terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Ouve a Luz...













Conheço cada vez melhor aquilo que de mim se despede e não regressa, e aquilo que nasce algures onde já não estou.
Perdi o controle dos meus pensamentos, tudo se confunde num sem tempo onde a minha lucidez, a minha razão, são outras.
Não é possível roubar à vida um sentimento. É demasiado grande, belo, e tão bem que se vê e pressente.
Só a luminosidade solar é capaz de o devorar, de o apagar.
Será por excesso de luz, que deixarei de ser.

Ainda ontem,colhíamos o rumor do orvalho em vigílias rasgando a noite.
Amanhecia,e as mãos guardavam segredos, sinais que o murmúrio das marés sulcara nos nossos corações.
Ainda ontem, como se as águas estagnassem nas palavras... eram apenas os meus olhos inundados de mágoa que não divisavam o rio, correndo com a mesma beleza de antes.
Ainda hoje, o Olhei, as imagens e as palavras haviam-se dissipado, o Tejo ressurgiu, límpido, cativante. Reconciliámo-nos, eu e ele.
E aquela luz voltou a falar-me como nenhuma outra.
Ouve a luz,como ainda tem o sabor das algas.

Deixei-lhe escrito um recado das nuvens.
Não te esqueças de ouvir a luz.
Não te esqueças que ao sol pôr,também eu morro.Não te esqueças.
Como quem abandona um medo antigo reconstruo o rosto.
Há constelações esquecidas nos meus olhos, que outrora a noite embalou na orla do teu corpo...aí,onde repousam os teus gestos, encerro uma serena despedida.














1 comentário:

André Azevedo disse...

como ignorar?
como passar aqui neste teu cantinho sem reparar na linda e harmoniosa maneira como te relacionas com os elementos e os sentimentos?

cada dia que passo cá é mais uma chamada de atenção para a rara e escondida beleza da vida.

ainda por cima tendo o privilegio de além de conhecer o blog, conhecer também a «blogger»

tens aqui confissões lindas, continua assim.

um grande abraço,

André

(e continua a acreditar em duendes! ;)