sábado, 6 de setembro de 2008

A REALIDADE PARA LÁ DOS MUROS




Assumar (Monforte - Alentejo)




Centro de Recuperação de Menores de Assumar – Congregação de Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus




O relato de alguém:




«A Congregação de Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus foi fundada em 31 de Maio de 1881, em Ciempozuelos- Madrid (Espanha), sob o impulso de S. Bento Menni, Maria Josefa Récio e Maria Angústias Gimenez. A sua origem está vinculada à necessidade de responder a situações de carência assistencial, abandono e exclusão social de pessoas com perturbações psíquicas, especialmente senhoras.
Ao longo de mais de um século a presença da Congregação no mundo tem vindo a expandir-se, encontrando-se hoje presente em 25 países.
Em Portugal a Congregação está presente desde 1894, e realiza a sua missão em 12 estabelecimentos de saúde, dos quais 9 situam-se no Continente e 4 nas Ilhas Autónomas, nomeadamente 2 na Madeira e 2 nos Açores, tendo um total de 2790 camas de internamento. As áreas de intervenção são entre outras: psiquiatria, psicogeriatria, deficiência mental, psicopedagogia, dependências e reabilitação psicossocial.
Desde a sua fundação, a Congregação tem como um dos objectivos prioritários o de proporcionar às pessoas acolhidas nos seus estabelecimentos uma assistência e cuidados de saúde integrais. A sua missão desenvolve-se através da oferta de serviços de saúde para pessoas com perturbações mentais, deficientes físicos e psíquicos e, ocasionalmente, pessoas com outras patologias...»
Quem atravessa o Assumar (uma das Freguesias do Concelho de Monforte), em direcção a Arronches, ali junto à passagem de nível, depara-se com uma construção austera com mais de 60 anos, cercada por um imenso muro. Inicialmente esta construção destinou-se a centro de formação de capatazes/agricultores que tinham como destino as antigas colónias.
Depois de 16 anos encerrada, passou a funcionar ali o Centro de Recuperação de Menores de Assumar da Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus. Para lá dos seus muros há uma realidade que, muitas vezes, a sociedade procura ignorar.
Um conjunto de mais de cinquenta pessoas cujos braços,protegem cerca de 120 utentes, cujas idades oscilam entre os dois anos e meio e os mais de cinquenta.
Sob a batuta da irmã Fernanda Ramos, directora do Centro, coadjuvada por professores, assistente social, educadoras e demais pessoal auxiliar, decorrem os dias dedicados a uma profissão que se transcende numa quase devoção a esta causa tão nobre, cujo lema: Cuidar, Reabilitar, Promover, Humanizar… está patente no relacionamento carinhoso, por vezes até enternecedor como o que presenciámos.




















De toda a parte do país chegam crianças, adolescentes e senhoras para aqui ficarem internadas. Algumas como o último reduto de uma já longa “peregrinação” por outras instituições que as recusaram, paradigma de uma sociedade que, teimosamente, tenta ignorar estes seres dóceis que tiveram a fatalidade de serem diferentes dos demais.
Estas utentes estão distribuídas por sectores, tendo em conta o seu grau de deficiência que pode ser: deficiência severa, grande deficiência e deficiência menor.
Na imensidade das instalações, agora ampliadas, deparamo-nos com salas de refeições onde impera a higiene e o pormenor, aqui não se come em pratos de alumínio, mas sim nos de loiça normal e corrente como em qualquer casa de família. Os quartos alojam duas ou três internas, dispondo de roupeiros e casa de banho, a fazerem inveja a muitas residenciais ou, até mesmo hotéis. As salas de actividades são arejadas e nelas o pessoal desenvolve as terapias adequadas a cada grupo.
Numa outra sala fomos encontrar o Miguel, fisioterapeuta nascido em Monastério (Badajoz) que aqui exerce a sua profissão.
Para tudo isto funcionar normalmente, a instituição conta para além dos seus meios com a ajuda da Câmara Municipal de Monforte e várias entidades, dentro e fora do concelho, a Segurança Social e Fundos Sociais Europeus. Aliás, é o próprio Prof. Daniel Balbino que nos conta da sua presença com um grupo destas jovens em Estrasburgo, quando visitaram o Parlamento Europeu.
Muitas são as actividades que se desenvolvem com as internadas, tais como a dança, os passeios pedestres, excursões, a natação em piscina coberta e aquecida e a equitação, esta através de um protocolo com o Grupo Territorial de Portalegre da Guarda Nacional Republicana que para aqui faz deslocar alguns cavalos.
Há casos de sucesso que extravasam estes muros, como o da Manuela, a frequentar o 6º ano na Escola de Monforte e já com um livro de poemas editado no Ano Internacional da Pessoa Deficiente.
Tentámos como é dever do jornalista não nos emocionarmos com os factos presenciados, para que o relato fosse fidedigno. No entanto, não seríamos coerentes se não disséssemos que vivemos emoções fortes, como assistir ao trabalho do Miguel com uma criança na reabilitação, mas também experimentámos momentos de alegria, como o da pequena Liliana (aqui há duas semanas) nos braços da Professora Isilda Mourato, ou ainda com as danças que executaram para nós. Jamais esqueceremos a alegria estampada naqueles rostos quando viam as suas próprias fotografias… ou o vídeo que para elas fizemos.
Para terminar apenas deixo um pequeno excerto de uma carta escrita por uma mãe de uma destas meninas/mulheres, que sintetiza tudo o que nos foi dado observar: «… Porque aqui não há compaixão, há luta, há esperança, há persistência e há alegria e aceitação. Um pequeno progresso aqui é uma vitória suada… mas tão consoladora como as grandes vitórias…»






É lá que vou estar os próximos dias, para mais uma missão, a última deste verão, volto dia 15...com um coração certamente cheio de histórias para partilhar!


Depois disso, começa um outro caminho...em força!



Até breve...

1 comentário:

Ana disse...

Quero dizer-lhe que este texto está espectacular mesmo, sem sombra de dúvida! Conheço minimamente a instituição e alguns dos seus funcionários e tudo o que diz é realmente verdadeiro! A forma como aborda a informação considero que está maravilhosamente bem feita, com um toque de ternura e de simplicidade, mas com sentimento, pelo menos é que a sua escrita me transmitiu... Mts parabens!
Ass: Ana Fartouce