segunda-feira, 18 de junho de 2007

I.P.O...e os doutores palhaços!!!






Eu sempre tinha ouvido falar dos Doutores palhaços, na T.V...

Mas um dia eles apareceram diante de mim, da minha cama, enquanto eu contava os dias, para ir para casa...Fiquei assim, abismada, e pensei logo, que eu não era uma criança...tinha 22 anos e pertencia aos adultos...que faziam eles ali?

Sorriram, saltaram, arrancaram-me um sorriso...largo, verdadeiro, como há muito por aquelas bandas eu não dava...solto!Falamos um pouco, e fiquei a Rita Catita...para eles...

Desde esse dia, ficámos amigos...e vê-los pelos corredores era motivo de festa, sempre a meterem-se com alguém, a fazer partidas e a dar cor a esses dias que lá dentro se tornam sem querer cinzentos demais, para quem como eu, sempre amou a COR!

Dr.Batota e Dr.Nego...que me fizeram sorrir muitas vezes em dias mais tristes...e que num reencontro, voltamos a sorrir, mas desta vez os 3, com a mesma Liberdade...nem queriam acreditar que era eu!!Um abraço a 3...de alegria,de vida!

Tinha esta fotografia guardada desde o inverno passado quando fui a uma consulta...e hoje achei que a devia partilhar!Porque com ela, não partilho apenas uma imagem!Mas uma mensagem, talvez de esperança para alguém...ou apenas para mim.

Eles continuam a levar magia a tanta gente, e são mesmo médicos, para quem não acredita...trabalham meio a brincar!E se trabalham...com amor, daquele que não termina e dá gosto ver.Não curam sempre tudo, não fazem milagres, mas curam a alma, e essa é tão decisiva na nossa vida, arrancam sorrisos e sem eles o que seriamos?

Obrigado...obrigado.

Ontem á hora do jantar, a minha mãe chama-me, uma reportagem na Sic chamou-a atenção!

I.P.O, crianças com Cancro.Sim essa palavra que não me assusta mais, que deixou ser tabu no meu vocabulário...da qual falo com leveza, e orgulho, porque o venci.

Vi a reportagem até ao fim, imóvel...olhando de soslaio para os meus pais, ambos com a lágrima ao canto do olho, afinal são pais...eu já não era nenhuma bébé, mas era e ainda sou a deles...

Custou-me ver crianças tão pequeninas a sofrer...para mim nada era novidade.Mas vi.Até ao fim.Engoli em seco.Dói sempre.Ainda para mais quando trabalho com elas,e sei que sonhos as povoam...

Levantei-me, vim para o quarto, quis escrever não saiu nada de nada.

Dormi mal...não pela reportagem em si, mas fantasmas no sotão talvez, mais melgas que me picaram...os braços todos!( grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr...)

E 2a feira...dia longo, como é hábito.

Hoje a minha cabeça é dona de uma enorme dor de cabeça...que não passou nem a benuron.

Surgiu das muitas coisas que me apercebo...do dia cheio, e quase sem tempo para almoçar...

Surgiu por ter terminado o dia no I.P.O, a visitar a mãe de uma menina minha, que amanhã mesmo vai tirar o peito.

Saí do trabalho, decidida e fui lá, para lhe dizer olhos nos olhos, que as dores de hoje, são já, as alegrias de amanhã.Para lhe dar mais um abraço...e dizer que também eu já senti o que agora sente.Não sei.Fui lá.Foi mais forte que eu.

Ela não me esperava.Ficou surpreendida, estava com uma amiga na sala...a visita terminava ás 20h, mas deixei-me ficar até ás 21h15...sem tempo, nem amanhã!Ignorando qualquer dor de cabeça...cansaço, porque era aquela a minha missão, hoje!

Hoje, passados 3 anos, em que era eu ali, e não ela...hoje que já compreendo o quanto posso fazer pelos outros, com gestos muito simples.Sem ramos de flores e palavras encomendadas...intenções mortas.

Falamos da sua pequenina, que esteve o dia todo meio triste, as crianças sentem...tudo.Falamos do médico que ia operá-la, que passou 3 vezes, e era lindo...LINDO!Rimos de tudo e de nada, dissemos coisas sem nexo, falamos de pijamas, de bolachas e papas, de músicas...e de tanto, tanto, para descomprimir.

Olhei os pavilhões pela janela, reconheci-os, relembrei...reconheci também os cheiros, os sons, os estados de alma...a espera pela vida que queremos tanto que volte e a esperança.Sempre.

Ao despedir-me um abraço forte.Apenas.

Disse-me ainda:" Rita, a minha vida vai mudar para sempre..."

Respondi: " Sim vai...a minha também nunca mais foi a mesma, e ainda bem, porque esta é, A VIDA!Aquela que sempre quis ter e sentir..."

Sorri...e fui embora, no elevador pensava para comigo, que só queria céu azul, sol, relva verde...e rostos que amo.

As marcas que a vida deixa em nós pouco ou nada importam...sem um peito ou sem uma perna, um olho, um braço...o coração bate.

E isso, é tudo o que basta.

Estou exausta...dentro e fora.

Vou dormir.

Até amanhã...

3 comentários:

lucie disse...

basicamente não te conheço, mas nao pude deixar de me emocionar ao ler-te...


gosto de ti vencedora

*um beijo
Lucie

(gostava também eu de com sorrisos preencher a vida dos que precisam...)

NRF disse...

Simplesmente genial!

E como tu venceste, muitos também irão vencer... e havemos de estar cá um dia para ver isso...

Só vou ter pena quando descobrirem a cura de pensar, se ao menos tivesses esperado mais um pouco... só mais um pouco...!

Beijos***

Há gestos que só entendem as pessoas que passam por isso e tu passaste e venceste para mim és uma heroína....

Anónimo disse...

És um espectáculo!!!