sábado, 28 de julho de 2007

Só havia de parar para morrer...
















Caminhavam todos naquela direcção. Todos.


Os meus olhos atiraram-se ao horizonte, certos de ir encontrar um motivo, fosse ele feixe de luz ou porto-seguro, mas em vão. Nunca fui de me arrastar atrás da multidão.
Não se avistava nada que justificasse um tal consenso.





Talvez estivesse mais longe, talvez não se avistasse ainda, pensei, lembrando-me de que a terra é redonda, e juntei os meus passos aos de toda a gente.
Só por algum tempo, que não seja muito nem pouco, pensei, e tratei de escutar o coração enquanto caminhava, pois não há outro modo de saber quanto é o tempo certo que temos para as coisas.





Troquei palavras com alguns caminhantes.
A tudo quanto lhes disse me responderam coisas belas.
Quando por fim arrisquei a pergunta olharam-me com expressão entendida, e, de repente, era como se sentissem por mim uma pena profunda, um nadinha cómica.


Alguns deixaram de me falar e afastaram-se, outros apenas mudaram a forma como me ouviam e respondiam, mas percebi que a minha pergunta pusera uma mesma ideia na cabeça de todos, sem que tivessem necessidade de trocar impressões a meu respeito.
Descobrindo isso, sorri para mim só, o que os fez sorrir uns para os outros.





Voltei-me e segui um caminho que não tinha gente. Mas tinha-te a ti, a ti e a ti, tu também,e ela e ele, e eles...todos os que amo e sabem quem são, porque nada fizeram para não o merecer...porque vos escolhi e me escolheram.





Vou sempre para onde o coração me guia, na escolha gradual que for sentindo certa, ignorante do que irei encontrar no final.
Chego sempre a um lugar não premeditado que, meu conhecido ou não, percebo logo que me pertencia já, durante todo o caminho. Já era meu.
Tudo o que digo, se não vier do íntimo quase meu desconhecido, pouco significado tem.
Por belas que as palavras fossem, escapava-lhes a leveza tal era a crueza da verdade que tenho no meu coração - só ele pode falar longamente e nunca mentir.


Pequenina e simples frase: mais credível ela é.


Mais longe andou dos filtros do pensamento, mais perto a senti em mim.Está dita.Cravada no meu desejo.E cumprida.








Mas no horizonte avistei coisas e eram coisas que eu queria atingir com os meus passos. Algumas saíam de dentro de mim e posicionavam-se algures mais adiante.
Outras eram-me exteriores, mas vendo-as, sentia que lhes queria chegar.

Cada vez andava com mais entusiasmo e nunca me cansava, apesar de saber que tinha de ir sozinha e só havia de parar... para morrer.

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