segunda-feira, 21 de abril de 2014

A nossa Páscoa foi assim em Alcoutim.






























Há experiências, que de tão fortes, não me deixam, imediatamente, escrever sobre elas.Fico como que a digerir.
Ando aqui ás voltas, sabendo no entanto, exactamente, o que quero dizer e o que significou esta Páscoa.
Escrever é uma responsabilidade, sendo social ou não, mudando o mundo ou não, mas para comigo mesma, é.Enorme.De uma forma subtil, vai-me situando, em mim, vai-me dizendo onde estou...como estou.Onde estamos.

Esta Páscoa parti.Troquei o ser servida, pelo servir.Mais uma vez.Quase todas as vezes.
Partir, é sempre palavra de ordem.Seja para perto ou para longe.Partir mexe comigo.Nunca saberei explicar bem, isto.Porque partir, é normalmente sinónimo de servir.E servir é aquilo que me move.

Tenho aprendido a apaixonar-me pela beleza que Alcoutim encerra em si. Não se vê tudo de uma vez...não se sente tudo á primeira.Vai-se descobrindo, com o tempo.
Tal como no amor...é um caminho que se faz e se constrói, serenamente.Se fosse pela paisagem que é deslumbrante,esse amor seria belo, mas vazio.Pois o que está por dentro, torna-se ainda mais belo.As pessoas.As histórias.O que se vai partilhando.

De cada vez que vou, conquisto um pouco mais de Alcoutim, dos outros e de mim mesma.Porque tanto os que visitamos, como nós, vamos mudando.O Idoso que antes era desconfiado, agora abre a porta e vem a correr para nos abraçar.Pergunta-se quando voltaremos?Fica a aguardar ansiosamente.
Isto faz um amor verdadeiro.É uma conquista.

Os que sempre nos viram passar, um dia chamam-nos pelo nome: "olha os jovens do MOVIMENTO AO SERVIÇO DA VIDA!" e abrem também a sua porta.No fundo sabem quem somos.Mostram-nos o seu mundo, ás vezes de uma beleza e profundidade, que nos faz gostar cada vez mais de Alcoutim.

Há tesouros.Tesouros que brilham nos olhos de quem os revela, como umas simples rosas vermelhas, donas de um perfume que inebria.Há objectos do passado, guardados religiosamente, que falam da mãe ou do pai (que Deus tem)...e da forma como a vida era dura.Aprendemos.E eu que falo tanto, tenho aprendido a escutar.Sobretudo a escutar, que a maior parte das vezes é mais importante do que falar.
Há memórias, prontas a ser contadas, e nós escutamos.Dali se retiram lições.
Há dores, angústias, saudades, dificuldades prontas a sair, como flechas.Elas que venham que aguentamos bem.
Há também alegrias e momentos de riso, daquele genuíno.Há de tudo.E da bengala, ao único dente que se tem a abanar, ao cão que perdeu a mãe e espera filhos,tudo é mote para uma conversa.Que importa isso, se no fim, sorrimos?

E ainda nos diz a Tia Arminda: "pronto já podem ir embora, porque já se riram um bocadinho...aqui comigo."
A tia Arminda, profundamente marcada pela vida.Uma vida dura, dura, dura.
Isto é de uma beleza infinita.Afinal quem vai para servir, sai servido e da forma mais bonita que podia haver.
Nós é que vamos para arrancar sorrisos, nós é que temos de os deixar melhores do que encontrámos.Mas são eles, os nossos, idosos, com todo o amor do mundo, que nunca nos deixam sair de junto deles, sem este sentimento, de que trazemos algo.Seja o riso, seja os ensinamentos da vida, a história da igreja abandonada que se avista ao longe,o jogo das pedrinhas de sexta feira santa,ou um saco com laranjas...um raminho de coentros, azeitonas, o sabor do vinho e das favas...e sobretudo a vontade do nosso regresso.

Esta Páscoa teve tudo isso, acompanhado pelas celebrações.
De uma forma muito simples, ás vezes com muito poucas pessoas.Mas talvez por isso, me permitiu de uma forma mais intimista, o encontro com Deus.Longe da confusão.Ali onde reina a paz e a simplicidade.Mil vezes perdida nos meus pensamentos, no horizonte ou nas estradas sem fim, nos lagos que foram ali parar...no vento que me renova.Uma via sacra sentida a cada passo.A cada palavra.Uma alegria pura, na música que se canta, no abraço que se deu, no fogo que se acende.No exemplo missionário de muitos os que ali lutam contra o afastamento das pessoas.

A Páscoa foi...Morrer e Ressuscitar verdadeiramente, com todos os fardos que trazemos dentro.
Confiando.

E sabendo exactamente por onde ir.







1 comentário:

José Romeira disse...

Visitei e gostei até porque deparei com rostos com quem já troquei olhares e vivências no passado, gostei do que li. Fui conduzido aos registos da minha memória, registos da primeira infância e de pessoas que me são próximas, não deixei de recordar cheiros e sítios onde já passei e passo sempre que posso.

José Marques