sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Minutos de Liberdade...








(Esta luz e este mar, neste local contigo, vamos voltar...verás!)





Entro apressada no Hospital. Por estes dias tem sido caminho de tantos fins de tarde.

Entro no elevador aquele cheiro que até me é familiar, entra-me pelo corpo e pela alma.
Chego ao quarto e tu estás a tricotar...um longo cachecol, quentinho e de cores Outonais, daqueles lindos que sabes tão bem fazer, uma tentativa de matar as horas que parecem não querer passar...ali, onde dias parecem anos.
Sorrio-te...
Sorris...
Sento-me ao teu redor, oiço-te.Tenho todo o tempo do mundo para ti, até que desça a noite.
Falas-me do cansaço de se estar sempre ali e dali não sair, da dúvida sobre aquilo que será...mas que as piores hipóteses estão afastadas porém.
Respiro por dentro de alívio.
Senti que estavas a sentir-te aprisionada, num quarto sem luz, apenas onde há idosos que estão mal, bem pior que tu.
Num rasgo de luz, levanto-me decidida a pedir á enfermeira que nos deixe passear lá fora, por alguns minutos, escassos que sejam...para que possas respirar o ar da noite que já caiu...esticar as pernas e ver gente...ouvir barulho exterior, sentir o mundo.
Pelo corredor penso, que quando estava internada por tempo longos, 15 dias ou um mês, pedia sempre que me deixassem por 15 minutos passear nos jardins, e prometia sempre que voltava...também não tinha outro remédio.
E sentia-me muito melhor quando regressava, com cheiro a rua, a pessoas, a cafés...com os músculos esticados de uma inércia involuntária, mas precisa, misturava-me na multidão do hospital e passava despercebida, porque tal como tu, nunca vestia pijama...mas sempre um fato de treino e ténis, o que me fazia sentir mais livre e menos doente.
Mas tu não estás doente, estás numa espera, para resolver algo simples...tenho a certeza.

E foi a pensar nisto que enchi o peito de ar e entrei na sala da enfermeira, e lhe pedi que nos deixasse ir respirar, afastando a hipótese de fuga...e que te traria logo após o jantar.
Jantaste na sala, rapidamente e agasalhaste-te, as noites começam a ser frias...
Lá vamos, percorremos outros corredores que não sonhavas existir ali tão perto de ti, pois ás vezes parece que nada existe para além daquele quarto exíguo.
Descemos e por fim o ar frio da rua...caminhamos calmamente nas traseiras do hospital, cenário possível...muitas janelas iluminadas erguem-se acesas.
Muita gente se movimenta lá dentro, lutando pela vida.
De cada janela se solta um pensamento e um desejo de regressar á vida e a casa.
Eu recolho esses pensamentos soltos que sei que existem e entrego-os com a mesma vontade...de que se irão realizar em breve...
Caminhamos mais um pouco e encontramos a tuna do hospital, entramos e assistimos ao ensaio, há vida no palco, há música...há alegria, e penso para comigo que bom ter encontrado aquela tuna, para ti.Penso que só pode ter sido para ti.Eu e a minha maia de acreditar em sinais...
Os 20 minutos passam a correr...e temos que subir.
Dissemos que ás 20h estaríamos lá...
Aqueles 20 minutos souberam-me a mim a uma eternidade, contigo.E vinhas com outro olhar e sorriso.
Deixo-te no quarto, desejo-te uma boa noite, dou-te aquele abraço e saio...contente.
Prometendo chegar mais cedo amanhã, e com sol, para andarmos mais, mas desta vez na relva, está bem?


Até logo...
=)


Sem comentários: