quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Porque a serra encerra em si,este segredo.




Partimos numa viagem,longa,fria e chuvosa.Nada fazia prever o sol que nos foi oferecido pelos dias que se seguiram.
Entre cantorias,expectativas e muitas malas...o destino era, essa aldeia, de nome Casegas, cravada no sopé da montanha,que só de a ver ao longe..nos alegrávamos.Era o chegar a casa,depois de um dia maravilhoso,cheio de alegria,de horizontes que se guardam não só para sempre no olhar,mas sobretudo no coração.
Essa casa que nos acolheu e foi para nós um lar.De facto dei comigo vezes sem conta a olhá-la,a absorver todos os promenores e sentia claramente que cada peça foi ali colocada com carinho,a mais pequenas das peças..e caixinhas.A casa toda ela antiga como a das histórias e contos,a demonstrar que ali houve vida,calor,amor.Esse que também nós fizemos habitar por lá,por cada canto dessa "nossa" casa.



Uma fotografia,um retrato antigo,denunciava aqui e ali, um passado feliz,com história para contar e recontar.
Na casa ouvia-se cada passo,no andar de cima,e houve até quem temesse um fantasma (hihihihi).Havia um sotão e tudo,assim meio escuro,com báus fielmente guardados.O chão de madeira continha em si o peso dos anos e das vidas.
E ao abrir as janelas,uma serra e um verde se estendia todo á nossa frente.

Gostava de o fazer logo pela manhã,mal saia da cama.Abrir a janela de par em par,beber do sol,como sempre faço,e olhar para o verde sem fim,para os pinheiros,para a árvore grande que povoava o quintal,onde os pingos do orvalho pareciam mais cristais reluzentes de cores.
Uma casa que viu a alegria que estes dias nos trouxeram,no seu estado mais puro.Ela tem agora mais história,essa vivida e escrita por nós.
A aldeia povoada de emigrantes,a maioria esteve em França,pessoas vincadas pelo trabalho, de mãos fortes,olhar profundo,mas um coração tão grande e uma vontade de receber e abraçar,de ouvir e contar esses feitos que por lá fizeram.Desde pontes erguidas,ao túnel do metro de Paris,há a mão deles por muitos lados.Há uma vida de sacrificio,mas uma mão cheia de recordações...e agora é tempo para descansar no silêncio calmo da aldeia que os viu nascer,brincar em crianças,partir em jovens e regressar homens.Ali os dias correm tranquilos,e receber alguém é sempre motivo para uma grande festa.
Pelo menos assim senti,em cada casa onde entrei, senti que era familiar,nada me era estranho,nem os sorrisos,nem mesmo as lágrimas.




Pelas paredes as fotografias daqueles que estão longe,mas que se ama.E há sempre um bom vinho caseiro,um frango caseiro,verduras criadas com sabor a serra...que nos deliciaram,pois foram feitos com tanto amor e cuidado.
Há ali sabedoria, uma outra que não vem nos livros,por mais que nos fechemos a estudar.Esta não é para todos.
E se por acaso a vida se tornou mais solitária agora,com a velhice,pela perda dos mais próximos,deita-se uma lágrima é certo,mas logo se esquece a mágoa e se sorri,tendo por companhia o lume que estala, na noite fria.E nós fomos testemunhas de tudo isto que vos conto,e juntos temos também lume,calor,para quem lá nos recebeu,para quem se cruza no nosso caminho,e para nós mesmos.


Um lume que arde ainda e nos consome,e assim será...por muito e muito tempo
Penso no que lá deixei,adivinho-o no meu coração.Tenho saudades de tudo,mas sobretudo de nós,daquilo que os nossos olhos captam quando estamos juntos...daquilo que dispensa palavras.
Que harmonia,que cumplicidade,que dádiva.



Sinto até que o meu natal já aconteceu.Foi ali em Casegas,no meio de vocês e do fumo de uma qualquer chaminé,numa troca de prendas que foi tão feliz e simples.Aconteceu nos flocos de neve que caiam e dispensavam qualquer tipo de enfeites e luzes de natal,a neve branca era luminosa,como não existe nada.
Em 10 minutos, vimos a serra cobrir-se se branco e quase não saiamos de lá,depois de 3 horas de espera na fila.Mas não nos quisemos dentro do carro, vencendo o frio,estrada abaixo,eram bolas de neve,eram os nossos nomes escritos no manto branco,por nós com os pés,eram gargalhadas e até o arco-íris apareceu...tal como a primeira estrela.





E ao chegar a casa,aqueciamo-nos com fogo de amizade.Conhecem?É dos mais quentes que existe,e tão bom de sentir.


Havia então tempo para jogos ou conversas tardias...partidas,e canções.O nosso bengaleiro,estava carregado de casacos,gorros,luvas e chachecóis,que gritavam a vida por aqueles dias,na casa.
Entre cozinhados e pôr a mesa,e com todos a ajudar,num instante se fazia tudo.Banhos de manhã ou á noite,de água semi quente ou gelada,podiamos escolher(que o diga o Luís...).O aquecedor da Renata que caiu do céu,ajudava a a suportar o gelo que se fazia sentir.
Havia sempre um vizinha atenta,na janela que nos dava conselhos,e nos acolhia com o olhar,até nos deu as boas vindas e nos acendeu a lareira antes de chegarmos a casa
Gente boa,com alma grande,que recordo com saudade.
As flores ao entrar no quintal,brancas,que se prendiam em nós.
A lua no céu...grande e tão luminosa,aparecia todas as noites por detrás de um montanha,até ficar alta no céu,a sorrir-me...não esquecendo o pôr do sol no caminho.
Fecho os olhos,encosto-me na cama,abraço-me a mim mesma,vejo tudo claramente como se ainda lá estivesse,cada promenor,cada som,cada cheiro.
O rio onde nos despedimos da serra...onde o sol brilhou,com tanta força e o céu se pintou com o azul mais limpo.Ali sentados atirámos ao rio,pedrinhas,palavras,sentimentos,canções,e tudo isso foi na corrente e por esta hora já é parte de um imenso oceano.A vida é mesmo assim,nada se esquece,tudo passa,nada se repete.Mas tudo é parte desta construção a que chamamos viver,crescer,sentir.
Para mim foi reiventar a serra,dar-lhe mais um de mil sentidos,que possui para mim.
A serra que me viu crescer,e pela qual me apaixonei ao longo da vida,é hoje a minha casa,é hoje a mais bela serra que o mundo tem,e já vi muitas.Mas esta é especial.Amo-a de todo o coração.
Ela sabe tudo de mim.E continua a saber.Ficou a saber ainda mais um pouco,porque eu lhe contei e ela também me perguntou,em cada curva,caminho,riacho...horizonte.


Agora encerra em si este "segredo",mais um,dos muitos que lhe confiei.
Mas este não é só meu,é nosso.
Então já não é segredo...porque vos acabo de contar agora tudo.Todos sabemos e sentimos que esta serra nos fez amar e sorrir,nos deixou a paz,e nos uniu mais a Deus,ao mundo e ao próprio universo.Senti-me em comunhão com ele.







Assim quero permanecer,não apenas por uns dias,mas para toda a minha vida.






Grata ao Duende de luzinha na ponta do nariz,por esta magia...



1 comentário:

Anónimo disse...

Peço desculpa, mas teve que ser....
http://casegas.blogspot.com/2007/01/curiosidade.html