terça-feira, 2 de junho de 2009

Pai
















Os últimos dias, o meu pai tem estado com imensa instabilidade, a nível gástrico.
Cansado,leva ferro e transfusões.
Depois de um fim de semana agitado, onde recebeu muitas visitas, incluindo a do Deodato, que só ficou feliz, quando se viu sentado ao lado do pai da "Ita" a falar para ele.
O meu pai riu muito, e ver o sorriso dele...vale tanto, em dias como estes.E foi bom para os dois, que criaram uma amizade bonita.
Hoje, cheguei á visita e vi a cama vazia.O meu coração parou, congelou e o senhor da cama do lado, disse-me que tinha mudado de quarto.Imediatamente fui ter com a enfermeira e perguntei porque tinha mudado de quarto.
A verdade é o que eu receava, piorou.
O quarto mesmo em frente ao gabinete de enfermagem e dos médicos.Onde a observação é feita mais de perto.A infecção não cedeu ainda.
Curiosamente, ele pareceu-me muito melhor de ânimo, falava muito,ria-se, metia-se com as auxiliares e chegou a parecer-me que roçava ali o delírio, mas não quis dizer nada.
Hoje embicou, que havia de comer umas sementes que há em Santarém, que ele chama de chicharros.Se alguém souber o que é, por favor contacte-me pois ele fala nisso desesperadamente, com desejo.Vi-me mesmo forçada a ligar para a Catarrrina, que está em Santarém, para ver se arranja e traz os ditos Chicharros.Olha pus os dois ao telefone, foi uma animação.Naquele serviço, toda a gente já se ria, com o meu pai, que até de olhos fechados, falava nos chicharros com azeite e vinagre.
Bom, hoje pediu-me para lhe fazer a barba, assim fiz.Também uma massagem nas pernas, paradas na cama, e no braço mais preso.Fica sempre tão bem, depois disto, bonito e bem cheiroso.O jantar chegou e era peixe, comeu apenas a sopa e a pêra cozida, ainda bem que lhe levei um bolo de arroz...para compensar.
Depois lavar os dentes...com muita calma.Tarefa complicada para quem está na cama, mas possível.Acabo por entrar e sair,pedir luvas e recipientes, toalhas e resguardos, mas isto é o pouco que ainda posso fazer por ele.
Depois deixei-me ficar ali sentada, a conversar com o meu pai, a ver as notícias, enquanto o dia começava a cair lá fora e o ar fresco entrava pela janela.
Ouvia-se falar do avião da Air France que caiu.Tanta gente que perdeu a vida, assim, de um momento para o outro.Isto faz-me pensar, que para morrer, não é preciso muito...e isso faz-me dar ainda mais valor aquele momento, ali ao lado dele.
A hora de vir embora é a que custa mais.Pudesse eu nunca o deixar para trás, ali, pudesse eu pegar na sua mão e caminhar com ele, outra vez, pudesse eu tirar-lhe todas as dores.
Mas posso fazê-lo sentir-se amado.
E só isso, já valeu a pena.





Até amanhã, Pai.

2 comentários:

Ana (Chão de Couce) disse...

Olá Ritinha.
Como pedis-te para se alguém souber o que são os chicharros de que o teu pai fala,aqui estou para te ajudar nisso...
A quem lhe chame chicharros mas, na realidade,são chicharos,talvez encontres a venda ai pela cidade...
As melhoras do teu papa,o nosso grande Amigo está sempre a olhar e cuidar por ele,fica descansada que Ele nunca o deixará...
Um grande abraço

Ana Lopes (Chão de Couce)

PPN disse...

Faltou texto.
Quando digo que é tudo o mesmo é aqui em Viseu.
Aí para baixo o chícharo é uma coisa parecida com o tremoço, talvez encontres na BioCoop junto ao Aeroporto.