Olhos que vêm,olhos que sentem... flutuam,acariciam, protegem, olhos que se apaixonam, todos os dias...pelo mundo.
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Liberdade.
O meu conceito de liberdade, tem muito que se lhe diga.
Quando nasci a liberdade tinha sido conquistada fazia 12 anos.Era ainda uma menina.
Pouco ou nada entendia, sobre isso.Até que na escola a professora nos pedia para desenhar sobre o 25 de Abril, a mesma data que dava nome á ponte grande, que passava sempre que ia rumo ao meu Alentejo.
Depois haviam sempre os cravos vermelhos.Essa flor que coloria vezes sem conta, que no meu entendimento tinha entupido as armas todas, e por isso é que as pessoas não se mataram todas, nesse dia.
E talvez fosse.A leveza de uma flor a impedir uma bala de sair.
Hoje á distancia de alguns anos, muitos anos, vejo que a Liberdade não me deu trabalho nenhum a ser conquistada, porque alguém o fez por mim.Eu sempre me pude exprimir, votar, sempre pude reunir-me em grupo, sair á rua, cantar todas as músicas, ler todos os livros que me apeteceram.Mas sempre soube dosear muito bem a liberdade que me era dada.Fui aos poucos conquistando o meu espaço social e dentro dos limites que os meus Pais me iam impondo, por acharem que eram os melhores.E não é que resultou?Mesmo que na altura achasse que era uma seca estar em casa ás 00h e não ás 03h, hoje vejo, que foi assim que aprendi o valor da liberdade.Assim e de mil e uma outras formas bonitas.
Nunca senti falta de liberdade.
Mas isso, só me faz sentir ainda mais respeito pelas pessoas que antes de mim, viveram privadas de tudo aquilo que para mim, foi fácil.Recordo todos os que vieram de África das antigas colónias, sem nada.Que tiveram que recomeçar.Nem imagino a dor.Alguns nunca mais voltaram.E sei bem a saudade que África nos deixa.Um amor para a vida.Ouvi muitos testemunhos destes.
Hoje acho aliás, que há liberdade a mais.Exageradamente livres os adolescentes de hoje.
Passam 40 anos, que a liberdade chegou, para ficar, mas tudo o que vejo é exagero e pessoas que saltam as regras...desrespeitam os professores, as leis, o que é aceitável. Não sabem aliás o que fazer com tanta liberdade.
Aqui, neste cantinho á beira mar, somos livres, de certa maneira.Uma democracia disfarçada...mas uma democracia.Nos Países onde passei, vi falta de liberdade pura e dura.As mulheres principalmente são as que possuem menos voz.Em tudo.E há um longo caminho a percorrer no que toca á liberdade.Faltam direitos e meios que as defendam.É uma cultura enraizada e uma mentalidade que não muda de um dia para o outro.
Mas a liberdade não existe para milhares de crianças que também conheci.Porque em vez de estudar, são obrigadas a trabalhar, desde muito cedo.Ou a serem mães e esposas...sem saberem muito bem o que isso significa.Acham aliás, que é mesmo assim a vida.Mas não é.Mulheres que não podem olhar nos olhos dos homens, ou entrar onde eles entram. Não poder mostrar afectos.Mostrar o rosto.
Por isso sempre enchi os meus alunos de sonhos e lhes mostrei o outro lado do mundo...para que um dia quebrem este ciclo.
Quase toda a gente que conheço, está agarrada a 1001 coisas, das quais não se pode desprender.E isso para mim, pode significar estabilidade, mas não liberdade.
É um empréstimo para a casa, é um carro, é um seguro, é contas e mais contas para pagar.Ou alguém.
E eu felizmente ou infelizmente, chego aos 32, completamente livre.Livre seja do que for, que me prenda aqui.Porque entendo que o mundo é a minha casa e sempre me chama.A qualquer hora.E isso é mais forte.
Por esse lado, o meu conceito de liberdade não vai de encontro ao de muitas pessoas, da maioria.Sim serei possivelmente uma ave rara, mas quando meto a mala ás costas e vou, posso simplesmente ir...e se quiser até ficar.Tirar um bilhete só de ida.Viver o inesperado.Dizer plenamente que sim ao Amor que é Amar.
Aceitar um projecto que me apaixone.De coração.Isto é uma escolha, de quem não tem nada a perder.Apenas a ganhar.Vida.Alegria.Liberdade.Porque ainda assim, todos não somos livres em alguma coisa.E esse é um trabalho interior que nunca pode parar.
Claro que podemos sempre pensar, que ao aceitar estas coisas, perco outras.Mas estas foram as que escolhi e que deixo que a vida me ofereça.As que perdi ou vou perder, nem penso nelas.E assim nem chegam a existir.
Que se celebre a liberdade...que se exprima tudo o que nos corre na alma.
E que o mundo avance à luz dessa mesma voz!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário