domingo, 29 de março de 2009



Noite em claro




Depois de um Sábado cheio e muito feliz de grande partilha, com pessoas únicas na minha vida, a noite foi diferente...
São 8h04 minutos, da manhã de Domingo, e eu estou acordada e na net.
Pensam que endoideci.Quem a um Domingo, acorda a esta hora para escrever?
Eu.
A noite foi agitada.A acordar de 10 em 10 min, para ir ver o meu pai, ao quarto.Tem febre, sente-se mal.Sempre alerta fiquei, para ver se precisava de alguma coisa, para o ajudar a levantar, pois as forças faltam-lhe e a transfusão de sangue é apenas na 2a feira e ainda falta tanto.E um dia parece uma eternidade.Tem anemia, e a cor ausente de si.
Ao querer agarrar o copo de vidro na mesa de cabeceira deixa-o cair, acho que o prédio acordou.
Sereno-o.Volto para a cama, mas não sou capaz de dormir, vejo as horas a passar e temo.
Temo que noites como esta, se repitam e que a sua dependência aumente.Em silêncio rezo, e peço que seja como for, a paz regresse para ele e para nós.
A minha quaresma foi e está a ser em muito recusar tantas coisas para estar aqui.Aqui onde a minha missão está já ali ao lado, á distância de 4 ou 5 passos.E vou cumpri-la até ao fim.
Volto a ir ao quarto e substituo o copo por uma garrafa de plástico.E isto sossega-me.
Penso.Penso muito.No futuro, na minha família.No que está para vir.
As horas a passar e a luz de um novo dia a entrar pelo quarto ameno.Penso que alguns dos que amo, estão tão longe desta minha realidade.Enquanto alguém do outro lado do mundo, está tão perto e presente que oiço a sua voz e sinto o seu abraço.Também está acordada, mas pronta para ir dormir...ao contrário de mim.Cruzamo-nos aqui, e um farol brilha sempre a meio da noite...para nos dizer, que o amor a Deus e ao próximo é e será sempre a minha opção.A nossa opção.Mesmo que isso seja entendido por muitos como engenuidade ou inocência, no mundo em que vivemos.
(Interrompo esta escrita, para descascar um peça de fruta e fazer uma torrada, para o meu pai tomar os comprimidos,a quimioterapia que vai fazendo em casa, longe do frenezim dos hospitais e aproveito para tomar o pequeno almoço.)
Amanhã queria estar presente no envio de alguém que não conheço mas parte para Timor, para Laclubar, para reforçar a missão.Perdoem-me se não conseguir ir.Queria também passar a manhã na Idanha com a Catarina.E mais logo, os amigos da Póvoa e a Zélia e com quem faz parte de mim, mas perdoem-me se hoje, amanhã ou depois, eu não estiver para vocês...como desejo. Mas e se ele chamar e eu não estiver?
Há aqui uma missão e envio constantes, aos quais não posso faltar.
Bom são quase 9h e eu ainda vou tentar dormir alguma coisa.Mais leve agora e acho que oiço o meu pai ressonar.Que alívio.

Eu bem achei a noite de ontem ventosa e fria, só não sabia que o vento sopraria assim, aqui.


9 comentários:

Maga Medéia disse...

