-me por momentos e fiquei aflita.Foi ali que realizei para mim mesma, que há coisas que nunca se apagam dentro de nós.
O medo.
Nesse dia, mal almocei.Fiquei com um nó e pensativa sobre tudo o que as pessoas têm que sofrer para se curar ou então ficar a meio do caminho.
Eu tive muita sorte e esta bênção que é a minha vida,que vou celebrar até ao meu último suspiro.
Está escrito.
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