Arrumar a casa.
Uma casa é como uma pessoa.
Durante anos acumula toda a informação possível e impossível, levada até ao limite.
Hoje chegou esse limite.
Quando se arruma uma casa não o podemos fazer de forma sentimental.
Arrumar é arrumar, de forma decidida, sem arranjar subterfúgios ou qualquer outro tipo de truques, evitando assim que essa tarefa não fique condenada ao insucesso.
O que realmente interessa é para se guardar com todo o cuidado, enquanto que o restante apenas faz o papel de agente nocivo, a chamada pedra na engrenagem.
As grandes mudanças fazem-se assim, eliminando o que trava o movimento.
Quando se arruma uma casa também se arruma a nossa própria vida.
Passamos toda uma vida a encafuar episódios dentro de gavetas mentais, esconderijos, que embora mantenham fechado o que lá guardamos, acabam sempre por se abrir quando a eles recorremos para guardar mais e mais e mais...
Pela 10000000 vez na minha vida, arrumei uma casa de alto a baixo.(Ou o pequeno-grande mundo do meu quarto)
Pela 10000000 vez tive dúvidas sobre o que guardar, eliminar, ou passar para a mão de outro alguém que lhe dê o devido valor.
Quando se arruma uma casa, interrompemos para recordar o que os objectos, as cartas, as fotografias e outros demais seres inanimados (será?) nos mostram sobre a nossa vida, o que foi ou o que ainda é.
Apanhei-me várias vezes com um sorriso nos lábios...leve, mas feliz, ou poucas vezes com um azedo na boca, de coisas que não queria que tivessem acontecido, mas não tive como evitar, porque simplesmente não as escolhi.Mas aceitei-as, lutei contra elas e venci.Não deixam no entanto, de fazer sombra e fazer-me sentir o amargo que foi, quando lhes abro a gaveta e deixo entrar a luz clara do meu dia de hoje,feliz.
O que sentimos depois dessa arrumação feita é bastante gratificante, parece que finalmente organizámos tudo e que agora sim, estamos preparados para recomeçar...ou de forma mais leve continuar.
Parece que o espaço é outro...e não o mesmo de sempre.Mudam-se coisas de lugar, dá-se mais relevância a umas do que a outras.
Não sei se fiz as escolhas certas, não sei se deitei fora ou guardei o que devia, só sei que arrumei a casa.
E porque sei, que daqui a breves dias, quando entrar por esta porta, não serei a mesma...nem o meu mundo será o mesmo.
1 comentário:
Encontrei você ao acaso, num susto, como olhos da alma, como soletrei para mim e te achei agora. Estranho como o mundo, perdido como espaços que ainda não conhecemos. Obrigado por existir. luciodiasfilho@gmail.com
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