Os dias ainda não me sabem bem a realidade.
Há imagens que me estão constantemente a aparecer…onde quer que vá.
Rostos, sons, vozes, avenidas...as cores do eléctrico, as cores dos gorros…das mochilas…o som do autocarro a trabalhar pela noite dentro, enquanto procurava dormir.
Mas sobretudo, a partilha que foram estes dias. O eco dos cânticos de Taizé.
Éramos cerca de 40.000, dos quais 400 Portugueses.
Vinham de todos os cantos do mundo…de longe e de perto, com a mesma vontade e desejo de juntos sentir esse amor imenso que Deus tem por nós.
Encontrei em Zagreb, um povo nada frio…mas sim acolhedor, nada sofrido, mas sim recuperado e pronto para a vida.
Nos mais velhos talvez se note ainda efeitos da guerra, que culminou apenas em 1995.Nota-se-lhes no olhar, na expressão meio desconfiada e séria.
No entanto Zagreb não foi muito atingido pela guerra.
Hoje ali, respira-se alegria, positivismo, gosto pela vida, e por tudo o que ela contém.
Quem desce ao centro da cidade, pode deliciar-se com um bom vinho quente…adocicado, e umas salsichas no pão com um sabor a chouriço e ervas aromáticas, assim do céu.
Toda a gente bebe vinho quente, para além de aquecer, é delicioso.
No centro há mil luzinhas acesas, e muito movimento. E por estes dias então, com Zagreb cheio de jovens de diversas nacionalidades…aquelas praças, ruas e igrejas…estavam a apinhar de gente, em busca de postais, lembranças, pois a kuna, é uma moeda de baixo valor (1 euro = 7 kunas), já não sabia onde havia de gastar kunas…para me livrar delas.
O meio de transporte mais utilizado é o eléctrico, há tantos, surgem de todas as direcções, azuis, amarelos…antigos, mas aquecidos por dentro, o metro não existe, e um ou outro autocarro.
As viagens de eléctrico foram então transformadas em autênticas festas a “bordo”. Quem chegava cantava ou tocava, quem saía, ia a sorrir, e quem entrava logo se juntava a nós e depois, depois éramos muitos, alegres e contentes, por estarmos ali, partilhando de um espírito que se deveria aplicar em todas as atitudes da nossa vida, mas tantas vezes estamos a vivê-lo e não olhamos para o lado. É pena.
Esquecermo-nos de alguém, que dizemos ser nosso amigo é algo tão grave, como não assumir essa amizade…em Milão o ano passado, não o senti em por um momento.
E obrigado a esse grupo fantástico, que me marcou tanto.
Este encontro em Zagreb, senti-me algumas vezes sozinha e perdida no meio da multidão, não era um sentimento que um mapa pudesse resolver…facilmente. Mas um abraço talvez ou um simples caminhar ao meu lado, pacientemente.
Sabia que não estava só…mas que senti, senti.
No entanto, para mim fica sobretudo o acolhimento na paróquia, e a minha família de acolhimento…que me marcou tanto, mais do que em Milão.
Talvez seja um erro comparar, pois cada encontro é diferente. Uns marcam mais nuns aspectos, outros noutros.
Esta Família, era constituída pela Marija de 20 anos, a Josipa de 22, e o Dado de 19,mais a Mama mia, que dava uns abraços assim cheios de amor. Senti-me em casa, um espaço acolhedor, e onde fui muito mas muito feliz, eu e a Rute.
O que não valia chegar a casa á noite, tomar um banho quente, e estar á conversa de pijama, a beber um leite ou um chá, ou ainda uma sopinha de letras…rir de palavras Croatas que não conseguia perceber, muito menos dizer…mas aprendi algumas, e também ensinei.
Das minhas preferidas, ficam, o SUTRA OPROSTITE, que significa, amanhã desculpa lá.
Um simples OLÁ = BOK.
Na minha paróquia estavam cerca de 160 jovens, mas na verdade nunca cheguei a ver todos. Mas os que vi, e pude conhecer eram maravilhosos.
Recordo com muita saudade o grupo que organizou na paróquia, fez-me recordar a organização do encontro em Lisboa, no qual participei e onde tudo começou…eu e Taizé.
Foi a partir daí que decidi que iria a Taizé…e até agora este amor não tem parado de crescer.
Este grupo ficou muito próximo dos Portugueses, não sabemos explicar, houve ali uma empatia…enorme, e até as montanhas nos levaram para brincarmos na neve…deram-nos o melhor que tinham. A felicidade deles ao acolher e a nossa por sermos acolhidos, era a mesma.
E isso traduziu-se em cânticos de gratidão, em gestos nunca iguais de amor ao próximo, que guardo, que me fazem sorrir em silêncio.
Á noite estávamos juntos no bar junto á paróquia, onde se cantava e festejava o ano a ir embora e o novo a chegar. Assim que regressava a casa, passava sempre no bar e sentia que lá estavam os meus amigos á minha espera. E estavam mesmo. Amigos que vivem agora em mim e que vou reencontrar, esta Páscoa, em Taizé ou este verão aqui em Lisboa.
Pelas manhãs com um sorriso, mas muito sono, rezávamos juntos na nossa igreja…alta e luminosa, depois seguíamos para o almoço nos pavilhões, este ano voltou a repetir-se, a festa e a algazarra das filas de espera para a refeição. Era contagiante, se eu começasse a cantar aqui, daí a nada, 500 ou 600 á minha volta cantavam o mesmo e a alegria é daqueles sentimentos que eu vejo que se espalha tão depressa, e que mais gosto de espalhar.
A oração da noite era o reconforto do espírito junto de rostos conhecidos dos caminhos de Taizé. Bastava olhar em redor e as feições eram as mesmas. Então aí o que se multiplicavam eram os abraços, os sorrisos e as saudades morriam ali mesmo.
O frio não se fez sentir em demasia, só á noite no regresso a casa…um vapor constante saia da minha boca.
A festa das nações, aquele ponto alto, em que cada país representado mostra um pouco da sua cultura…e se dança pela noite dentro, este ano brindaram-nos com sangria feita pelos Croatas. Até que não se saíram nada mal.
Muitos episódios haveriam para contar de tão engraçados e aventuras…risadas, reencontros que me massajaram o coração.
Coração que trouxe pendurado ao peito…e dentro dele, o símbolo de Zagreb.
Zagreb, marcou pelo quanto me surpreendeu…e me apanhou desprevenida. Pelo que me deu a conhecer outras pessoas e não ficar dependente das que já conheço e amo.
Voar sempre mais…mesmo que baixinho.
Voar com as asas que se tem…mesmo que o voo nos assuste.
Ai reside o desafio. Desafio que acabo de aceitar como meu.
2 comentários:
Ai as saudades que tenho de Zagreb.
Curiosamente gostei mais deste encontro doq ue o de Milão, mas claro que está que isso não tem a ver com o encontro, ams com os momentos e as pessoas, talvez.
Embora neste também tivesse sentido que estava um pouco sozinha, ppois passei a maior parte do tempo com uma amiga que conheci so na viagem e nao com o grupo de amigos com quem fui,a verdade é que encontrei muito mais o espirito de taize e senti-me feliz.
Felicidade que procurava há algum tempoe que trouxe para Portugal.Por agoravou fazendo questão de a manter, dento de um espirito calmo e de um sorriso suave:P
Um abraço!!!=)
Pucca
Tu és especial. Senti isso desde o primeiro momento em que falámos. E sei só nos poderíamos conhecer e entender tão bem nesta viagem, nesta caminhada, nesta vivência do espírito de Taizé. O que vais fazer para continuar a voar, anjo transbordante de vida?
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