quarta-feira, 25 de março de 2009




Cinquenta e dois minutos...






(Eu, á uns bons anos atrás, numa espera...algures)



Treze e trinta e oito da tarde. Não está calor mas guardo o casaco na mala. Já estou quase a enfiar-me na entrada do metro, aquela boca sempre pronta a engolir-nos, nunca exausta ou hesitante.
Não percebo sequer como decido. Mas sei que treze e cinquenta estou antes a descer a avenida que vai de Telheiras e que me leva ao campo grande, num passo estranhamente calmo (especialmente para mim), decidida a chegar lá pelo meu pé e não de metro.Quero Luz, gente, céu e não luzes artificiais debaixo do chão.
É o som que levo nos ouvidos a tocar que abafa o ruído dos carros que, ordeiramente, formam fileiras antes de todos os semáforos por onde passo.
Não sei sequer porque regresso a este álbum hoje, mas nem sequer me ocorreu que podia ouvir outra coisa.É aquilo que me faz estar mais comigo, mais dentro.Faz-me lembrar o Verão passado, um momento específico do Verão em que, sentada sobre as planicies alentejanas, penso que podia controlar alguma coisa perante tal quietude. Nesse mesmo dia, descubro que não há nada que consiga evitar e espalho-me ao comprido.
A vida desarma, mas o segredo é nunca desistir.
Quatorze horas da tarde. Avanço mais rápida, subindo por fim as escadas do metro e cruzando-me com os yuppies que as portas à volta parecem cuspir em grupos de três.
É isto que queres ser, pergunto-me, um par de pernas preocupado com o próximo corte de cabelo, com o stock de base que teima em nunca chegar e com as próximas férias num sítio onde possa ser vista?NÃO.Ando distante de tudo isso.Ando mergulhada na essência das coisas e das pessoas...no sumo que daí vem e provo.
E, se este fosse um outro dia, eu diria quem sabe que sim, que se lixasse o amor e uma cabana, que limparia uma cabeça perdida para as fantasias, que sacrificaria a minha paz de espírito pela paz do meu bolso.Mas não consigo, a paz que adevém de amar e querer amar o resto da vida assim, desinteressadamente, é uma paz sem igual, que me enche o peito de ar e me esboça um sorriso no rosto e na alma.
A conversa da noite anterior com a Alexandra, que está do outro lado do mundo, mas que continua a ser como um farol, volta a fazer eco em mim, e sim, preciso ouvir, parar e namorar mais com Deus, olhar para ele perdida no tempo e não me preocupar com aquilo que alguém avalia sobre mim.Mas perceber o que ele quer para mim.
Mas reparo, que são todos mais ou menos felizes assim, yuppies e eu, nestes tunéis de gente ou em qualquer outro local da City Lisboeta.
Quatorze e dez da tarde. Perco a conta às mensagens que já trocámos hoje e aproveito a pausa na espera do comboio para lhe responder mais uma vez e ficar sem saldo.Para reler.
Ele faz-me pensar que uma relação poderia subsistir apenas com palavras: uma pontuação cuidada, o estilo sóbrio misturado com a subtileza com que ambos aprendemos a viver, histórias que cabem em cento e sessenta caracteres.
Sei que está na hora de outro alguém voltar ao local onde pertence, sem mim, e sei que nos estamos a despedir agora.Uma despedida lenta e ao sabor dos dias...que vai derretendo na boca, como um rebuçado que já não adoça mas também não amarga.Apenas derrete.
E sei ainda sobre outro alguém, que estamos condenados a ser apenas isto, duas pessoas que gostam muito uma da outra, porque sim, que se podiam ter cruzado não fosse esta pessoa aqui ser um poço, um amontoado de incertezas e feridas que custam o Mundo a fechar. Mas o conforto de saber que ele está sempre ali, sempre à distância da minha mão ou da vibração do meu telefone é desarmante. É como se, esperando e conhecendo o nosso ritmo, pudéssemos atravessar os dois um jardim, uma cidade, um rio, uma ponte, meio descontentes com o que temos.Mas felizes por "nos termos".E ao mesmo ritmo e isso, é tão dificil de encontrar.

Quatorze e trinta da tarde. Estou a chegar a casa, a momentos de saber que almoço sozinha, mas hoje almoço cedo para o normal. Ainda teimo em abrir e deixar as janelas abertas para o sol me fazer companhia até aquecer o que quer que seja.
Estamos na Primavera e eu sinto-me a acordar de um sono invernoso.Talvez o gelo esteja mesmo a derreter.
Alguém que me arrebate deste sofá, se faz favor. Ou que me arrebate neste sofá. Ou que venha comigo a pé para casa desde o trabalho. Sem chatices profissionais. Só os dois,mão na mão, a fazer pouco de quem vai enlatado no autocarro em plena hora de ponta.
O resto é conversa, prometo.

6 comentários:

Unknown disse...

Prima Rita...
O encontro inesperado de ontem foi muito bom. É sempre bom ter-te por perto, mesmo sabendo que as distâncias não fazem encurtar as grandes amizades!
Estou contigo,
Beijos

O primo Ramalho!

Anónimo disse...

Olá querida Amiga! Bom dia! Que bom que foi rever-te e escutar-te novamente! E passear por Lisboa contigo! Já não falávamos desde Sábado... É claro que te trago sempre no meu coração, mas ele teima em não me falar muito sobre ti. Diz-me e vai-me dizendo apenas o essencial...: a pessoa maravilhosa que tu és! E "só" isso me basta para continuar com estas deliciosas saudades tuas... Mas tem cuidado com quem convidas para o TEU sofá!... Anda para aí gente... Estou a brincar! Aquele abraço Amigo... Tudo de bom! ***

lucie disse...

No meio do barulho da aula em que me encontro, as tuas palavras silenciaram-os e eu pude escutar que o meu coração pede é um silêncio que me fale e me guie.

um beijinho Rita*

Peregrina disse...

Obrigado por este momento de paz!
Bjs
Anita

Anónimo disse...

Just for now... a smile of yours! :)

Anónimo disse...

Bonito e profundo!

Em frente? sim! Andar para o lado e dar um passo atrás também é caminhar. Parar é necessário. Amar, é vida!

Abraço, do outro lado do atlântico, no pacífico.