Há dias em que nada sai certo. O trabalho complica-se, as palavras são mal entendidas, os horários desencontram-se, a bateria do telefone acaba antes de tempo, o trânsito da nossa fila é sempre o mais lento, e até a caixa do supermercado é a única que não avança,Há dias assim, em que tudo o que fazemos vai correr da forma mais complicada possível. Nestes dias só queremos que eles acabem depressa, que possamos enterrar a cabeça no sofá, fechar os olhos e acordar no dia seguinte.
Quando duas pessoas decidem estar juntas estes dias são os mais importantes. Porque superá-los é a maior forma de perceber o valor de estar junto. Aliás, tenho para mim que estes dias são bons. São os bons dias maus. Porquê? Porque quando se ama, vivemos sempre dentro de uma panela de pressão. Não há solução: quando se quer alguém a sério, a vontade de estar sempre junto, o desejo de estar sempre abraçado, gera sempre a pressão da ausência. Mais a pressão dos contextos que atrapalham, mais a pressão da família que sempre complica um pouco, mesmo quando só nos quer bem. E tal como nas panelas de pressão, os dias maus são o pipo que faz sair a pressão. Nestes dias, dizem-se as maiores asneiras, as palavras mais erradas, implicamos só porque sim, rabujamos só porque não. Somos tal e qual um pipo - a apitar, a fumegar, e a rodar desenfreadamente. Mas com a função certa: aliviar a pressão.
Por isso, mesmo que hajam conversas cansativas pelo meio, falhas de comunicação, berros mimados ou olhares entristecidos, quando se chega ao fim de um dia destes e conseguimos despedir com aquele abraço bom, um beijo mais sentido e um amo-te na boca, então foi definitivamente um bom dia mau. Porque sem danos, aliviou-se a pressão, pôs-se cá fora alguns receios, e aquelas questões simples, mas que andavam embrulhadas. Nestes dias, garante-se que se mantêm a pressão na medida certa da receita. E esse será sempre o segredo: saber manter os ingredientes quentes e saborosos, na forma como eles se equilibram. Dá que pensar, como as gerações mais antigas se prepararam bem melhor para gerir esta pressão. Se calhar, porque tinham menos bimbys maricas, e mais panelas pesadas, feias, de apito estridente, mas duras como o aço..
Bom mesmo, é quando quem nos atura, percebe o nosso nível de pressão, e mesmo que discorde das razões, reage. E age. E com um pequeno gesto, uma presença inesperada, um abraço mais demorado, ou um simples olhar, alivia o lume e acalma o apito descontrolado. Obrigado, a ti, por teres feito bom, o dia mau, que já passou...
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