domingo, 18 de janeiro de 2009



Lições...



















Do fim de semana, ficam-me algumas lições importantes, que não posso deixar de partilhar.
Fazem de tal forma eco dentro de mim, e anseiam por sair.










Este fim de semana, fui até ao Porto.
Antes de sair para apanhar o intercidades, o telefone toca.Do outro lado, a triste notícia vinha de uma voz amiga, daquela minha casa, de nome IPO.
O Elisangelo, tinha deixado este mundo e todo o sofrimento que passou estes 5 anos.
Sofrimento que eu acompanhei, que temi.
A minha alma esfriou.
Conhecemo-nos, lá mesmo, nessa casa, onde me pus de novo em pé, para a vida.
Ele natural de cabo verde de sorriso timido, mas maroto, partilhou comigo um ano de luta.
Tinhamos exactamente o mesmo tipo de Tumor, no mesmo local perna esquerda.
Começámos no mesmo dia os tratamentos, tinhamos a mesma médica, fomos operados no mesmo dia, passamos juntos os aniversários, um natal, uma passagem de ano, e inúmeros internamentos, gastámos horas na sala a conversar e fomos companheiros um para o outro naquele mundo dos carecas...ele de chocolate eu de baunilha.
Riamos, mas também acontecia chorarmos...nas noites longe de casa.Ele sempre longe de casa.
No dia da operação, fomos no mesmo elevador para o bloco operatório, e desejámos sorte um ao outro, com a maior força do mundo...e ali estivemos em salas paralelas a ser operados.Lado a lado.Fomos objecto de estudo, para a faculdade de medicina.
A ele amputaram-lhe a perna.A mim não.
Quando saí,ainda meio anestesiada, lembro-me de o ver no recobro a dormir.Passado uns dias, fui vê-lo ao quarto e ele delirava com as dores e dizia ainda sentir a perna, eu apertei-lhe a mão,só.
O tempo passou e companheiros também na fisioterapia, era uma festa.A prótese dele inteira a minha interna.
Houve corridas de cadeira de rodas, nos corredores, com uma repreensão da enfermeira chefe,toda a gente nos conhecia... houve até um dia em que dormimos no mesmo quarto, a umas 4 camas de distância, separados por cortinas, pois o serviço estava cheio, e nunca se misturavam rapazes e raparigas.Só sei que naquela noite, não nos calámos, de uma cama para a outra...
Ele foi o meu grande irmão ali dentro,o irmão de luta, o irmão de pequenas vitórias...que não perdeu o sorriso e me ajudou a manter o meu.
Já lá vão 5 anos, e eu estou bem, nunca mais tive nada e espero assim continuar.
Ele teve 5 anos de continuo sofrimento, as coisas com ele estavam já muito avançadas, pois em Cabo verde, não detectaram as coisas a tempo, por falta de meios.
No sábado, passou a iluminar o céu que tantas vezes olho e comtemplo.
Descansa meu irmão, Elisangelo e olha por mim.
Continuas vivo, na memória de todos os que cuidaram de nós.
Na minha sempre.









Entretanto, a ida ao Porto, que tinha uma razão, tornou-se ainda mais válida e forte.
Ia para a festa surpresa do aniversário do Paulinho da Trofa, que está a passar pelo mesmo.
Já foi operado, já acabou os tratamentos.Está bem e recomenda-se.
Enchi-me de força e parti eu, rumo á Trofa, para celebrar com ele a vida, para lhe dizer, é possivel, para admirar mais uma vez a sua alegria e vontade.
E vê-lo feliz e a recuperar, foi em parte um consolo para a notícia recebida antes da sair de casa.
O rosto, um pouco alterado desde o verão, parecido ao meu, na altura.Um pouco mais gordinho, mas o olhar, ah o olhar o mesmo, o sorriso, as piadas...sempre.
Uma casa cheia de gente, para o receber e acarinhar.Gente de perto e de longe...a família da SEM, do verão, em parte reunida, abraços e reencontros esperados e que momento perfeito para isso.A tagarelice com a Zélia, que saudades que eu tinha, e o acolhimento em casa do Tiago e da Sara...
A luz acendeu-se por fim e ele ficou estupefacto, sem reacção.
Estava radiante e a transbordar vida.
Ele uma promessa para o futuro, que ainda vai ajudar muita gente, como enfermeiro que será.
Que bom foi sentir, este acolhimento.Eu que não conhecia a Trofa, e vim de lá, fã das pessoas, da pronúncia, (das miniaturas), da alegria.
E graças á Marta, a namorada, este foi um momento único e que o vai marcar para sempre, saber que estamos com ele, sentir isso, confirmar.Ela foi incansável.Deu provas de um amor, que dá gosto ver, que não se deixa demover, mas cada vez se fortalece mais.Ali firme e constante.
Um grande exemplo.Uma grande lição.

Foi um fim de semana de correria para apanhar comboios,de muitas lições, por aquilo que aconteceu e até pelo que não aconteceu, de chuva e cinzento, mas como eu costumo dizer, a cor dos dias está em nós e naquilo que ousamos pintar!
E regressei a casa, com um arco íris, dentro.
Podiam faltar-lhe 2 cores, mas ainda sobravam 5, embrulhadas em Esperança.










E foi com elas, que encostei a cabeça na janela do comboio, ouvi a chuva e adormeci.

2 comentários:

Anawîm disse...

Lições...
ui... são mesmo!!!...
Olha... se não te importares vou linkar-te lá no meu "cantinho". Gostei muito do jeito tão espontâneo, tão aberto com que te partilhas.
Recebe um abraço meu.

Anónimo disse...

Ritinhaaaaaaaaaaa!

Eu fui contigo no comboio pra lisbon, adorei partilhar este fim de semana contigo...as nossas conversas...enfim...esta tudo gravado ca dentro e só nós o sabemos!

bjs zélia