Pois é, também eu estive ai ontem e vi o pai sem forças...sem se conseguir levantar pela primeira vez e a tremer de febre e liguei para o número do hospital que nunca atende...e fiquei ai até a mãe voltar...O melhor seria transformar a sala e ter lá uma cama para a avó, para estarem sempre todos juntos...pois a mãe estava muito nervosa por ter dois dependentes de quem cuidar em casas diferentes e medo de deixar algum sozinho...
vim para casa com o coração muito apertado, a pensar muito sobre a familia e o seu futuro...na falta de apoio por parte do hospital, no apoio que o doente e a sua família necessitam para saber viver estas fases más e que não temos...com vontade de fazer queixa....
Sem perceber como tendo que manter dois empregos para pagar as contas vou conseguir estar mais por perto...e sem saber como se pode estar mais por perto e aguentar ver a família num caos e o medo nos olhos de todos...sem desatar a chorar à sua frente...a fragilidade daquele meu mundo, que um dia já foi a fortaleza da minha protecção...
não preguei olho...as lágrimas correram durante toda a noite até me começarem a doer os olhos e ficar dormente...
pelas cinco já andava levantada...
fui para a net procurar associações de apoio...nenhuma na amadora, perto de casa...encontrei duas em lisboa...vão a casa dar apoio psicológico...existem grupos de familias, mas não sei se é possível reunirmos forças para juntos tratarmos das nossas dores...
não conseguo levar a vida para a frente... o grupo de jovens...não tenho forças para animar e preparar as sessões...o tema era a eutanásia e os cuidados paliativos, os sentimentos sobre a morte...e desatei a chorar à frente de todos...
não me apetece sair com ninguém, fazer coisas giras, passear, estar com os amigos... estarei depressiva??? não sei...
refugiu-me no trabalho, que já é muito e espalho-o por todas as horas e dias da semana, para ter que pensar menos na vida real...enquanto vou tentando resolver problemas do mundo e dos outros, deixo os meus apodrecerem cá dentro sem cura...
mas também não quero ficar assim no sofá, enrolada numa manta a recordar memórias dos meus tempos felizes que acabaram em 2003...quando esta doença chegou a minha csa e nunca mais fui a mesma, nem a felicidade voltou mais em todo o seu explendor...o desgaste, a angustia, o medo pelos outros e que os raios voltem a cair mais vezes no mesmo lugar...
Mesmo não vivendo com os pais, sinto tudo isto e percebo a dor maior de quem está como tu todos os dias...
tive que sair a correr ontem dai para o pai não me ver chorar...
não sei lidar com isto e o que fazer para ajudar...sinto-me paralizada...
nem sabemos em que situações deve ou não ir para o hospital...ninguém nos ensina e apoia...
mundo cão...apesar de haver situações bem piores, sinto-me mais fraca e frágil que nunca...sem saber como vou continuar a ter forças para a associação, para a faculdade, para todos os empreendimentos que a vida me coloca à frente...
beijos mana...
Tudo vai correr bem...

«The Blogger» disse...

Oh Ritinha.. gostava de saber e conseguir dizer qq coisa, mas infelizmente n tenho o talento das palavras, elas n me fluem como a ti...
Por isso digo apenas, força Amiga, mta força, sabes q estou e estarei sempre ao teu lado.
E aqui deste lado, do meu jeitinho mt próprio, eu torço pelo teu pai, por ti...

Abraço apertado,
Bruno

erute disse...

Rita, termino de ler o teu post de lágrimas nos olhos... queria estar perto e dar-te aquele abraço que necessitas e que nem sempre te é dado.

Consigo compreender minimamente o que sentes e o que vives... eu revivo-o nas tuas palavras.

Nada mais te posso dizer e ou fazer... somente te posso dar a certeza de uma oração...simples, humilde, a pedir ao Pai que a exemplo de Cristo, tu e a tua familia, consigam suprar tudo na obediência da vontade do Pai. É esta a mensagem da 2ªleitura deste 5º e último domingo da Quaresma.

Estou convosco.

Unknown disse...

Querida Prima Rita (e Vanda),
Sei que tudo isto, que neste momento estão a passar, é sem dúvida muito doloroso para quem vive a realidade de perto. Sem sombra de dúvidas poderei, um dia, dizer que sei do que sentem porque nunca vivi situação semelhante. No entanto, quero que saibam que Cristo nunca nos dá mais do que aquilo que conseguimos suportar. Como vos conheço (e muito bem), sei que têm ambas uma força tremenda. Mas ao mesmo tempo, ambas uma fragilidade escondida, que vos faz tremer de situações como esta. Estarei sempre, mas SEMPRE convosco! AMO-VOS MUITO!

zelia disse...

