segunda-feira, 15 de outubro de 2007



Domingo sabe de cor, o que vai ser

...2a feira!












7h00-Manhã...
Espreito como habitual pela janela da cozinha...a rua.
O céu está cinzento, mas não ameaça chover.

Ainda assim, visto-me de sol...e percorro no ritmo que quero, as ruas.




8h00-Entro no comboio, há gente tão diferente, parecemos mercadoria a ser levada em massa para não sei onde, todos encostados uns aos outros ( a parte que me tira do sério, ser arrancada á cama e aos sonhos, para manter algum contacto fisíco, por pouco que seja com perfeitos desconhecidos)...é uma luta a vida, não se pode parar, e essa luta implica tudo isto.






8h15- Berçário, abro a porta, acendo o rádio, como todos os dias, falam-me de trânsito, de acidentes, de politica, de atentados...e coisas boas?



Onde estão elas, será que noticias, são apenas acontecimentos trágicos?



Falem-me de vidas, falem-me de nascimentos, do que muitos dão todos os dias uns pelos outros...falem-me de verde e de liberdade.Inundem-me pela manhã com algo que me desponte sorrisos...e me contagie para o resto do dia.



Ainda assim continuo vestida de sol...por dentro e por fora.



Teimo em prender-me a essa luz.Que me alimenta, que me move...






8h30 - Chega a Catita, sorri ao ver-me e eu ainda mais...

Não passou bem a noite, não dormiu, vomitou, os dentes a nascer...precisa de colo, e mimo.

Mais uma recomendação da mãe...e pouco depois adormece no meu colo.
Ali estou eu, com uma vida tão preciosa nos braços...
Deixo-a no berço...e deixo-me ficar a olhar para ela.









11h- Chegaram todos os duendes do Palatium, e a Ivone também...

Estou estranhamente calma, ou á procura dessa calma...pressentindo os tempos que se avizinham.
Apercebo-me de cada movimento, de cada hora que passa, de cada rosto, de cada característica dos meus meninos, dos próprios pais, que os deixam lá todos os dias, e me deixam perceber se tudo está bem ou muito mal...este ano que passou, criou-se ali uma relação próxima com todos eles...fazemos parte da vida uns dos outros, inevitávelmente.

Olho cada recanto, e cada sala, e revejo como sou feliz ali, como não são apenas eles que crescem, mas eu também.

Brincamos até nos cansarmos...dançamos as músicas alegres que escolhemos, e descubro no meio disso que a Maria já anda...começou ali mesmo, á minha frente, passos desalinhados, trémulos, e inseguros, mas seguidos, e repentinos...
São aquelas pernas e aqueles passos que a vão levar onde mais desejar...e que se vão repetir muitas vezes...vezes sem conta na sua vida.




12h - Hora de ponta...ou seja, todos almoçam e fazem birra do sono...



13h - Todos dormem profundamente...e há silêncio, que me permite pensar...mais profundamente em tanto.

Sento-me no cadeirão do Quarto, que me permite ver todos os berços...e penso que vou ter muitas saudades, desta rotina, que nunca o é, porque eles não deixam...e todos os dias há uma nova cor, uma nova palavra, um novo gesto, e sinto-me sempre viva...

Saudades, porque tenho de parar, porque as aulas chamam...e é agora o momento de ir.

Mesmo que seja temporário...há sempre algo deles que eu vou perder...
Porque voltarei aos meus meninos em breve...
Porque quero continuar a fazer parte das suas vidas, e ter a certeza que vão para o mundo a saber ver tudo com olhos de verdade, mas olhos que sabem ver fantasia...e sonhar!

Olhos que dão, sem ser preciso falar...




17H- Hora de sair...destino Lisboa-Estrela.



Hoje não há aulas, mas preciso de ir á bilblioteca...requesitar livros.
Aproveito e também recebo o sol, que só espreitou ao fim da tarde, embora eu me tivesse vestido com ele, desde manhã cedo...ele é ele.



19h- Misturo-me na multidão que regressa a casa, de novo no formato sardinha em lata...saio antes da minha paragem, só para caminhar um pouco a pé e respirar...mesmo que seja em pleno centro de Lisboa, (eu andar a pé!!!Surpreendi-me, hoje.)



20h- Chego á Amadora essa cidade de má fama, onde pessoas pacatas e lutadoras procuram chegar cedo a casa...

No caminho de casa...passo na casa rey e compro um pão de passas com nozes, tenho saudades de sentir este sabor.

Subo a rua e lá está a vizinha de sempre a passear a sua companhia de anos e anos um mini cão...daqueles de meter no bolso, que ainda se atreve a rosnar-me...
Entro em casa, cheira bem...sabe-me a LAR...doce LAR.

Que bom poder sentir isto.
Ponho o pão na mesa, e acendo o computador...gesto mecânico este...
Tomo banho, e visto o Pijama...



20h30- Janto enquanto comentamos as noticias...o mundo.

Sabemos lá nós o que é o mundo, temos uma vaga ideia...porque uma coisa é estar sentado á frente do televisor a comer algo delicioso e quente, sem saber o que é, não ter nada, sem saber o que é fugir de uma guerra ou estar refém...ou sem saber o que sentiu aquela mãe que acabou de dar á luz...porque eu também nunca tive essa experiência...



21H- Entro no quarto e sento-me na secretária...tenho a vaga sensação que hoje apesar de me ter vestido de sol, tou a contestar demasiado...



Olho para o computador...e estão os amigos todos online, 58 pessoas, que ás 21h, estão em frente a um computador...sabe deus a fazer o quê?Tal como eu...

Acendo uma vela.. deixo-me ficar, mas quero cheiro, escolho incenso com cheiro a mar...mas cheira a tudo menos a maresia...enganar os sentidos.

Para quê?Se o mar o posso ter fresco e revolto á minha frente.
Ainda não está tudo...falta a música baixinha, escolho Eva cassidy...melhor não podia ser.
E então sim...estou pronta para libertar as ideias...e os cansaços, sem mais nada que me prenda.




Porque tanto contesto estes dias?...





FOI POR ISSO QUE ME VESTI DE SOL.PORQUE TEIMO EM VESTIRM-ME TODOS OS DIAS DE SOL...



Ter dentro de mim esse sol, é sentir-me livre onde quer que vá...como se estivesse longe de tudo o que se passa á minha volta...mas um longe subtil que me permite estar atenta...e evadir-me por mundos por mim criados, outros por NÓS vividos...

Vestir-me de sol é bom, aquece-me e aquece quem se aproxima...aquece tudo á volta.

E essa é a primeira coisa que procuro assim que abro os olhos para um novo dia...mesmo antes de adormecer, já penso que o quero para a manhã seguinte e assim ele nunca me deixa...e eu nunca o deixo.









Embora ás vezes não o veja no céu...porque as nuvens também têm o seu lugar em mim.







23h15- Vou Publicar este texto...e esperar não contestar tanto amanhã...

1 comentário:

Anónimo disse...

Maninha linda...gosto sempre tanto dos teus textos...precisava dum bocadinho desse sol para aguentar a rotina dos dias cinzentos ou turbulentos que se vivem por aqui no trabalho e que não consigo deixar de levar para a vida...
Sinto-me tão cansada...mas reconforta-me ver que um pedaço de mim está preenchido de sol...Tu! ...sê muito feliz e persegue os teus sonhos, pois quando eles morrem, deixamos de acreditar e podemos cair num marasmo que nos prende os gestos e os passos no caminho... preciso tb de encontrar essa botique onde vendem roupas feitas de bocados de sol para aquecer a alma... mil beijos...tenho muitas saudades...