Ontem, foi um dia longo para mim.
O dia amanheceu com um sol envergonhado e depois de uma noite em que me dediquei a por as cartas em dia...o que por si já mexe com uma data de sentimentos, não consegui adormecer antes das 4h30 da manhã.
Ás 9h o despertador tocou, pois ás 10h entramos no hospital, mesmo aqui em frente.
Sendo o dia que era, ainda se juntou o cansaço de não ter descansado.
Mas a verdade é que mal chego ao hospital, tudo passa e entro no mood, energia positiva e nada se passa, tudo fica lá fora e ali dentro só existem eles e os sorrisos que vou arrancando aos poucos.
Ontem não pude estar com a Melek,(que significa Anjo) porque estava com febre e isolada, a febre é muito perigosa em doentes oncológicos e eu sei isso muito bem.
Apenas a fui ver do vidro do corredor onde lhe tirei algumas fotografias, para as quais ela me deu o seu mais belo olhar de anjo e se fez acompanhar dos seus bonecos e companheiros.Mais tarde, antes de me ir embora, fui vê-la e estava a chorar imenso, acompanhada da mãe e de uma médica que a tentava acalmar.Fiquei com vontade daquele abraço e para a semana não estou cá, mas espero que melhore rapidamente.
Conheci outros meninos que não tinha visto até então.Um deles chegou apenas há um mês, tal como eu cheguei á Turquia.Espera-o um longo caminho, de tratamentos.Ele é adorável, mas de poucas falas ou expressões.É observador e perspicaz.
No contacto que vou tendo com as mães, que os acompanham o dia todo, vou percebendo o desgaste ou a esperança que as habitam naquele instante.
Num outro quarto, ensinei os pequeninos a mexer com a minha máquina, e lá andaram a disparar e muito bem.A professora que nos acompanha é fantástica.Há também outros voluntários da Universidade de Gazi, que vão passando 1 ou 2h pelo serviço para passar tempo com estas crianças.Já conhecemos alguns e todos eles me parecem ser pessoas extraodinárias.No fundo temos carta branca, para imaginar, criar, fazer acontecer, seja o que for, para colorir os dias dos pequenitos que sofrem este combate desigual, com o cancro.Eu quero lutar com eles e essa luta é a única que posso fazer.Se pudesse curar, curava, mas acredito que os sorrisos curam muito a alma e por sua vez o corpo também se sente melhor.Disso estou inteiramente convencida.
Não pude deixar de ter no pensamento o meu Pai, a mãe do Nuno, que foi operada ontem também a lutar com o cancro...e todos estes meninos que são os meus anjos aqui.
O dia ficou cinzento e eu tive mesmo que ir ao médico pela hora de almoço, pois estava com um começo de faringite.Fui vista em 10 minutos, e medicada, sem fila de espera...no hospital universitário.
Recomendação: descanso e não apanhar frio.É o que tenho feito e o que é aborrecido, porque não gosto de parar.Mas ás vezes tem que ser.
É muito bom sentir que tanto o meu mentor e coordenador, estão lá quando preciso, ambos me acompanharam ao médico e os medicamentos foram entregues 2h depois no meu dormitório.Esta segurança é importante.
Acabo por ter tempo de responder aos emails em atraso,estudar Turco, de escrever as minhas cartas de natal...para Portugal ou simplesmente de olhar a neve que caia docemente, pela janela, na manhã de hoje.
O frio promete acompanhar-nos na viagem para a Capadócia, 5h de autocarro esta 2a feira.
Espero mesmo ficar melhor e poder participar no training a 100%.
Oxalá...
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