sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Gazi Hospital




Hoje, foi a primeira visita, á escola do Hospital de Gazi.Esperava por este momento desde que cheguei, ou mesmo desde que aceitei o projecto, ainda estava eu na Roménia.
Pelas 10h30, lá entrei, naquele mundo, onde as pessoas se cruzam no hall principal, de forma confusa e os elevadores nunca param de subir e descer.Eu pensei que Santa Maria era um grande hospital e confuso.Estava enganada.Este hospital parece ser gigante.
Subimos ao 10º andar, onde fica a escola e a oncologia pediátrica.Não posso deixar de me arrepiar quando entro num serviço destes.Por imensas razões.
Fomos apresentadas e recebidas pelas professoras que estão há cerca de 8 anos naquela escola.Todos os dias, se as crianças estiverem em condições, vão á escola, para não atrasarem o seu desenvolvimento e poderem aprender, brincar, comunicar.
Depois de conhecer algumas delas, que estavam na sala, percebi que uma delas, estava no seu último dia ali, percebi na sua expressão a felicidade e o alívio.
Depois veio a parte mais dura, em que nos vestimos com batas, máscaras, desinfectamos as mãos e abrem-se as portas de casa quarto, pesadas e fechadas com cuidado.Todo o cuidado é pouco quando as defesas estão em baixo.
Os pais, á beira das suas camas, 2 crianças, 3 ou 4 por quarto.Rapazes e raparigas todos misturados.Bonecos e desenhos espalhados pelos quartos, mas o sentimento é sempre o mesmo.ESPERA.Eles esperam melhores dias, sair dali, brincar, voltarem a ser crianças.O aspecto dos rostos inchados pelos tratamentos, as cabeças sem cabelo, a cor pálida ou a magreza é algo que me é tão familiar e que não muda seja em que sitio do mundo for.
Estive á conversa com alguns deles e decididamente eles vão ser os meus professores de Turco.Ensinaram-me logo algumas palavras.A urgência de saber falar Turco, aumenta, embora quase todos os mais velhos falem inglês básico.
Num dos quartos, uma criança recusou falar, estava com o computador,virou a cara quando nos viu entrar, estava junto da janela.Hoje eu sei o que ela sente e não insisti.Outro dia pode ser que ela venha ter comigo, por sua vontade e aí vai saber muito melhor.Estes dias de aborrecimento, tédio, de não querer ver ninguém são comuns, e devem ser respeitados.
A Melek de 11 anos, ficou a sorrir quando me vim embora, a professora disse-me que lhe fiz bem, porque lhe disse apenas, que um dia eu também já estive assim e venci e que sabia que ela também ia conseguir.É muito importante termos exemplos positivos.Dá-nos força.
Senti-me em casa, escusado será dizer e após quase 7 anos, de ter saído pela porta do Ipo, para não mais voltar, esperemos, consigo enfrentar esta realidade que me pertence de forma tão próxima, com um sorriso.
Planos para a pequena escola temos muitos e a nossa semana fica assim completamente cheia e já com muito em que pensar.Do dormitório posso ver as janelas do hospital, e sei a quem pertencem naquele 10º andar.
Nunca mais será a mesma coisa olhar aquele edifício.E sei que muitas vezes os meus passos me vão conduzir até lá, nem que seja só para os ver.
Lidar com a perda aqui será fundamental...estas professoras confessavam-nos que nos primeiros anos, choravam muito, sempre que perdiam uma criança.Mas agora, com o passar dos anos, entendem que tem que ser assim.E fazem o melhor que podem até que esse dia chegue ou até ao dia em que ficam livres e podem voltar a casa.
Com duas das mães, troquei um abraço longo e sentido.Uma delas com uma menina linda de 2 anos, que me pareceu ser a mais viva de todas elas.Cheia de vida...unhas pintadas de cor de rosa e um sorriso maroto de perder a cabeça.
Saí do hospital, pensativa, longe muito longe de tudo.Num lugar que só eu sei...onde fica.

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