Ritaaaaaaaa....minha rica menina....

Ah momentos que não sabemos o que dizer.....resta nos o silencio e a oração....fecha os olhos e imagina aquele sorriso fantastico com que nos felicitamos pela primeira vez que nos vimos.... e todos aqueles abraços que damos cada vez que nos encontramos...

mas como os amigos não são so para os momentos bons aqui vai todos aqueles abraços e sorrisos....


força conta com a minha oração...

adoro teeeeeeeeeeeeee
bjs

zelia disse...

Ritaaaaaaaa....minha rica menina....

Ah momentos que não sabemos o que dizer.....resta nos o silencio e a oração....fecha os olhos e imagina aquele sorriso fantastico com que nos felicitamos pela primeira vez que nos vimos.... e todos aqueles abraços que damos cada vez que nos encontramos...

mas como os amigos não são so para os momentos bons aqui vai todos aqueles abraços e sorrisos....


força conta com a minha oração...

adoro teeeeeeeeeeeeee
bjs

Cat@ disse...

Meu amor...
Não sei o que te diga..Não sei o que te possa "trazer a cima"... Sei bem o que custa ver um pai assim..Mas, espero que hoje através dos abraços que trocámos, tenhas percebido que estarei aqui, mesmo sem saber o que dizer, mesmo sem frases bonitas e tal, estarei sempre, mas mesmo ao teu lado...
Não te importes com o que deixas por fazer agora..Deus chama-te a outra missao neste momento...
Estou aqui..Sempre....a teu lado meu anjo :)

Anónimo disse...

olá minha querida!!!
Nestes momentos uma pessoa fica paralisada,sem conseguir mover qualquer parte do corpo e sem conseguir renovar o ar,para uma inspiraçaõ e expiração renovada...
Por isso sinceramente,embora tente,não consigo,encontrar uma unica frase,sequer uma palavra,de conforto que te podesse arrancar um unico sorriso,embora por mais pequeno que seja...mas não consigo,arranjar uma unica palavrinha de conforto para ti...desculpa minha querida....
So passei para te dizer,que apesar de apenas te teres cruzado,no meu caminho,apenas uma vez,uma unica vez,gosto de ti,com toda a minha força...ui,e se gosto minha querida :) por isso nao podia deixar de te dizer:

minha querida

se precisares em algum momento,quer seja ele,bom ou menos bom,de um ombro amigo,lembra-te:eu tenho dois :)

Muita força minha querida!!!!
Estou-me juntando a ti,em oração!!

um beijinho grande :)

adoro-te de coração ;)

NúriaMartins

Peregrina disse...

Uma noite eu tive um sonho...
Sonhei que estava andando na praia com o Senhor
e através do Céu, passavam cenas da minha vida.
Para cada cena que se passava, percebi que eram deixados
dois pares de pegadas na areia;
Um era meu e o outro do Senhor.
Quando a última cena da minha vida passou
Diante de nós, olhei para trás, para as pegadas
Na areia e notei que muitas vezes, no caminho da
Minha vida havia apenas um par de pegadas na areia.
Notei também, que isso aconteceu nos momentos
Mais difíceis e angustiantes do meu viver.
Isso entristeceu-me deveras, e perguntei
Então ao Senhor.
"- Senhor, Tu me disseste que, uma vez
que eu resolvi seguir-Te, Tu andarias sempre
comigo, todo o caminho. Contudo, notei que
durante as maiores atribulações do meu viver
havia na areia dos caminhos da vida,
apenas um par de pegadas. Não compreendo
porque nas horas em que mais necessitava de Ti,
Tu me deixaste sozinho."
O Senhor me respondeu:
"- Meu querido filho. Eu te amo e
jamais te deixaria nas horas de provação
e sofrimento.
Quando viste na areia, apenas um par
de pegadas, foi exactamente aí que nos braços te carreguei."

Força!
Conte com a minha oração!
Um beijo
Anita